Repercussão
Veja a opinião de petistas paranaenses:
"Foi uma atitude coerente com os discursos que o senador vinha tendo há pelo menos dois. É de se lamentar, mas ele tomou uma atitude e não ficou só no discurso. Só fiquei triste com as declarações de que ele se envergonha do partido. Ele podia ter dito que lamentava a posição do PT, que ela tem sido equivocada. O PT tem erros a serem discutidos, mas está ajudando a transformar o país."
Gleisi Hoffmann, presidente do PT do Paraná.
"Claro que a saída envolve divergências políticas, mas vejo nela mais uma decisão pessoal do senador. Respeito muito o Flávio Arns, mas ele vinha tendo um mandato tímido justamente no momento das transformações com as quais nós dois sempre sonhamos."
André Vargas, deputado federal.
"Lamento a saída do Flávio. Acho que, mesmo tendo essa posição (contra o senador José Sarney), ele deveria fazer esse debate dentro do PT. Permanecer no partido num momento em que uma nova direção será eleita e se aliar ao grupo que também se opõe a esse tipo de comportamento."
Dr. Rosinha, deputado federal.
"Respeito a decisão do senador, mas entendo que foi tomada por motivações individuais. O Flávio teve um mandato que representou o partido dentro do Congresso."
Tadeu Veneri, deputado estadual.
A orientação repassada pelo PT aos senadores da bancada que integravam o Conselho de Ética para votar pelo arquivamento das 11 representações que pesavam contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC), foi a gota dágua para o petista Flávio Arns, que anunciou a saída da legenda por estar envergonhado. "O poder e a ambição de se manter no poder mudaram o PT. Este não foi o partido que eu entrei há oito anos", disse Arns. Para ele, o PT rasgou e jogou no lixo as bandeiras da ética e da transparência que ajudaram a eleger o presidente Lula.
Na próxima semana, o paranaense pretende pedir a desfiliação do partido na Justiça Eleitoral sob o argumento de que o PT foi infiel aos seus ideais. Se o pedido for aceito, ele poderá trocar de partido sem o risco de perder o mandato. Mas Arns garante que não vai rever a decisão, independentemente do entendimento da Justiça.
Arns afirmou que o partido já tinha se manifestado publicamente pelo afastamento de Sarney e a abertura de investigação para apurar as denúncias contra o presidente da Casa. No entanto, disse o senador, o acordo firmado entre PT e PMDB com vista na sucessão de Lula em 2010, se sobrepôs aos anseios da população. "A orientação da presidência do PT tirou a autoridade dos senadores", resumiu o petista. Para ele, a decisão pelo arquivamento das denúncias contra Sarney veio do Palácio do Planalto com anuência de Lula. Ontem, logo após o anúncio da saída do PT, Arns falou com a reportagem da Gazeta do Povo por telefone.
O que motivou essa decisão de sair do PT?
Aconteceu um grande debate hoje (ontem) no Conselho de Ética do Senado sobre as acusações contra o presidente do Senado, José Sarney, no Conselho de Ética. E o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, orientou toda a bancada a votar pelo arquivamento de todas as denúncias contra o presidente Sarney. Os senadores petistas, que tinham até já elaborado um documento pedindo o afastamento de Sarney e a investigação das denúncias, seguiram esta orientação do PT. Essa decisão está em desacordo com a posição que o partido tomou publicamente, que era de pedir o afastamento de Sarney e investigar as denúncias que pesam contra ele. A bandeira da ética e da transparência do PT foi jogada no lixo hoje (ontem). O diálogo do partido com a sociedade foi relegado a segundo plano. As bandeiras fundamentais do PT foram ignoradas por completo. Me senti envergonhado de estar no PT. Como o povo ia perceber isso? Tudo que o povo acha importante o PT está fazendo o contrário. O meu posicionamento, que era o mesmo da bancada, era de investigar o Sarney. Não estamos acusando ele. E diante do arquivamento dessas denúncias no Conselho de Ética não tenho como explicar isso para os meus eleitores.
