Em depoimento à Polícia Federal na semana passada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que teve duas reuniões com dirigentes da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo em 2003, no Palácio do Planalto, mas negou que tenha tratado de qualquer assunto fora da pauta da audiência. O ex-presidente foi interrogado em um dos oito inquéritos abertos pela Polícia Federal para apurar denúncias feitas pelo lobista Marcos Valério, condenado a 37 anos e cinco meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão.
Em depoimentos à Procuradoria Geral da República e à Polícia Federal no final de 2012 e início do ano passado, quando tentava reduzir a pena fixada para ele no mensalão, Valério fez várias acusações contra Lula e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, entre outros dirigentes do PT. Num dos interrogatórios, Valério disse que no início de 2003 se reuniu com o então ministro José Dirceu no Palácio do Planalto para tratar de um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT e, depois da conversa, teve um rápido encontro com Lula.
Na versão de Valério, Lula teria auxiliado nas negociações com dirigentes da Portugal Telecom. Em resposta às acusações de Valério, o ex-presidente disse à PF que teve duas reuniões com representantes da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo em 2003. As audiências teriam sido solicitadas pela empresa e pelo banco. As duas instituições, que participaram das privatizações no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estariam preocupadas com possíveis mudanças no mercado de telefonia no governo petista.
Lula teria tranquilizado os empresários dizendo, então, que não faria alterações nas regras fixadas pelo antecessor. O ex-presidente explicou ainda que eram assuntos de interesse público e que as duas reuniões tiveram a participação de dois de seus ministros das Comunicações. O primeiro encontro foi acompanhado pelo então ministro Miro Teixeira. O segundo encontro foi testemunhado pelo ministro Eunício Oliveira. Lula prestou depoimento na condição de testemunha e respondeu todas as perguntas do delegado que está à frente das investigações.
O depoimento começou por volta das 15 horas da terça-feira, da semana passada, numa sala da sede da PF. O interrogatório durou aproximadamente uma hora e meia. O ex-presidente chegou e saiu pela garagem do prédio. Procurado pelo GLOBO, o advogado José Gerardo Grossi, que acompanhou o ex-presidente, disse que não houve qualquer embaraço no depoimento do ex-presidente. "Não houve nada demais. Ele (Lula) é um homem de cabeça democrática. Recebe isso (perguntas no interrogatório) com naturalidade", disse Grossi.
Em 2012, depois de condenado no processo do mensalão, Marcos Valério compareceu à Procuradoria Geral da República para prestar novos depoimentos e, a partir daí, vincular o ex-presidente Lula ao mensalão. A iniciativa de Valério foi encarada pelo então procurador-geral Roberto Gurgel como uma tentativa de atrasar a conclusão do mensalão. Àquela altura, o processo já estava chegando à fase das condenações. O caso só foi retomado em 2013 com um novo depoimento de Valério à Polícia Federal.
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