O atual diretor de pessoal da Assembleia Legislativa do Paraná (AL), Antônio Carlos Gulbino, responsabilizou ontem o presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), e o 1.º secretário, deputado Alexandre Curi (PMDB), por todas contratações e demissões de funcionários do Legislativo a partir de 2007 quando os dois parlamentares assumiram suas funções na Mesa Executiva. Nesse período, segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MP) à Justiça, houve a contratação de servidores fantasmas e, por meio deles, desvio de dinheiro da Assembleia. O esquema ficou conhecido como o escândalo dos Diários Secretos porque as contratações dos fantasmas eram escondidas da sociedade por meio da ocultação dos Diários Oficiais da Casa.
A declaração de Gulbino foi dada durante depoimento dele na 9.ª Vara Criminal de Curitiba, no julgamento do primeiro processo judicial decorrente das denúncias de desvio de dinheiro da Assembleia, reveladas pela Gazeta do Povo e RPC TV na série de reportagens Diários Secretos.
Gulbino assumiu a diretoria de pessoal da Assembleia em 1.º de abril, após o escândalo já ter se tornado público. Ele foi arrolado pelo MP como uma das testemunhas da acusação contra outros três ex-diretores da Assembleia denunciados pela participação no esquema e que estão sendo julgados nesse processo: Abib Miguel (o Bibinho, ex-diretor-geral); José Ary Nassiff (ex-diretor administrativo); e Cláudio Marques da Silva (ex-diretor de pessoal, antecessor de Gulbino no cargo). Os três são acusados pelo MP pelo desvio de mais de R$ 100 milhões. Mas o processo em julgamento trata do desvio de apenas R$ 13 mlhões.
Gulbino disse acreditar que diretores da Assembleia não têm poder de nomeação e exoneração de servidores. "Os diretores podem requerer, solicitar, mas é a Mesa Executiva quem autoriza [a contratação e demissão]", disse.
A declaração do diretor de pessoal, ao menos em tese, corresponsabiliza Justus e Curi e todos os presidentes e os primeiros-secretários da Assembleia desde 1994 quando, segundo o MP, já haveria desvios de recursos por meio do esquema.
O advogado de Bibinho e de Nassiff, Eurolino Reis, também fez questão de frisar na audiência de ontem que a responsabilidade pela contratação e demissão de servidores comissionados era da Mesa Executiva e não dos ex-diretores. "A minha opinião pessoal, e não a dos meus clientes, é que, se existe uma Mesa Diretora e se todos têm que assinar [a contratação de funcionários], por elementar que a responsabilidade é solidária no fato", disse Reis após a audiência.
Demorado
O depoimento de Gulbino foi o mais demorado e o mais revelador dentre as outras sete testemunhas arroladas pelo MP todas ouvidas ontem pela juíza Ângela Ramina.
O atual diretor de pessoal admitiu ainda que sabia da existência de diários avulsos (não numerados) e de atos não publicados nos diários oficiais da Assembleia o que facilitava a ocultação das decisões da Casa.
Ouvidas as oito testemunhas do MP, os advogados de Nassiff e Marques da Silva dispensaram suas testemunhas de defesa. "Nenhuma das testemunhas de acusação identificaram os acusados em qualquer ato ilícito", analisou o advogado Marden Esper Maués, que representa Marques da Silva, o ex-diretor de pessoal. As testemunhas de Bibinho não seriam ouvidas porque o processo foi desmembrado devido ao estado de saúde do ex-diretor-geral.
Próximos passos
Dispensada todas as testemunhas de defesa na audiência de ontem, a audiência foi suspensa por 10 dias. Nesse prazo, a juíza Ângela Ramina espera que as testemunhas do MP que moram fora de Curitiba sejam ouvidas por cartas precatórias.
Após esses depoimentos, a magistrada vai marcar uma nova audiência para ouvir os réus. Não há prazo para o fim do julgamento, mas há expectativa de que a sentença seja dada ainda neste ano.
Para o próximo dia 17, está marcada a audiência de outro processo criminal contra os três ex-diretores envolvendo desvios supostamente praticados por meio de funcionários fantasmas da família do ex-servidor da Assembleia Daor Afonso Marins de Oliveira. A ação de ontem julgava os desvios envolvendo a família do funcionários João Leal de Matos.
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