O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Delúbio Soares e o pecuarista José Carlos Bumlai mantiveram as versões conflitantes sobre o empréstimo de R$ 12 milhões que o pecuarista fez em seu nome junto ao Banco Schain, em 2004. Os dois participaram de acareação nesta segunda-feira (27), comandada pelo juiz Sergio Moro, que centraliza as ações da Operação Lava Jato. Segundo Bumlai, o empréstimo foi, na verdade, para o PT e o pedido teria vindo de Delúbio Soares.
O ex-tesoureiro do PT nega a solicitação. “Eu nunca falei com o doutor Bumlai que o PT precisasse de dinheiro”, disse. Delúbio diz que “não se lembra” de estar na reunião mencionada pelo pecuarista. “No mensalão eu assumi todas as minhas responsabilidades e nesse processo eu quero assumir as minhas responsabilidades. Eu não mandei fazer o empréstimo. Não sabia de R$ 12 milhões”, disse Delúbio, que foi quem pediu a Moro a acareação.
Bumlai rebateu as afirmações do petista. “Lamentavelmente ele esteve na reunião (que definiu o empréstimo). Se nesta reunião ele não estivesse, o empréstimo seria de R$ 6 milhões e não de R$ 12 milhões. Senão como eu ia adivinhar que estava precisando de R$ 6 milhões conforme uma declaração do senhor Marcos Valério em 2012 para comprar um jornal ou coisa parecida? Então ele estava na reunião sim senhor. Lamento.”, disse Bumlai. “Eu não estou mentindo. Estou falando a verdade. Lamento que você não lembre, Delúbio, mas nós estivemos (juntos). Quando eu cheguei na reunião você já estava lá.”
Os procuradores da Lava Jato apontam que metade dos R$ 12 milhões do empréstimo foram para o empresário Ronan Maria Pinto, que é réu no processo. Ronan estaria, segundo os procuradores, extorquindo dirigentes do PT. Os R$ 6 milhões, segundo o Ministério Público Federal (MPF), foram usados por Ronan para a compra do jornal Diário do Grande ABC, que vinha fazendo reportagens ligando o empresário ao assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
A investigação aponta que os outros R$ 6 milhões teriam ido para a campanha no segundo turno de Hélio de Oliveira Santos, o doutor Hélio (PDT), a prefeito de Campinas, em 2004. Doutor Hélio foi eleito. “Eu nunca discuti com o Bumlai nem o Schain este empréstimo. Nunca”, diz Delúbio.
Bumlai disse em depoimento que não conseguiu pagar o empréstimo, mas os procuradores dizem que a dívida teria sido quitada por meio da contrapartida de um contrato da Petrobras com o Grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000. O valor do contrato, assinado em 2009, foi de US$ 1,6 bilhão.
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