O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a atacar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira, durante o 3º Congresso Nacional do PSDB. As declarações foram feitas quando FH argumentava que seu partido não é de elite e que o estilo tucano "é bem brasileiro e popular". No encontro, foi aprovada a nova Executiva Nacional do PSDB, que passará ter o senador Sérgio Guerra (PE) como presidente.
- Nós somos sim gente que estuda e trabalha, porque sem estudo e trabalho não se muda o Brasil. Há sim acadêmicos entre nós. Não temos vergonha disso. Há sim gente que sabe falar mais de uma língua, mas sabemos falar nossa língua, e falamos direito. E faremos o possível e o impossível para que todos os brasileiros falem a nossa língua e falem bem. E não sejam brasileiros liderados por alguém que despreza a educação, a começar pela própria - disse o ex-presidente.
Elitezinha
O tucano disse ainda que nunca viu no povo qualquer tipo de preconceito contra pessoas que estudam:
- Esse preconceito existe sim é numa elitezinha nova que se aboletou no poder e agora quer aboletar os outros com o dinheiro do poder - atacou.
FH repetiu a carga da quinta-feira e insistiu que os feitos do governo de seu sucessor são frutos das gestões passadas:
- Tudo que foi feito nesse governo foi resultado do meu trabalho, do Itamar e do Sarney. E o Lula pensa que foi o Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil - afirmou.
Na mesma de Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, José Serra, insistiu em seu discurso que o PSDB não é de elite. O tucano argumentou que tanto ele como Aécio Neves, de Minas, foram bem votados em todas as camadas sociais nas últimas eleições.
- Não creio que exista esse estigma. Em São Paulo eu fui eleito e ganhei em todos os estratos sociais. O PSDB não é um partido de elite e, como foi dito, é um partido de gente que estuda e trabalha - afirmou.
Na véspera, Fernando Henrique já fizera um duro discurso levantando suspeitas sobre a existência de "ações concretas" em favor de um terceiro mandato para Lula. Na avaliação do tucano, o governo petista "fez algumas coisas boas", mas retroagiu na democracia e no sentimento de moral, deixando o país "se amesquinhar".
- Nós que lutamos contra o regime militar não podemos aceitar a idéia da continuidade. Não aceitamos alterações que levem à idéia do continuísmo. Não há razão para um enésimo mandato. Não estou acusando o presidente Lula disso. Se estivesse, estaria pedindo seu impeachment. O que estou dizendo é que existe esse risco, está no ar. Mais do que no ar, existem algumas ações concretas. Eu diria ao presidente Lula: "Menos legoleios para justificar o seu colega lá da Venezuela e diga com clareza: Eu sou contra" - disse o ex-presidente.
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), denunciou nesta quinta que a base governista tentou se aproveitar do baixo quórum para aprovar nesta quinta-feira, na CCJ da Câmara, a PEC do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aumenta o mandato de presidente, parlamentares e governadores para cinco anos. Segundo o deputado Bruno Araujo (PSDB-PE), a admissibilidade só não foi aprovada, com apenas seis deputados da base, porque ele pediu verificação de quórum.
Fernando Henrique criticou a intenção que, segundo ele, existe dentro do governo de relacionar democracia com consultas populares, como referendos e plebiscitos. Segundo ele, tal linha de raciocínio é perigosa e equivocada.
- Não se pode restringir a democracia a uma consulta popular, manipulada pela televisão. A democracia não pode se restringir ao sim ou ao não. Se levarmos ao plesbiscito a pena de morte, ela ganha. Não é qualquer questão que pode ser submetida a plebiscito - afirmou.
O ex-presidente lembrou ainda dos casos de corrupção envolvendo o governo de seu sucessor, criticando o que chamou de "afrouxamento moral":
- O presidente não pode passar a mão na cabeça de aloprado algum. Lugar de aloprado é no hospício, não ao lado do presidente. E lugar de ladrão é na cadeia, naturalmente - disse.
FH defende reeleição, mas critica possibilidade de terceiro mandato
Fernando Henrique defendeu ainda o instituto da reeleição, criada em seu governo, mas disse que não faz sentido a permissão para que Lula dispute um terceiro mandato. Segundo ele, em nenhum país presidencialista do mundo é permitido a um presidente concorrer a três mandatos.
- O programa do nosso partido tem posição muito clara. Somos contrários a qualquer mudança da regra eleitoral neste momento no Brasil. A alternância de poder faz parte da democracia. Eu nunca vi regime democrático presidencialista que aceite um terceiro mandato. Eu não conheço um regime democrático de verdade que não imponha uma limitação a duas vezes - afirma.
Questionado sobre a proposta que estabeleceu a reeleição no país em seu governo, FH disse que havia um compromisso, na Constituinte, de discutir a matéria futuramente. Segundo ele, seu governo apenas completou uma negociação iniciada na época, que teria reduzido o mandato presidencial para quatro anos em troca da reeleição.
- Na constituinte, nós reduzimos o tamanho do mandato com o compromisso da reeleição, mas faltou a segunda parte, que foi a releição. Por isso houve a correção. Outra coisa é dar condição para mandato indefinido. Isso não - avisa.
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