O que o partido orientou na votação do conselho?
A decisão foi comunicada pelo Berzoini, mas é claro que teve o aval e a orientação do Planalto.
O senhor quer dizer do presidente Lula?
Não quero personalizar. Mas é claro que ele deu o aval. O PT jamais tomaria essa decisão, pelo arquivamento, sem o aval e a orientação do Planalto. Do presidente Lula. O Aloizio (Mercadante, líder do governo no Senado) se contrapôs a orientação do Berzoini, mas a situação dele (Mercadante) ficou enfraquecida. Nós somos responsáveis pelos nossos atos, o partido não manda na gente. Temos de definir nossos atos e posicionamentos com a responsabilidade de representar nossos eleitores.
O senhor anunciou que vai entrar na Justiça...
Vou solicitar na Justiça Eleitoral para deixar o partido. Quero que haja jurisprudência (decisões judiciais) no caso do partido não cumprir seus ideais. A Justiça Eleitoral diz que os políticos têm de ser fiéis ao seus partidos, mas os partidos também devem ter fidelidade ao seu ideário e é isso que espero que a Justiça diga para a sociedade. Não foi nesse PT que eu entrei. Essas bandeiras que não defendo estão sendo defendidas pelo partido.
Se a justiça entender que o mandato é do partido, o senhor mantém a decisão de sair do PT e abre mão do Senado?
Vou manter minha decisão independentemente do entendimento da Justiça. Não tenho mais razão de permanecer no partido. Nos próximos dias vou entrar na Justiça para mostrar que o PT não está sendo fiel aos seus ideais. Se a Justiça entender o contrário, perco meu mandato.
Já comunicou essa decisão ao partido?
Já comuniquei minha decisão para os senadores do PT. Na semana que vem entro na Justiça e comunico o partido.
Alguma chance de rever essa decisão?
Sem chance. Não existe volta.
Não foi uma decisão no calor da discussão?
Não é no calor da discussão. É uma coisa emblemática. É um divisor de águas. É um momento histórico que o PT tinha para defender a ética na política. Eu peço desculpas para as pessoas pelo posicionamento do partido, que não é o meu. Eu não entrei nesse PT. O senador é eleito para aguentar pressões e não pode sucumbir às pressões. Eu fiquei surpreendido com o posicionamento da presidência do PT. Estou envergonhado. É melhor sair do que compactuar com isso.
Com o quê?
Com esse grande acordão entre o PT e o PMDB. Não há dúvida alguma que ele existe. E só aconteceu em função da eleição do ano que vem para a Presidência. Para o PMDB apoiar a candidata do PT, custe o que custar, porque o mais importante é a eleição. Não é a ética nem o dialogo com o povo, é a eleição. Isso é muito ruim para a bancada do PT. É uma falta de autoridade dos senadores e a insatisfação não é só minha porque outros companheiros estão se sentindo deprimidos. O fato é que o processo eleitoral se sobrepôs a reorganização institucional do Senado.
O senhor já recebeu convite de algum partido?
Isso não passa pela minha cabeça. O mais importante é fazer o que eu acho que é correto. Recentemente não tive conversa com nenhum partido.
Vai disputar a reeleição?
Não tenho feito essa discussão. Política não é obsessão pra mim, é um instrumento para construir uma sociedade mais desenvolvida, mais justa, ambientalmente correta. E é um instrumento fortíssimo. Meu futuro está indefinido, mas isso para mim é secundário.
Se algum partido lhe convidar para disputar o governo do Paraná, o senhor aceita?
Isso não faz parte dos meus planos. Disputei a última eleição para governador do Paraná atendendo a um chamado. Era para ajudar o PT e o Lula, que estava sofrendo desgaste político com as CPIs no Congresso. Aceitei disputar a eleição para fazer palanque para o presidente Lula.
O senhor disse que não entrou nesse PT. O que mudou desde 2001 para cá?
O poder e a ambição de se manter no poder mudaram o PT. O poder chega a mudar os princípios das pessoas.
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