Uma semana depois de afagar defensores da regulamentação do Uber com o veto a um dos dispositivos da lei que endurece a multa para o transporte de passageiros sem autorização, o prefeito Gustavo Fruet convocou a imprensa para anunciar um pacote de medidas para melhorar o serviço do taxi na cidade.
Essa relação de “afeto” de políticos com a categoria laranja é antiga e não é exclusividade de Curitiba. Neste ano, com a chegada de aplicativos como Uber, Cabify e Will Go ao país, a categoria que já tem um histórico de influência sobre políticos, exercerá uma pressão ainda maior.
Na cerimônia realizada no Palácio 29 de Março no último dia 12 de maio, Fruet, assessores e secretários estavam rodeados de taxistas, que aplaudiam a cada aceno feito à categoria e pressionaram o prefeito depois do seu discurso para que ele tomasse um posicionamento mais firme sobre medidas que impeçam a atuação de motoristas cadastrados ao Uber. O pededista tem dito que é a favor de todo tipo de tecnologia, mas prega respeito aos taxistas.
Em Curitiba, Jairo Marcelino (PSD) e Chico do Uberaba (PMN) levantaram bandeira contra a operação sem regulamentação de aplicativos como o Uber na cidade. Há também políticos históricos no cenário nacional que são ligados aos taxistas. Paulo Maluf, por exemplo, já chegou a um debate eleitoral em um taxi, acompanhado de um sindicalista da categoria.
Agrado
A cerimônia realizada pela Prefeitura de Curitiba no dia 12 de maio deste ano marcou a liberação das faixas exclusivas para tráfego de taxis. Naquela ocasião, Gustavo Fruet também anunciou um cronograma para implantação de ar-condicionado em 100% da frota em até dois anos e de um sistema de pontuação para mensurar a qualidade do serviço, além da ampliação da quantidade de paradas livres nos pontos semi privativos da cidade. O acréscimo será de 97 vagas. Atualmente, a cidade tem 974 vagas para táxis em pontos semi privativos e 1.105 em paradas livres
Segundo dados do Sindicato dos Taxistas do Estado do Paraná (Sinditáxi), são 5.745 taxistas em Curitiba – nessa conta entram os 3 mil donos de placas e seus funcionários. Considerando familiares, seria cerca de um quarto do total de filiados a partidos políticos na cidade. Mas entra nessa conta também o potencial de taxistas influenciarem passageiros durante a viagem.
Presidente da entidade, Abimael Mardegan afirma que a entidade não declara e nem induz nenhum taxista a votar. “Estamos em um país livre. Mas é lógico que quando um candidato promete uma melhoria, para qualquer classe, é natural o apoio [em troca]”, afirmou. De acordo com Mardegan, antes mesmo da abertura oficial da corrida eleitoral, três então pré-candidatos procuraram o sindicato. “Eles nos procuraram pessoalmente. E naturalmente aguardamos os demais. Mas antes, [as promessas] eram de boca. Agora queremos compromisso oficial, no papel, o que ninguém fez por enquanto”.
Parta o cientista político Luiz Domingos Costa, o peso dos taxistas na agenda política tem ligação com supostas concessões de placas a políticos. “Muitos taxistas comentam que há políticos detentores de placas extraoficialmente, fora a participação da categoria em órgãos oficiais de trânsito. Se um candidato vai contra [os taxistas], ele está criando uma briga com a base eleitoral de muitos vereadores”, sustentou Costa, que não acredita em uma tomada de posição mais clara dos postulantes à prefeitura de Curitiba quando o assunto é o Uber.
São Paulo
A disputa pela prefeitura de São Paulo terá três candidatos que os taxistas não querem ver pintados nem de ouro: Luiza Erundina (Psol), Marta Sulicy (PMDB) e o atual prefeito, Fernando Haddad (PT). As ex-petistas enfrentaram protestos das categorias durante suas mandatos na prefeitura. Já Haddad regulamentou a atuação de aplicativos como o Uber depois de a Câmara dos Vereadores protelar votações sobre o assunto. Depois da canetada, o petista afagou taxistas ao autorizar funcionários da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico a acionar táxis preto (veículos mais luxuosos) e também ao anunciar que pretende acabar com a vistoria obrigatória dos taxis. Principal rival dos três, Celso Russomano (PRB) já adiantou que pretende endurecer a vida do Uber na cidade.
“Acredito que os candidatos mais à frente [em pesquisas eleitorais] vão tentar não tomar uma posição muito clara sobre isso porque esse é assunto que não atinge a massa do eleitorado. É um tema da classe média. O debate na questão do transporte será mais sobre os ônibus.”
A Gazeta do Povo procurou por e-mail as assessorias dos oito candidatos à prefeitura de Curitiba para que eles se posicionassem sobre o funcionamento de aplicativos como o Uber na cidade. Dois deles não enviaram suas posições (Afonso Rangel e Rafael Greca) . Veja as respostas dos demais candidatos:
Ademar Pereira (PROS)
Em primeiro lugar, o Uber está há mais de dois anos sendo anunciado sem que a Prefeitura tivesse qualquer atitude. O problema dos taxistas não é o Uber, mas a Urbs, que tornou um modelo de organização em um processo burocrático, desumano e caro para o consumidor. O que Curitiba vai fazer? Ser contra a tecnologia, enquanto a população está a favor? Curitiba precisa rapidamente aproveitar a oportunidade e usar a tecnologia para proteger os seus cidadãos e prestadores de serviços e se tornar novamente referência em mobilidade com tecnologia. Eu, assim que assumir, implantarei um aplicativo, que tornará a nossa organização de táxis, com mais de 3 mil automóveis, em um grande serviço de motorista particular, onde o usuário poderia comprar o direito de usar um dos motoristas particulares disponíveis, diminuindo os automóveis nas ruas e estacionamentos. E regulamentaremos os aplicativos para que paguem impostos nas mesmas condições dos nossos prestadores de serviços.
