A ex-gerente executiva da Petrobras Venina Velosa da Fonseca prestou depoimento na manhã e na tarde desta sexta-feira (19) à força-tarefa que investiga os crimes da Operação Lava Jato. A oitiva, com duração total de cinco horas, foi para esclarecer denúncias, feitas por ela, de irregularidades na área de comunicação da estatal, na construção da Refinaria Abreu e Lima e na compra de óleo por subsidiárias no exterior.
O depoimento foi confirmado pelo procurador da República e integrante da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que investiga a Lava Jato, Deltan Martinazzo Dallagnol. Ele disse que Venina depôs na condição de testemunha nos inquéritos que investigam fraudes na Petrobras, mas não deu detalhes sobre o teor do que a executiva falou. Dallagnol não negou que ela possa ser ouvida novamente na sequência das investigações. "Todos os elementos formais, como documentos e emails, foram entregues. Mas o teor deles e do depoimento vão continuar em sigilo", afirmou o procurador.
O advogado de Venina, Ubiratan Mattos, contou que a ex-gerente da Petrobras está sofrendo ameaças, apresentou documentos e alegações que confirmam que a presidente da empresa, Graça Foster, sabia das irregularidades na estatal desde 2007. Sobre alegações da Petrobras, divulgadas em nota na última terça (16), de que as afirmações de Fonseca eram vagas e de que ela só fez as denúncias por ter sido responsabilizada, Mattos vê uma inversão. "Estão querendo transformar a vítima em vilã. Estão tentando desconstruir a figura da minha cliente. Hoje (sexta) ela comprovou que não é a vilã da história", afirmou.
Mattos explicou que Venina manteve cópias dos emails porque sabia que estavam sendo cometidas irregularidades e decidiu ajudar nas investigações depois de ver seu nome incluído entre os responsáveis pelas irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, ao lado de Pedro Barusco Filho, da diretoria de Engenharia e Serviços, que mantinha contas no exterior a serviço do esquema. Barusco é ligado a Renato Duque e assinou acordo de delação premiada para minimizar punição, além de se prontificar a devolver cerca de R$ 100 milhões mantidos fora do país. "A vilã não é Venina. Ela está do lado da ética e sempre denunciou internamente. A diretoria toda sempre soube, incluindo a Graça (Foster)", disse Mattos.
O advogado afirmou que Venina passou a ser intimidada por telefone após a primeira denúncia, com recados como "você está mexendo com gente grande". "Havia um processo de desconstrução da imagem da Venina. Colocar o nome dela ao lado de Pedro Barusco é um absurdo", afirmou Mattos. O Ministério Público Federal apresentou à Venina a possibilidade de ela ser ouvida como "colabora", em acordo de delação premiada, mas o advogado Ubiratan Mattos afirmou que ela não considerou necessário. "Em nenhum momento ela cogitou depor como colaboradora. Ela será ouvida como testemunha de acusação", explicou.
Venina deverá prestar novos depoimentos ao Ministério Público Federal e tem pelo menos três depoimentos marcados para fevereiro, a serem prestados ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná, responsável pelos inquéritos da Operação Lava-Jato que não envolvem autoridades com foro privilegiado. "Essa foi apenas a primeira conversa com o Ministério Público Federal. Mantivemos o sigilo por segurança. Ela tem sofrido ameaças por telefone", explicou o advogado, acrescentando que Venina é divorciada, tem duas filhas e teme pela segurança delas.
Para Mattos, a atitude de Venina da ex-gerente da Petrobras é essencial para mudar a forma como são feitos negócios no Brasil, que causa indignação a todos os cidadãos, inclusive a ele próprio.
Envolvimento de Graça Foster
Venina diz ter alertado a atual diretoria da Petrobras, inclusive a presidente Graça Foster, dos problemas nas três áreas, sem que a cúpula da estatal tenha tomado providências. E-mails sobre as irregularidades teriam sido enviados por ela a Graça.
Em nota, a presidente da estatal negou que o conteúdo das mensagens tratasse de irregularidades. Segundo Graça, as acusações de Venina são uma retaliação por ela ter sido responsabilizada por impropriedades em Abreu e Lima, que elevaram os custos das obras em R$ 3,9 bilhões. Venina tem também depoimento à Justiça Federal marcado para a primeira quinzena de fevereiro.
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