A presidente Dilma Rousseff realizou uma reunião extraordinária da coordenação política na manhã desta quinta-feira (10) para debater o rebaixamento do grau de investimento do Brasil. No encontro, orientou seus principais ministros para acelerarem propostas sobre corte emergencial de gastos da máquina pública a serem apresentados o mais rapidamente possível. Em seguida, a equipe política começará a negociar com o Congresso Nacional o envio de novas fontes de receita.
Além de cortes de funcionários e ministérios, o governo fará um pente fino em todos os programas sociais e benefícios concedidos para eliminar fraudes e desperdícios. Quanto aos novos impostos que serão propostos, a ideia do governo é que sejam transitórios.
Na reunião convocada por Dilma nesta quinta, ela ordenou que haja unidade de discurso dentro do governo. A mensagem que se deseja passar é de reconhecimento de que há um momento de dificuldade, mas que o Executivo está trabalhando para superá-la, inclusive cortando na própria carne.
Um assessor da presidente diz que não haverá um grande anúncio sobre a reforma administrativa, mas que nos próximos dias as primeiras mudanças serão divulgadas. No Ministério do Planejamento, uma força-tarefa foi montada para definir as reduções na máquina pública.
Hoje mesmo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dará uma coletiva para explicar o projeto de repatriação de recursos enviados por brasileiros ao exterior sem o pagamento de impostos. E poderá anunciar novas medidas que o governo deseja por em andamento.
Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, depois das discordâncias de Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) em torno da política econômica que o governo deveria adotar, os dois começam a se alinhar sobre a necessidade de uma redução ampla nos gastos do governo e de uma melhoria dos pagamentos dos benefícios do governo.
Um auxiliar presidencial relatou que Dilma ficou muito preocupada com o rebaixamento do grau de investimento do Brasil. E pediu que o diálogo com o Congresso seja ampliado a ponto de conseguir fazer com que medidas rejeitas pelos parlamentares, como aumento de impostos, tenham uma chance de serem discutidas e aprovadas.
O clima entre alguns ministros é praticamente de desespero com o cenário econômico. Um integrante do governo disse que nada parece fazer efeito para a economia reagir e que o quadro piora a cada semana.
Dilma teria uma reunião com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa e Joaquim Levy para discutir cortes orçamentários e formas de aumentar a arrecadação, entre eles, a possibilidade de elevação ou criação de impostos. No entanto, a presidente optou por chamar mais ministros e o vice-presidente, Michel Temer, para fazer um debate ampliado da crise e do downgrade que o país enfrenta.
A presidente convocou além do vice, oito ministros e os líderes do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Congresso, José Pimentel (PT-CE). Os ministros presentes à reunião são Gilberto Kassab (Cidades), Ricardo Berzoini (Comunicações), Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social), Eduardo Braga (Minas e Energia), José Eduardo Cardozo (Justiça), além de Mercadante, Barbosa e Levy.
Na manhã de hoje, o dólar comercial opera em forte alta de 2,63%, um dia após a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) ter cortado a nota de crédito do Brasil, fazendo-o perder seu grau de investimento — espécie de selo de bom pagador. A divisa americana está cotada a R$ 3,897 para compra e a R$ 3,899 para venda. Na máxima da sessão, chegou a R$ 3,908. O mercado acionário brasileiro ainda não abriu mas os Depositary Receipts da Petrobras em Frankfurt — recibos de ações da estatal negociados na Bolsa alemã — chegaram a cair 13,9%, de € 4,70 a € 4,05.
Na noite de ontem, em entrevista ao “Jornal da Globo”, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a nota da S&P “é apenas uma avaliação se a gente está olhando com seriedade para isso. Se a sociedade, o Congresso, o governo estão entendendo a seriedade de ter equilíbrio fiscal, é necessário para o Brasil ter a confiança das pessoas”.
As reuniões de coordenação política ocorrem, normalmente, uma vez por semana e, geralmente, às segundas-feiras. Nesta semana, houve reunião na terça-feira, já que na segunda foi feriado da Independência.
O governo enfrenta dificuldades para aumentar impostos. Dilma sinalizou com a volta da CPMF e o ministro Joaquim Levy (Fazenda) passou a defender o aumento do Imposto de Renda. No Congresso, as medidas são consideradas absurdas. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) são contra a elevação da carga tributária e pedem ao governo que aprofunde os cortes no Orçamento.