Afonso Rangel (PRP)
Não dá pra lutar contra o inevitável. O Uber está aí, funciona em grandes cidades do mundo e também tem que existir aqui em Curitiba. O usuário tem o direito de escolher se quer usar o taxi ou o Uber. Mas, a concorrência não pode ser desleal. O taxista, assim como o motorista do Uber precisa trabalhar para sustentar a família. O que tem que ser feito é regularizar o serviço, cobrar o imposto devido, recolher o ISS e aí, deixar rolar. Quem vai decidir se vai de carro laranja ou de carro preto e que tipo de corrida quer fazer é o usuário.
Gustavo Fruet (PDT)
Desde o início da gestão Gustavo Fruet, a Prefeitura vem incentivando o uso de novas tecnologias, como aplicativos, tanto que abriu todo o sistema de informação para os desenvolvedores que desejaram obter o banco de dados. Da mesma forma, também testou novas tecnologias em diversas áreas, principalmente na de trânsito. Porém, o Uber é um assunto que merece outro tipo de atenção. O sistema de táxi em Curitiba já está regulamentado e é preciso ter o respeito aos trabalhadores, ainda mais neste momento de crise econômica, e à história dos taxistas, que durante décadas se dedicam a fazer do sistema de táxi de Curitiba o melhor do Brasil em termos de custo-benefício.
A Prefeitura realizou um processo histórico de concorrência para aumentar a frota de táxi, sempre cuidando da qualidade deste serviço. “O Uber chegou na cidade, de forma irregular, sem conversar com a Prefeitura, e como se fosse um tema prioritário para a cidade. Não é. Precisamos discutir a mobilidade da cidade como um todo. A maioria da população não tem o hábito de usar esse tipo de transporte todo dia: enquanto 2 milhões de pessoas usam o ônibus diariamente, menos de 10 mil pessoas usam o sistema de táxi diariamente”, disse Fruet.
Maria Victoria (PP)
Toda inovação é bem-vinda, desde que haja justiça. Uma regulamentação específica é necessária, para garantir competitividade aos serviços oferecidos. Considero muito positiva a chegada desses aplicativos às cidades médias e grandes, desde que regulamentados, pois o transporte compartilhado ajuda a melhorar a mobilidade, é ecologicamente mais correto e também uma nova forma de gerar empregos.”
Ney Leprevost (PSD)
Uma cidade do porte de Curitiba não pode fugir à realidade tecnológica de aplicativos que incrementam serviços e trazem facilidades e conforto a seus moradores. Entretanto, a entrada em funcionamento desses aplicativos tem que ser amplamente debatida com a população e com os diversos setores envolvidos, para que não traga prejuízo a nenhuma outra classe que trabalha no mesmo segmento, como o caso dos táxis. Utilizo muito o serviço de táxis de Curitiba, gosto do atendimento que recebo e confio muito nos taxistas para transportar minha família. Quanto ao Uber , cabe a Câmara Municipal decidir sobre a regulamentação, de modo que os direitos e obrigações de todos sejam respeitados, gerando assim isonomia para todos trabalharem de forma igualitária, justa e competitiva, beneficiando em primeiro lugar a população .
Requião Filho (PMDB)
Meu entendimento sobre o Uber é o mesmo da Procuradoria Federal. Cabe ao Governo Federal regulamentar isso e o prefeito que disse que vai regulamentar ou mesmo proibir está esperando uma ação do STF contra si. De qualquer forma, minha ideia é diminuir as taxas pagas pelos taxistas para tornar o serviço mais competitivo. Além disso, sugeri a criação de um aplicativo público nos moldes do Uber, mas mais moderno. Essa empresa nos ensinou que é possível prestar um bom serviço, com bom preço e ser bem aceito pela população. De qualquer forma, a mobilidade urbana passa por um sistema mais inteligente de semáforos, mais vias expressas e aplicação de um novo modal da cidade.
Tadeu Veneri (PT)
É preciso promover o diálogo e buscar a regulamentação de aplicativos como o Uber, criando um ambiente de competição livre e não predatória entre taxistas e uberistas. Não podemos permitir que a chegada desses aplicativos resulte um concorrência desleal com quem está no mercado. Ao mesmo tempo, é inverossímil imaginar que se possa impedir de alguma maneira as pessoas de recorrerem a esses aplicativos. Também não se pode permitir que essas tecnologias resultem na formação de monopólios que depois impeçam as pessoas de se apropriarem desse conhecimento.Independentemente do tamanho da cidade, seja ela pequena, média ou grande, é preciso regulamentar os serviços de economia compartilhada onde quer que exista demanda pelo funcionamento deles.
Xênia Mello (PSOL)
O PSOL saúda a chegada do Uber e das novas tecnologias que permitem uma nova relação entre usuários e motoristas, com praticidade e segurança. Porém, a mera aplicação do Uber nos moldes atuais precariza ainda mais o trabalho dos motoristas.
O atual sistema de concessão dos serviços de táxi já está equivocada. O taxista não tem férias, nem 13º salário, nem outros direitos trabalhistas. Os únicos beneficiados são os donos de placas que lucram em cima do trabalho precarizado.
Defendemos a implantação de uma plataforma municipal ou metropolitana nos mesmos moldes do Uber, mas garantindo boas condições de trabalho e os direitos trabalhistas básicos de cada motorista.
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