O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica disse que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) “fez muito mal para a imagem do Brasil”. A declaração foi dada numa entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (27), depois de Mujica fazer uma palestra para 3,5 mil pessoas em Curitiba.
Mujica disse que “a repercussão internacional da discussão [do impeachment] no Parlamento no momento da votação fez mal ao país. O Brasil é um país formidável, não merecia isso”. Segundo ele, que ideologicamente é próximo do PT, “do ponto de vista prática, a impressão é de que é uma discussão política, acima de qualquer outra consideração”.
Na curta coletiva, o ex-presidente e hoje senador, falou sobre a crise das esquerdas latino-americanas – principalmente depois do processo de impeachment no Brasil e da vitória da direita na Argentina. Mujica admitiu uma crise, mas disse que o processo é normal.
“Estar vivo é estar sempre em crise. O que não está em crise é o que morreu. Não acontece nada. Na vida, há contradições, há luta. E neste momento na América Latina algumas conquistas que houve talvez se percam. Outras ficarão em definitivo”, afirmou.
Mujica destacou a redução na pobreza no Brasil durante os últimos anos, classificando o fato de mais de 40 milhões de pessoas saírem da condição de extrema pobreza como “um passo gigante. E afirmou ser comum que conquistas sociais sejam lentas. “Os que lutaram pela jornada de oito horas em 1880 foram mortos. Cinquenta anos depois ninguém mais discutia isso. É sempre assim na luta por direitos”, disse.
O ex-presidente também disse que a polarização precisa ter limites para que não se incorra em ódio. “Não creio que o ódio possa construir nada. Sempre vai haver diferenças entre os brasileiros. Não se pode achar que não vai haver diferenças entre 200 milhões de pessoas. Mas é preciso aprender a conviver com a diferença. Tolerar-se. Aceitar-se. E digo mais, amar-se.”
Questionado sobre qual conselho daria aos eleitores brasileiros para as eleições municipais, Mujica recorreu ao seu discurso contra a mercantilização da política. “A política está desacreditada por conta do dinheiro. Num mundo de mercadorias, tudo vira um negócio. A política vira um caminho para chegar à riqueza. A política é outra coisa. É a carreira da honra, da dignidade”, disse.
Segundo o senador, “os que gostam muito do dinheiro, é preciso pô-los na indústria, no comércio. Mas da política é preciso expulsá-los. O político tem que viver nas condições em que a maioria do povo vive. E não como a minoria aristocrática”. E encerrou dizendo ser “mentira que todo mundo tem preço. Muita gente não tem preço. E são esses que precisamos eleger”.
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