A passagem do juiz federal Sergio Moro pelo Congresso Nacional, na manhã desta quinta-feira (4), só não foi mais tumultuada porque as atenções em Brasília estavam divididas. Ao lado da Câmara dos Deputados, onde Moro foi participar de uma audiência destinada a analisar o projeto de lei 4850/2016 – conhecido como as “10 medidas contra a corrupção” –, senadores da comissão do impeachment votavam o parecer que recomenda o julgamento de Dilma Rousseff pelo plenário da Casa.
Moro foi aplaudido, vaiado, elogiado, e alvo de críticas duras de parlamentares do PT que participaram da audiência.
À frente dos julgamentos dos processos da Lava Jato em Curitiba, Moro saiu do gabinete da presidência da Câmara dos Deputados, em direção à sala da audiência, ao lado dos deputados federais Carlos Sampaio (PSDB-SP), ex-líder da bancada tucana e assessor jurídico do PSDB, e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), relator do projeto de lei 4850/2016. Percorreu o trajeto acompanhado também por cinegrafistas, e trocando uma ou outra palavra com os políticos.
Ao entrar na sala da audiência, houve aplausos do grupo ligado ao Ministério Público Federal (MPF), que colheu as assinaturas para a apresentação das “10 medidas contra a corrupção”, e também houve vaias, de um grupo menor.
Ao longo da audiência, os seguranças da Casa – em maior quantidade do que o habitual – proibiram o cartaz da manifestante que protestava de forma silenciosa: “Justiça não pode ser seletiva”, segurava ela. Obrigada a guardar o material na bolsa, a manifestante reclamou dos cartazes vizinhos, em apoio ao projeto de lei em pauta: “Por que o [cartaz] deles pode?”.
Do lado de fora, seguranças também tentavam controlar ânimos. Um grupo com mais de dez pessoas, segurando uma bandeira do Brasil e o livro do jornalista Vladimir Netto sobre a Lava Jato, se irritou ao não conseguir se aproximar do juiz federal, nem mesmo da sala da audiência. “Petista pode entrar, mas a gente não”, esbravejou uma mulher, em referência aos funcionários e parlamentares do PT que participavam da reunião. “Moro tem que tomar cuidado com a carteira. Tem petista na área”, continuou ela.
Dentro da sala da audiência, Moro foi elogiado pela maioria dos políticos presentes. Recebeu até cumprimentos da deputada federal Brunny (PR-MG) pelo aniversário, na última segunda-feira (1º), o que rendeu aplausos de parte da plateia.
Mas também houve críticas pesadas ao magistrado. A primeira e mais dura partiu do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), que alegou viver em tempos “de juiz-celebridade”, de “procurador-celebridade”, “em que o sistema de Justiça ganhou um protagonismo que eu considero indevido e autoritário”.
“Não reconheço em nenhum segmento da sociedade brasileira a propriedade exclusiva do combate à corrupção. Todos nós aqui temos engajamento na luta. Não reconheço em ninguém as características de oráculo e de divindade”, afirmou o parlamentar do Rio de Janeiro a Sergio Moro.
Minutos depois, o magistrado respondeu que é defensor do projeto de lei de modo geral, mas negou uma suposta “pretensão salvacionista”. “Ninguém tem a pretensão de ser o dono da verdade. [As 10 medidas] Não são 10 mandamentos. Procuradores não são profetas, tampouco eu”, disse ele, reforçando que o Legislativo tinha autonomia para debater o texto, mas que acreditava que era preciso dar “alguma resposta à sociedade”. “O projeto de lei recebeu dois milhões de assinaturas. Isso não é trivial”, completou ele.
Outro petista, Paulo Pimenta (RS), também reclamou de “seletividade” na atuação de Moro e ironizou colegas que participaram da audiência e elogiaram o magistrado. “É a mesma seletividade que permite que um deputado que atua para salvar Cunha fale aqui contra a corrupção”, disse ele, que também criticou benefícios a delatores da Lava Jato, que passariam a cumprir penas “em verdadeiros spas”.
Não houve tempo para Moro responder Pimenta, que foi aplaudido intensamente pela manifestante do cartaz recolhido. Sob gritos de “orgulho do Brasil e orgulho do mundo” de uma apoiadora do MPF, Moro saiu por volta do meio dia da sala, pedindo desculpas por não poder ficar mais no local. Um compromisso à noite, em Curitiba, o impedia de permanecer em Brasília. “Mas me coloco totalmente à disposição de vocês”, avisou ele.