Os motoristas também temhobbies, nas horas de folga| Foto: Divulgação/Desiderata Produtora

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não quis comentar nesta segunda-feira, ao chegar ao Senado, o que espera da perícia da Polícia Federal, cujo resultado deverá ser entregue nesta terça pelo Conselho de Ética. O peemedebista se limitou a dizer que escalou um assessor para acompanhar o caso.

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- Não sei qual é o calendário do conselho, mas espero a oportunidade para mostrar a verdade que carrego comigo, que é do mesmo tamanho da inocência que eu trago todos os dias para o Senado - disse.

Renan negou que tenha discutido a prorrogação da CPMF com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem se sentou ao lado no lançamento do PAC da Segurança. Ele negou que esteja utilizando a aprovação da CPMF como moeda de troca para pressionar o governo e garantir sua permanência no Senado.

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- A CPMF só chega ao Senado em outubro e meu processo nada tem a ver com a decisão dos meus pares. Não vou cobrar apoio de ninguém. Os senadores decidem de acordo com as suas consciências. Estou absolutamente tranqüilo.

Nesta terça, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), um dos relatores da primeira representação contra Renan no Conselho de Ética, admitiu que pode apresentar um voto em separado para o caso, discurdando dos outros relatores, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS).

De acordo com o colega de partido de Renan, o resultado da perícia da Polícia Federal nos documentos do presidente do Senado não será conclusivo. Almeida Lima ainda pretende ouvir o jornalista da revista "Veja" Policarpo Júnior e a jornalista Mônica Veloso, além de Renan.

- Hoje eu não vejo nada que possa condená-lo. Hoje eu pediria a absolvição sim. Se coincidir eu farei o voto comum. Se eu não me convencer, eu farei um voto em separado. Eu tenho lido a documentação apresentada pelo Renan. Não tenho encontrado nenhuma não-autenticidade, nenhuma incongruência entre as declarações e a documentação. Pelo que vi até agora, não vislumbro nenhuma prova de quebra de decoro. Eventualmente podem ter havido incorreções, erros de preenchimento de nota fiscais sem dolo. Notas frias ele disse que não existe - afirmou o relator.

O senador peemedebista discorda da tese de sua colega de relatoria Marisa Serrano de que o fato de Renan ter se utilizado de um lobista para pagar contas pessoais já configura quebra de decoro:

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- Não serei um demagogo de dar um veredicto para satisfazer a opinião pública - garantiu.

O senador também afirmou que não fez qualquer declaração a repórteres da revista Veja, a qual publicou nesta semana que até ele "já aceita a tese da punição" de Renan.

- Por que essa sangria desatada? Vamos aguardar a instrução, a apuração das provas. Não se pode executar uma pena antes do julgamento - disse.

Lima ainda leu uma nota de Casagrande, na qual o senador diz que também não fez declarações atribuídas a ele pela revista.

Renan vai alegar que recebeu notas falsas de frigorífico

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Como estratégia, Renan irá apresentar ao Conselho de Ética, durante seu depoimento - que poderá acontecer até meados de setembro - uma versão cuidadosamente preparada para tentar neutralizar uma das fragilidades de sua defesa: dirá que foi vítima do frigorífico Mafrial, para o qual vendeu R$ 1,9 milhão em gado. Segundo aliados, Renan está levantando documentação para comprovar que vários fazendeiros de Alagoas que estão na mesma situação teriam sido vítimas de recibos fraudados pelo frigorífico.

Num dos três processos que corre no Conselho de Ética, o senador é acusado de ter tido despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. A jornalista Mônica Veloso, mãe de uma filha de Renan, afirma que Gontijo lhe fazia os pagamentos - ela já entregou documentação afirmando que recebeu R$ 418 mil. Renan tenta provar que tem patrimônio e renda para fazer tais pagamentos e que não usou notas frias para comprovar rendimentos.

Na semana passada, Renan antecipou a explicação para vários colegas de Parlamento. E tem dito de forma reservada que alguns deles também são pecuaristas e devem entender mais facilmente sua explicação.

Líderes governistas querem acelerar processo e evitar sangria maior

Segundo reportagem do jornal "Valor Econômico" publicada nesta segunda-feira, líderes da coalizão governista pretendem acelerar o processo no Senado e liquidar a fatura nos próximos 30 dias, com a absolvição e a manutenção de Renan na presidência da Casa. Na avaliação desses líderes, o que importa agora é retirar o assunto de pauta, evitar mais desgaste e deixar que Renan ajuste suas contas com o Supremo Tribunal Federal.

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Renan está de acordo com o movimento esboçado, que além do Senado passa também pelo Palácio do Planalto. O senador por Alagoas foi advertido pelo ex-presidente José Sarney que o tempo joga contra ele. Nos cálculos dos líderes aliados, cada semana significa erosão entre os votos favoráveis a Renan, que hoje já seriam menos que os 52 que ele obteve para se reeleger, ano passado, quando disputou a presidência contra o senador José Agripino Maia (DEM-RN).

Prova disso seria o desempenho do senador Romeu Tuma (DEM-SP), semana passada, em sua passagem por Alagoas. O ex-pefelista não hesitou em dizer que considerava que a situação de Renan se complicara com os depoimentos que ouvira em Maceió. Isso sem ao menos permitir que Renan pudesse responder às acusações feitas por um adversário político, o empresário João Lyra. Até Sarney, que é amigo de Tuma, reclamou, sob o argumento de que este não era o papel do corregedor-geral do Senado.

Jornalista diz que Renan era sócio oculto de empresa de comunicação

Tuma também ouviu, na sexta-feira, o jornalista Luiz Carlos Barreto, que confirmou ter administrado uma empresa de comunicação que teria Renan e o usineiro João Lyra como sócios ocultos . Segundo Barreto, o então dono do grupo "O Jornal", Nazário Pimentel, propôs o negócio a Renan e a Lyra. Após dois meses, o senador teria confirmado seu interesse na sociedade. A suspeita de que Renan teria usado "laranjas" para fazer parte do negócio provocou a abertura de uma terceira ação contra Renan no Conselho de Ética. Uma segunda já tinha sido aberta para investigar se o senador favoreceu a empresa Schincariol em Alagoas.

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