Um jogo de xadrez disputado com velocidade nunca antes vista. O cenário político brasileiro teve mais um dia com jogadas respondidas quase que de imediato pelo lado adversário, a exemplo do que vem ocorrendo desde a condução coercitiva do ex-presidente Lula em 4 de março.
Empossado como ministro da Casa Civil para tentar salvar o governo Dilma Rousseff e, de quebra, escapar do juiz Sergio Moro, o petista durou exatos 45 minutos no cargo. Mais tarde, foi formada oficialmente a comissão do impeachment na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, o país segue parado. E quem paga é a população.
Um dia depois de o juiz Sergio Moro liberar o sigilo do telefonema em que Dilma indica estar nomeando o ex-presidente com a intenção de dar a ele foro privilegiado, Lula fez questão de ir pessoalmente à posse em Brasília – o Planalto dizia que ele poderia não comparecer por um problema de saúde de dona Marisa.
Na cerimônia, Dilma acusou Moro – sem citá-lo nominalmente − de ter desrespeitado a Constituição e ressaltou que a utilização de “métodos escusos” e “práticas criticáveis” podem levar à realização de um golpe presidencial no país.
“Convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdades, métodos escusos e práticas criticáveis viola princípios e garantias constitucionais e os direitos dos cidadãos. E abrem precedentes gravíssimos. Os golpes começam assim”, disse Dilma.
A permanência de Lula no cargo, porém, não durou uma hora. Uma liminar do juiz Itagiba Catta Preta Neto, da 4.ª Vara Federal em Brasília, suspendeu o ato de nomeação do petista – a decisão foi derrubada no início da noite.
Para ele, a posse traz riscos para as investigações da Operação Lava Jato e é destinada a obstruir o livre exercício do Judiciário. Escreveu ainda que há suspeita de cometimento do crime de responsabilidade por parte de Dilma.
Mais tarde, a juíza Regina Coeli Formisano, da 6.ª Vara da Justiça Federal no Rio de Janeiro, concedeu liminar no mesmo sentido – outras 22 ações também correm no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em paralelo, integrantes da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba fizeram um ato em frente à sede da Justiça Federal contra o que consideram tentativas de ameaça ao seu trabalho.
E ao fim de mais um dia de intensa movimentação de peças no tabuleiro do xadrez em Brasília, Executivo e Legislativo seguem paralisados. E não dão sinais de que voltarão a trabalhar tão cedo nas políticas públicas das quais o país tanto precisa.