A senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva durante seu discurso de filiação no PV: “Não venho mais com a ilusão dos partidos perfeitos”| Foto: Mauricio Lima/AFP

Senadora quer a refundação ética do PV

A senadora Marina Silva (AC) condicionou sua candidatura à Presidência ao que seus aliados chamam de refundação ética do partido e admitiu a possibilidade de confronto com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) numa eventual disputa eleitoral.

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Duas mulheres "verdes"

Minc elogia antecessora, mas destaca ação de Dilma

Agência Estado

Rio de Janeiro - A filiação da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva ao Partido Verde acende a discussão sobre a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo elogiando Marina, sua antecessora, o atual ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (PT), não deixa de comparar sua atuação à frente da pasta com a de sua ex-companheira de partido. "Marina vai qualificar o debate ambiental e exigir que todos os candidatos aprofundem mais a temática do desenvolvimento sustentável. Na verdade, a Marina não é só ecologista, ela tem também uma preocupação social", elogia Minc, para em seguida, criticar: "É bom que se diga que até um ano atrás nós não tínhamos meta, não tínhamos fundo, não tínhamos Plano Amazônia e não tínhamos pacto setorial e hoje nós temos metas, plano, Fundo Amazônia, pacto setorial e vamos ter o menor desmatamento dos últimos 21 anos."

Ele credita vitórias de seu ministério na questão ambiental à atuação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, concorrente da provável candidata Marina. "A ministra Dilma foi fundamental para garantir o Fundo Amazônia dentro do governo", afirma.

Minc prossegue na exaltação às virtudes ambientais de Dilma ao elogiar sua decisão de "colocar no programa habitacional o aquecimento solar em um milhão de casas, o que vai diminuir 820 mil toneladas de CO2 por ano". Foi uma proposta do Ministério do Meio Ambiente acolhida por Dilma.

São Paulo - A senadora Marina Silva (AC) foi recebida em clima de comício pelos novos colegas de sigla. A ex-ministra assinou ontem sua filiação ao PV (Partido Verde). A cerimônia foi realizada durante encontro nacional do partido, numa casa de eventos no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

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A plateia comemorou a filiação de Marina com gritos de "Brasil urgente, Marina presidente". Ao entrar no salão, os membros do partido a aplaudiam em diversos momentos. Um vídeo com trechos da trajetória de Marina foi transmitido no início do evento.

Em discurso, o presidente do partido, José Luiz Penna, afirmou estar honrado com a entrada da ex-ministra na legenda, e disse que a mudança representa "um importante passo na luta pelo meio ambiente".

A senadora é apontada como uma dos principais nomes na disputa pela Presidência da Re_pública, em 2010. Ela, no entanto, ainda não oficializou sua candidatura pelo partido. Ao deixar o PT, Marina afirmou que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ofereceu "condições políticas" para avanços na questão ambiental.

Em discurso na cerimônia, Marina Silva disse enxergar no PV espaço para mostrar que o desenvolvimento sustentável é estratégico para o Brasil e para o planeta. "Está germinando uma nova forma de produzirmos a base material da nossa existência", afirmou.

Marina disse que começou a pensar na proposta de filiação ao PV quando lhe ofereceram uma oportunidade de mudança programática do partido. "Comecei a me expor sobre a possibilidade de saída (do PT)", lembrou. "Muitas pessoas me perguntavam: ‘Por que não permanece no PT para o embate interno?’ Aí eu vi que meu trabalho não era de convencimento, mas de atuar ao lado de quem está convencido daquilo que o mundo inteiro também já está convencido", afirmou, referindo-se ao tema da sustentabilidade.

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A senadora citou a crise financeira internacional para destacar a importância do debate sobre a sustentabilidade. "Existem hoje duas crises, uma é a econômica e outra é uma crise ambiental sem precedentes", afirmou. "A segunda é mais grave. Se não resolvermos a crise ambiental, qualquer saída para a crise econômica será uma falsa saída. Chegamos à era dos limites."

Marina demonstrou não ter mágoas do PT. "Tenho 30 anos de militância dentro do Partido dos Trabalhadores", afirmou. "Com outras pessoas, sonhamos, aprendemos. Sofremos alguns constrangimentos por erros de poucos. Não venho mais com a ilusão do partido perfeito."

Ela comparou sua saída do PT ao convívio familiar, quando um filho deixa a casa dos pais mas não deixa de fazer parte da família. "Estou saindo para fazer uma outra casa, para morar talvez na mesma rua, no mesmo bairro, na mesma vizinhança", afirmou.

Ao analisar sua mudança do PT para o PV, Marina se emocionou. Disse que tinha preparado um discurso, mas percebera que era "um momento de falar com o coração". Para "homenagear" seu passado, citou uma frase de um conto de Guimarães Rosa. "Será que você seria capaz de se esquecer de mim, e, assim mesmo, depois e depois, sem saber, sem querer, continuar gostando? Como é que a gente sabe?"

Chico Mendes

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Entre as pessoas que abonaram a ficha de Marina está Elenira Mendes, filha de Chico Mendes. O líder seringueiro, assassinado no Acre em 1988, mereceu palavras de agradecimento no discurso de Marina.