Entrevista
Carli Filho falou com a imprensa pela primeira vez dois meses depois do acidente. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, ele contou que tem usado o tempo de recuperação dos traumas do acidente para refletir sobre qual deve ser a sua missão no mundo e por quais motivos Deus permitiu que continuasse vivo. "Foi uma bênção. Não foi à toa que fiquei aqui", disse Carli Filho.
Carli Filho defendeu a justiça. "Espero justiça e que as pessoas não me julguem e me condenem antecipadamente", disse. Quando questionado sobre o que poderia significar justiça nesse caso, disse apenas que quer que tudo se esclareça.
Sobre a possibilidade de voltar a vida política, disse que ainda não havia definição. "Eu tinha um roteiro puxado. De segunda a quinta em Curitiba e nos finais de semana rodando pela região. Eu amava o que eu fazia, mas não sei por que, de repente, mudou tudo. Materialmente eu ainda não tenho nada claro. Preciso primeiro me encontrar espiritualmente", disse.
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O ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho foi indiciado por duplo homicídio com dolo eventual por provocar o acidente que matou dois jovens em Curitiba. O delegado Armando Braga de Moraes, da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), concluiu o inquérito do caso nesta terça-feira (11). O laudo do Instituto de Criminalística (IC) aponta que Carli dirigia a 167 km/h no momento do acidente.
A polícia concluiu que a causa do acidente foi a alta velocidade do veículo somada à embriaguez do ex-deputado. Mesmo assim, o inquérito não pediu a prisão preventiva dele. Em entrevista coletiva, na tarde desta terça-feira, o delegado disse que Carli não oferece perigo à sociedade e que não há relatos de que ele estaria intimidando testemunhas. Só nestes casos é que a polícia requer a detenção do indiciado.
A velocidade apurada pelo IC, segundo o delegado, é uma média. Ela pode variar em seis pontos para mais ou para menos, indo de 161 a 173 km/h. O laudo foi encaminhado para a Dedetran na sexta-feira (7). Segundo o delegado, se estivesse a 190 km/h velocidade que primeiramente foi cogitada o ex-deputado teria passado por cima do carro das vítimas. Uma animação feita pelos peritos do Instituto de Criminalística demonstrou que o carro de Carli saiu um metro do chão antes de atingir o veículo das vítimas.
O delegado disse, ainda, que a apuração da velocidade não foi determinante para o indiciamento de Carli Filho, pois já havia indícios fortes. "Para o inquérito policial o que faz diferença é o estado objetivo de embriaguez, que foi comprovada, estar conduzindo com a habilitação suspensa e acima da velocidade permitida", disse.
Durante a investigação, 33 pessoas foram ouvidas, além do próprio Carli Filho. O inquérito, que tem 668 páginas, deverá ser entregue ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) na quinta-feira (13). Caso o MP ofereça denúncia, ficará a cargo do juiz da Vara de Delitos de Trânsito abrir um processo contra o ex-deputado. Ao renunciar ao mandado parlamentar, Carli Filho perdeu o foro privilegiado e deve responder ao processo na 1ª instância.
O homicídio com dolo eventual é caracterizado quando a pessoa não tem intenção de matar, mas assume o risco de provocar a morte de alguém, dirigindo embriagado por exemplo. O advogado de Carli Filho informou que só se pronunciará depois de ler o relatório da polícia.
Imagens de câmera
Segundo o delegado, foi constatado que as imagens da câmera de segurança de um posto de combustível, que registrou o acidente, apresentavam frames repetidos. Outro inquérito vai apurar se houve adulteração ou falha técnica no equipamento. Um laudo elaborado por um perito particular, contratado pela família de Gilmar Yared, uma das vítimas fatais do acidente, concluiu que a imagens foram adulteradas.
Relembre o caso
O acidente ocorreu na madrugada do dia 7 de maio. O então deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Os ocupantes do Fit, Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20, morreram na hora.
O acidente completou três meses no último dia 7. A família de Gilmar Yared espalhou faixas de protesto na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski, bairro Mossunguê, local da colisão. A família reclamava da demora na conclusão do inquérito.
O caso ganhou repercussão nacional após a Gazeta do Povo revelar que Carli Filho tinha 130 pontos na carteira de habilitação e do exame do Instituto Médico Legal(IML) informar que ele conduzia o veículo em estado de embriaguez. O caso expôs um histórico de multas de políticos e de 68 mil cidadãos que dirigiam com a carteira de habilitação suspensa.
No dia 29 de maio, Carli Filho renunciou ao cargo de deputado estadual. O pedido oficial da renúncia é encaminhado ao presidente da Assembleia, Nelson Justus (DEM). Sem o foro privilegiado, o inquérito criminal voltou a tramitar nas instâncias normais, e Carli pode ser levado a júri popular.
O ex-deputado prestou depoimento à polícia no apart hotel onde estava hospedado em São Paulo no dia 9 de junho. Ele disse que não se lembra de nada do acidente..
Assista abaixo à simulação produzida pela Polícia Científica que mostra como foi o acidente envolvendo o deputado Carli Filho. Clique em "play" e aguarde o carregamento do vídeo
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