Não há obra mais icônica do ex-prefeito e novamente candidato Rafael Greca (PMN) que os Faróis do Saber, as bibliotecas de bairro que parecem um farol de navegação marítima. Além dos livros, os faróis também são pontos gratuitos de acesso à internet.
Entretanto, o acesso público e gratuito à internet nos Faróis não começou quando Greca era prefeito, como ele disse no primeiro debate realizado por uma emissora de televisão no segundo turno.“Trouxe a internet para Curitiba em 1993”, afirmou o candidato, no embate promovido pela Band TV.
Curitiba, gestão, parque... Veja o resumo das campanhas de Greca e Leprevost em palavras
Leia a matéria completaNa verdade, informa o ICI (Instituto Cidades do Futuro) em seu site, “o ano 2000 marcou o lançamento do projeto Digitando o Futuro, cujo objetivo era a implantação de pontos de acesso à internet em Faróis do Saber, tornando Curitiba a primeira cidade brasileira com rede pública e gratuita de internet”. Naquele ano, Cassio Taniguchi (DEM), sucessor de Greca, se preparava para disputar a reeleição.
Consultada a respeito, a prefeitura confirmou a data, via assessoria de imprensa.
A informação sobre a internet é uma das poucas disponíveis: não é possível saber quanta gente usou os faróis ou quantos livros havia nos acervos à época da gestão Greca. Só há dados no sistema a respeito dos Faróis a partir de 2005, disse a prefeitura em resposta a questões enviadas pelo Livre.jor via Lei de Acesso à Informação (LAI).
“Não há registro de quantos usuários os Faróis receberam, ano a ano, de 1993 a 2004”, respondeu a prefeitura. Tampouco há dados sobre “quantos livros foram comprados, ano a ano, desde 1993”, acrescenta o texto.
A escassez de dados torna algo difícil avaliar a utilização dos espaços. O próprio candidato Greca os menciona apenas uma vez em seu programa de governo: promete “implantar uma brinquedoteca em cada Farol do Saber, com adaptação de espaços, disponibilizando um conjunto de brinquedos e jogos para as crianças desenvolverem atividades de recreação e lazer ativo por meio de brincadeiras e jogos pedagógicos.”
Demanda e acervo
Entre 2005 (primeiro ano da gestão de Beto Richa, do PSDB, na prefeitura) e 2016, os Faróis atenderam a 19.928.364 usuários para acesso à internet, empréstimo e devolução de material e consulta ao acervo.
Em julho de 2016, os 42 Faróis usados como bibliotecas reuniam acervo de 322.563 exemplares, ou cerca de um terço do que possui a Rede Municipal de Bibliotecas Escolares, cujas 194 unidades abarcavam 983.942 volumes.
Tal acervo é formado por compras feitas pela Secretaria Municipal da Educação, pelo fundo rotativo das escolas municipais, por doações do Programa Nacional Biblioteca da Escola do Ministério da Educação e de doações realizadas por pessoas físicas e jurídicas.
Leprevost e Greca na RPC: os erros e contradições dos candidatos
Leia a matéria completaO número inclui 21.832 exemplares de 78 títulos de literatura que a prefeitura informou, via LAI, ter comprado em fins de 2015, por R$ 445, para ampliação ou reposição de acervo das “Bibliotecas Escolares e Faróis do Saber”.
Questionado sobre o custo de manutenção dos Faróis, o município informou apenas que, desde 2015, “existe contrato de revitalização dos Faróis do Saber, no valor de R$ 800 mil para atendimento conforme demanda, não havendo um número determinado de faróis para atendimento.”
O que são
O projeto dos Faróis do Saber foi lançado em 1993, primeiro ano da gestão de Rafael Greca. Têm construção modular, estrutura metálica, em geral com 98 metros quadrados de área e uma torre com 17 metros de altura. A inspiração do projeto vem dos antigos Farol e Biblioteca de Alexandria.
Greca os concebeu, mandou colocá-los na fachada do Palácio 29 de Março, sede da administração municipal – são o motivo de um dos painéis concebidos pela artista Marilia Kranz e executados por Adoaldo Lenzi em 1996, atualmente em restauro – e deles tirou o nome para o instituto que mantém.
No início, chegaram a ter de fato um facho giratório de luz, tal qual um farol marítimo, cuja intenção era dar segurança a moradores das redondezas. “À noite, o Farol do Saber contribuía para a segurança do bairro, lançando sinais luminosos, e forneciam a segurança de um guarda municipal aos moradores do seu redor e derredor”, anota um blog que conta a história da Guarda Municipal de Curitiba. Com o tempo, ele foi abandonado.
A prefeitura informa que há 43 Faróis do Saber na cidade, todos inaugurados entre 1994 e 97. Deles, 42 pertencem atualmente à Rede Municipal de Biblioteca Escolares de Curitiba, dos quais 32 estão em escolas, nove em praças e um é biblioteca temática, o Farol do Saber Gibran Khalil Gibran.
Ainda há o Farol do Saber Miguel de Cervantes, localizado na Praça da Espanha, que passou a se chamar Centro Cultural Miguel de Cervantes a partir de junho de 2016 e é administrado pela Fundação Cultural de Curitiba.
Deixe sua opinião