O Ministério Público do Paraná pediu ontem o afastamento imediato do novo diretor de Pessoal da Assembleia Legislativa do Paraná, Antônio Carlos Gulbino. Ele teria, segundo uma fonte do MP, ajudado a montar o mandado de segurança do Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa do Paraná (Sindilegis) que restringia o acesso dos promotores a dados financeiros dos funcionários do Legislativo paranaense. O mandado foi concedido pelo Tribunal de Justiça. Se a Assembleia não afastar Gulbino, o MP vai pedir na Justiça a saída do diretor de Pessoal.
A recomendação administrativa, endereçada ontem ao presidente da Casa, deputado Nelson Justus (DEM), saiu depois do depoimento de Diva Scaramella Ogibowski, que preside interinamente o Sindilegis. O presidente afastado é o ex-diretor-geral da Assembleia Abib Miguel, que está preso. Ele responde a processo por cometer 1.182 vezes o crime de desvio de dinheiro público, além de formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Diva contou aos promotores que foi Gulbino quem entregou uma procuração para que ela assinasse. Foi com esse documento que o Sindilegis conseguiu no TJ impedir que a Assembleia fornecesse ao MP a folha de pagamento da Casa. "Isso mostra que ele [Gulbino] não tem nenhum interesse em prestar informações, de auxiliar de alguma forma as investigações", disse um dos promotores, justificando o pedido de afastamento. "É ele o responsável por fornecer os dados requeridos pelo MP", completou.
Antes de prestar depoimento, Diva falou com a reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV. Ela afirmou que teria sido "usada" e "enganada" por funcionários da Assembleia que tinham como objetivo barrar informações que auxiliassem na investigação do MP. Ela afirma que não sabia o que estava assinando. Um desses funcionários, de acordo com Diva, seria Antônio Gulbino. "Foi ele [Gulbino] que me deu para assinar [a procuração]", relembra. Depois da entrevista, a presidente interina retirou a ação que restringia acesso a dados da Assembleia.
Gulbino assumiu o cargo no dia 1.º de abril. Ele trabalha na Diretoria de Pessoal da Assembleia há 24 anos e coordenava a área antes de assumir a Diretoria. Foi a ele que o presidente Nelson Justus depositou a confiança de comandar o recadastramento funcional dos servidores da Casa a principal medida moralizadora anunciada por Justus em resposta às denúncias mostradas na série "Diários Secretos". No dia em que assumiu a Diretoria, Gulbino prometeu empenho para dar transparência à Assembleia. "Estamos envolvidos no recadatramento que é a meta principal para levar transparência. Dentro das minhas atribuições, [vou] regularizar qualquer irregularidade que apareça", disse.
Este não foi o primeiro pedido de afastamento feito pelo MP. O ex-diretor de Pessoal da Assembleia Cláudio Marques da Silva que foi substituído por Gulbino -- foi afastado do cargo, depois do pedido dos promotores. Se Gulbino for afastado, será o quarto diretor da Assembleia a deixar o cargo por causa da série de reportagens da Gazeta do Povo e da RPC TV.
Abib Miguel pediu afastamento da Diretoria-Geral após o início das denúncias. A série de reportagens mostrou que Bibinho, como é conhecido Abib Miguel, montou uma rede de pessoas que nunca trabalharam no Legislativo, mas, mesmo assim, recebiam altos salários. Os promotores têm provas de que o ex-diretor-geral teria desviado, pelo menos, R$ 13 milhões.
Além de Bibinho e Marques, o ex-diretor administrativo José Ary Nassiff pediu afastamento das funções. Assim como Bibinho, Nassiff e Marques foram denunciados pelo MP por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e desvio de dinheiro público.
Outro lado
Antônio Gulbino foi procurado pela reportagem, mas não quis comentar o assunto. A Diretoria de Comunicação da Assembleia informou que não recebeu o pedido de afastamento feito pelo MP.
Veja todas as denúncias feitas pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV sobre os Diários Secretos da Assembleia Legislativa.