Um dos itens de destaque na propaganda do deputado estadual e candidato a prefeito Ney Leprevost (PSD) em Curitiba, a linha de ônibus Inter-Hospitais vai mal de saúde. Transportou, em 2015, apenas 82 passageiros diários, em média, informa a Urbs, empresa da prefeitura que administra o sistema de transporte.
É uma queda de 84% ante 1999, ano em que 517 pessoas, em média, tomaram um ônibus da Inter-Hospitais a cada dia – recorde histórico desde a criação da linha, em agosto de 1997. Para efeitos de comparação, o sistema de transporte coletivo de Curitiba perdeu, entre 1999 e 2015, 19% de seus passageiros.
Em resposta a um pedido de informações da vereadora Noemia Rocha (PMDB), datada de julho de 2015, a prefeitura informou que “a linha roda aproximadamente 7.650 km/mês, ao custo de R$ 36.420,28/mês, e arrecada R$ 6.765 (em valores da época), tendo portanto um déÌficit de R$ 29.655,28/mês, mesmo com readequaçõÌes.”
INFOGRÁFICO: veja a redução de passageiros na linha, ano após ano
Apesar da tarifa ter subido no período – de R$ 3,30, passou, em fevereiro passado, a R$ 3,70 –, é razoável supor que a situação permaneça, uma vez que, até setembro, a linha transportou, em média, 81 passageiros por dia em 2016.
Mudanças na saúde pública explicam redução de demanda
A linha Inter-Hospitais foi criada em agosto de 1997. Leprevost, à época vereador em primeiro mandato, a propôs, e a ideia foi encampada pelo então prefeito Cassio Taniguchi (DEM).
“Na implantação, ficou definido como ponto de partida a Rodoferroviária, em função dos pacientes de fora de Curitiba que buscam entidades de Curitiba, e priorizou o atendimento aÌ entidades mais procuradas”, diz o documento enviado à Câmara Municipal.
Os usuários da linha, segundo informou a Urbs, via assessoria de imprensa, “vinham a Curitiba de ônibus que chegavam na Rodoferroviária e tinham dificuldade para se localizar na cidade ou para pagar táxi, uma situação que veio mudando ao longo dos anos”.
“A ideia da linha Inter-Hospitais, na época, fazia sentido. Hoje, os sistemas de saúde municipal melhoraram, e há polos regionais de saúde. Com isso, menos gente precisa vir a Curitiba. Para quem precisa, existe o sistema de transporte sanitário (formado por ônibus, vans e ambulâncias, que transportam doentes de pequenos municípios diretamente para hospitais)”, argumenta o médico patologista Armando Raggio, ex-secretário municipal e estadual da Saúde, atualmente professor da Escola Fiocruz de Governo, em Brasília.
“O transporte coletivo tem que ser justo. Se for para atender uma pessoa, e ela sair satisfeita, já se justifica”, informou a assessoria de Leprevost
Em agosto do ano passado, por exemplo, o governador Beto Richa (PSDB) anunciou que iria liberar R$ 53 milhões para a compra de veículos para o transporte sanitário. Segundo o governo, seria dinheiro suficiente para que prefeituras adquirissem 430 novos veículos, entre vans, carros, ambulâncias e ônibus.
Na resposta à vereadora, a prefeitura reconhece que a linha não é usada, por curitibanos, para acessar os serviços de saúde. “Para acessar essas entidades, os moradores de Curitiba utilizam a Rede Integrada de Transporte em funçãÌo de seus endereços e destinos desejados e nãÌo a linha Inter-Hospitais”, diz o texto.
Situação que a própria Gazeta do Povo registrava já em 2013. “A maioria [dos passageiros] vai pra outros lugares. Poucos vão para o hospital”, dizia o motorista de um dos ônibus (em ).
Leprevost ignora déficit e promete ampliação
Em que pese o que mostram os números, Leprevost diz que irá ampliar a Inter-Hospitais caso seja eleito. “Apesar da linha ser deficitária, cumpre seu papel social. O transporte coletivo tem que ser justo. Se for para atender uma pessoa, e ela sair satisfeita, já se justifica [a existência da linha]”, informou a assessoria do político.
“A linha Interhospitais será ampliada, passando por outros hospitais, como o Erasto Gaertner, que já solicitou isso”, prossegue o texto.
Raio-x da linha
Devido à baixa demanda, apenas um ônibus, da categoria micro especial atende a linha 378, prefixo da Inter-Hospitais. E ele não é mais branco, como quando a linha foi criada, mas amarelo, como os demais convencionais.
Segundo a Urbs, a alteração foi necessária “em função da baixa utilização da linha”. “A manutenção de frota exclusiva encarece o custo, sendo necessária uma operação mais econômica”, informou a empresa.
Operada pela empresa Glória, do consórcio Pontual, a linha passa pelos hospitais Cajuru, Nações, Menino Deus, XV, das Clínicas, N.S.das Graças, Evangélico, Militar, Cruz Vermelha, Vita (Ângelo Sampaio) e Pequeno Príncipe. Funciona diariamente, das 6h10 (primeira saída da Rodoferroviária) às 22h45 (última parada no Evangélico).
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