Nos últimos 12 meses, 632 pessoas deixaram o PT no Paraná.| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Depois do crescimento que fez o PT praticamente dobrar de tamanho em pouco mais de uma década, o partido registra pela primeira vez queda no número de filiados. De acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 6.720 pessoas deixaram de ser petistas no Brasil entre junho de 2014 e junho deste ano. Já o PSDB aumentou sua representatividade.

CARREGANDO :)

Diante de 1,58 milhão de alistados, a queda representa apenas 0,42% a menos, mas não deixa de ser uma inversão de tendência. Na série histórica analisada desde outubro de 2002, nunca houve queda do índice até então. Até mesmo após o escândalo do mensalão, iniciado em 2005 e julgado em 2012, o partido continuou a crescer.

Novos petistas têm de passar por curso

O PT mudou o processo de filiação em 2011. Desde então, quem quiser entrar no partido precisa fazer um curso e só depois passa a integrar as estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, o sistema de cadastramento explica a queda no ritmo de processos registrados no tribunal. Ele também alega que o número de pessoas em processo de filiação em todo país, hoje, é muito superior aos dados divulgados.

Desde que a mudança no cadastramento entrou em vigor, o crescimento do número de filiados é mais lento do que costumava ser. Mesmo assim, o secretário afirma que o país passa por um período de criminalização da política e também do PT – e que isso afasta as pessoas de todos os partidos.

Disputa eleitoral

Já começou a preparação para quem mira as eleições municipais do ano que vem. Para Souza, a atual crise econômica do país e o momento conturbado do governo federal não devem afetar as disputas eleitorais de 2016. “O que vai estar em debate são projetos locais. Nós vamos enfrentar um processo eleitoral difícil, mas onde o debate político e a busca de alternativas vão estar colocadas também.”

Com previsão de tentar pelo menos não diminuir o número de chapas de candidatos nas eleições do ano que vem, o PT paranaense foge do pessimismo. “A gente tenta segurar ou convencer o companheiro ou companheira que está saindo de que nós estamos passando por um momento de crise”, afirma o secretário-geral do PT-PR, Francisco Moreno, destacando que novos correligionários também estão se alistando.

Publicidade

Veja o mapa com o número de filiados por partido no Brasil e no Paraná.

Os paranaenses acompanharam o restante do país e são responsáveis por 9,4% das baixas petistas. Nos últimos 12 meses, 632 pessoas com título de eleitor registrado no Paraná deixaram o partido.

Essa não é a primeira vez que a diminuição de filiados ocorre no estado. Por aqui, o PT já teve redução no número de correligionários em 2006, 2009 e 2011.

O cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR, comenta que o PT sempre teve histórico de militância, muito diferente da configuração de outros partidos. Mas, ao longo dos anos, a legenda foi acumulando cargos de poder e se mostrou cada vez mais parecido com as demais siglas.

Publicidade

O cientista político diz acreditar que muitos militantes de esquerda acabaram migrando para outras opções partidárias.

Já o cientista político Malco Camargos, professor da PUCMG, ressalta que a filiação não está relacionada diretamente com preferência partidária. Segundo ele, o alistamento partidário não foca, necessariamente, no eleitorado, mas em potenciais candidatos do partido.

Nesses casos, o número de filiados pode não se reverter em votos nas eleições, mas ajuda a aumentar a presença do partido nas regiões.

Prazo

Daqui a menos de dois meses – na primeira quinzena de outubro – vence o prazo de filiação para quem quiser concorrer nas eleições municipais do ano que vem. Por isso, muitos partidos estão reforçando a busca por filiados que sejam estratégicos para o grupo.

A legislação eleitoral exige que os candidatos tenham pelo menos um ano de filiação partidária antes da disputa eleitoral.

Publicidade

PSDB é o partido que mais cresceu neste ano

Em números absolutos, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) lidera o aumento de filiações no país entre janeiro e junho deste ano. Nesse período, 20.245 brasileiros se juntaram aos tucanos. O segundo partido que mais cresceu foi o PSol, com 13.234 integrantes a mais no mesmo período.

Ainda é cedo para prever como esse aumento vai se refletir no PSDB – tanto nas urnas quanto em novos candidatos. O cientista político Mário Sérgio Lepre argumenta que hoje é muito raro novas filiações que tenham motivação ideológica. “É a legenda que, de repente, dá a oportunidade de poder. Isso vem da estrutura de campanha, do que estão prometendo. Existem filiações ideológicas, principalmente na esquerda, mas é muito difícil. É uma lógica fisiológica”, avalia.

Apesar do crescimento tucano, o cientista político Malco Camargos analisa que o PSDB também está abalado politicamente. Mas ele defende que todos os grandes partidos passam por um mau momento. O PSDB foi procurado para comentar os números, mas não respondeu aos pedidos da reportagem.