Jermina e Vanilda Leal: mãe e filha moram em casas de madeira e chão batido, dizem nunca ter aberto conta bancária no HSBC e nunca ter trabalhado na Assembleia. Mas o Legislativo depositou salários milionários para elas| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Abib Miguel não irá à audiência, diz advogado

O ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná Abib Miguel, o Bibinho, não vai comparecer às duas audiências de julgamento marcadas para esta e para próxima semana, na 9.ª Vara Criminal de Curitiba. Quem garante que ele se ausentará é o advogado de Bibinho, Eurolino Sechinel Reis.

Leia matéria completa

CARREGANDO :)

Veja a reportagem do ParanáTV sobre a demissão dos funcionários

O banco HSBC demitiu na semana passada nove funcionários suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção dos Diários Secretos, que desviou mais de R$ 100 milhões da Assembleia Legislativa do Paraná (AL), segundo estimativa do Ministério Público Estadual (MP).

Publicidade

O HSBC é um dos bancos onde são depositados os salários dos servidores da Assembleia. Desde quando o caso se tornou público, em março, havia a suspeita de que funcionários do banco teriam cometido fraude na abertura de contas de servidores da Casa. Os funcionários nem teriam conhecimento dessas contas.

O esquema dos Diários Secretos operava justamente por meio da contratação, pela Assembleia, de funcionários fantasmas e laranjas. O salário desses servidores, que não trabalhavam, abastecia o esquema milionário de desvio de recursos, comandado, segundo o MP, pelo ex-diretor-geral da Assembleia Abib Miguel, o Bibinho, que está preso.

Tudo era ocultado da população por meio da edição de atos administrativos em diários oficiais aos quais a sociedade tinha acesso dificultado pela própria Assem­­bleia – daí o escândalo ter ficado conhecido como Diários Secretos.

Comprovação

Procurado pela reportagem, o HSBC emitiu uma nota em que confirma a demissão de quatro gerentes, três caixas e dois supervisores "em razão da comprovação por terem cometido atos administrativos irregulares". O banco informou ainda que, diante das irregularidades "praticadas por alguns poucos de seus colaboradores, o HSBC tomou rigorosas medidas internas cabíveis no caso".

Publicidade

O HSBC não informou o nome dos funcionários demitidos nem quais foram as irregularidades cometidas por eles dentro do banco. Porém, desde que o escândalo foi revelado, por meio de uma série de reportagens da Gazeta do Povo e da RPC TV publicadas a partir de março, havia a suspeita de participação de funcionários dos bancos que movimentam as contas dos servidores da Assembleia.

Pela conta bancária da agricultora Vanilda Leal, servidora fantasma da Assembleia, por exemplo, foram movimentados R$ 2,2 milhões em salários da Casa de janeiro de 1994 até fevereiro de 2010, segundo o MP. Na conta da mãe dela, a também agricultora Jermina Maria Leal, outra servidora fantasma do Legislativo, passaram mais R$ 1,8 milhão de janeiro de 1994 até pelo menos abril de 2009.

Sem saber que estavam sendo gravadas pela reportagem, mãe e filha disseram, em março deste ano, nunca ter trabalhado na Assembleia. E afirmaram não ter conhecimento de que tinham conta no HSBC – o que levantou a suspeita de fraude bancária. As duas, embora tivessem extratos bancários milionários, viviam em casas simples de chão de terra batida no município de Cerro Azul, na região metropolitana de Curitiba.

Diante da suspeita de fraude na abertura das contas, o HSBC informou em abril deste ano que havia aberto uma sindicância interna para investigar a possível participação de funcionários do banco no esquema.

Na mesma época, o HSBC disse que já havia detectado indícios de fraude na movimentação da conta bancária aberta em nome da agricultora Vanilda Leal. Na época, o banco informou que "conclusão ainda preliminar indica que a conta pode ter sido aberta de maneira fraudulenta". A sindicância já foi encerrada e, segundo o HSBC, "recomendou o desligamento dos funcionários por terem cometido atos administrativos irregulares".

Publicidade

Uso de documentos

Após o escândalo vir à tona, o MP abriu uma investigação e descobriu que João Leal de Matos, irmão de Jermina, usou os documentos pessoais dela e de Vanilda para empregá-las na Assembleia sem que ela soubesse. Ele foi denunciado pelo MP e está foragido da Justiça. Matos fez isso com Jermina, Vanilda e mais seis parentes seus – todos funcionários fantasmas que recebiam altos salários.

Alguns familiares de Matos disseram, em depoimento, que receberam de R$ 100 a R$ 150 em troca dos documentos pessoais – usados na abertura das contas bancárias. Mas os salários depositados eram muito maiores. Na conta de Vanilda, por exemplo, os depósitos da Assembleia chegaram a R$ 35 mil por mês – dinheiro que ela disse nunca ter visto.