O ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Santos Avancini, e o ex-vice-presidente, Eduardo Hermelino Leite, réus da Operação Lava Jato, confirmaram nesta segunda-feira, 4, à Justiça Federal que a empreiteira pagava propina nas diretorias de Serviços e de Abastecimento da Petrobras. Ouvidos pela primeira vez pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, eles confirmaram o pagamento de R$ 110 milhões ao longo de seis anos nas duas áreas. Leite revelou que, na assinatura dos contratos, a empreiteira tinha que “sinalizar com aceitação” de acertos.
“Para a Diretoria de Serviços R$ 63 milhões e para a Diretoria de Abastecimento R$ 47 milhões”, afirmou Leite, vice-presidente afastado da Camargo Corrêa Construções e Participações. “Essa informação da área comercial, o número que se fala é entorno de R$ 110 milhões, que foram pagos pela Camargo de propina”, informou Avancini ao juiz Sérgio Moro.
Perguntado pelo juiz Sérgio Moro - que conduz os processos da Lava Jato em primeira instância - quais motivos levavam a Camargo Corrêa a pagar a propina, Leite disse que havia um pacto assumido e que a empreiteira poderia ser prejudicada nos recebimentos. “Primeiro porque isso havia sido pactuado”, explicou Leite - que foi preso no dia 14 de novembro de 2014 e desde março cumpre prisão preventiva em regime domiciliar, após fazer acordo de delação premiada.
“Do ponto de vista da vantagem, eu diria que se não pagasse você teria muita dificuldade na gestão contratual com a Petrobras. Então era uma condição para você celebrar o contrato”, explicou o executivo.
Leite é acusado de ser o principal contato do esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato - e a Camargo Corrêa. Réu do processo envolvendo outros dois executivos da empreiteira, ele detalhou ao juiz como era feito os pagamentos.
Segundo ele, por conta dos projetos mal feitos havia necessidade de negociações de pagamentos imprevistos, que dependiam de aprovação da Petrobras.
“Você não paga na celebração, você paga depois durante a obra. Mas você tinha que sinalizar a aceitação e depois, como os contratos e as obras tinham projetos muito ruins, foram contratadas com projetos básicos muitos ruins, a variação de preço no andamento da obra levava distorções significativas. E você tinha que discutir com os clientes essas distorções. Tinha algumas questões de aceitação do cliente sobre a interpretação de uma distorção”, exemplificou.
Segundo Leite, uma greve prolongada no decorrer das obras era um tipo de custo imprevisto que necessitava de negociação entre a empreiteira e a Petrobrás para que fosse liberados pagamentos que cobrissem esse prejuízo.
Ouvidos pelas primeira vez pelo juiz federal Sérgio Moro, Leite e Avancini confirmaram formalmente o esquema de cartel, corrupção e propina na Petrobras. Segundo os processos da Lava Jato, PT, PMDB e PP dividiam as indicações políticas nas diretorias da estatal, para arrecadar de 1% a 5% de propina nos contratos com empresas do cartel.
Leite e Avancini fizeram acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato, em março. Foram ouvidos e receberam o direito a cumprir prisão preventiva em regime domiciliar, por conta do acordo.
Nas delações, Leite já havia apontado o recebimento dos R$ 110 milhões em propinas pelos ex-diretores de Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento). Leite voltou à afirmar nesta segunda-feira, diante do juiz Sérgio Moro, que os dois ex-diretores da Petrobras - já denunciados criminalmente - eram indicações do PT e do PP, no esquema de corrupção na estatal.
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