O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o governo do PT, em especial a partir de 2008, criou uma “explosão do atraso”, que levou à “falência” do Estado brasileiro. O tucano afirmou que o Brasil desenvolveu uma “compulsão pelo gasto público” e expandiu a tributação ao limite Em apresentação durante evento do banco Credit Suisse, com centenas de pessoas ligadas ao mercado financeiro, ele deu sua receita para tirar o Brasil da crise, que passa por privatizações e alterações na Lei de Responsabilidade Fiscal.
“A partir da crise, houve uma explosão do atraso, porque se inventou a nova matriz econômica que de nova não tem nada, se resume a aumentar o crédito, aumentar o consumo e isso vai gerar investimento. Isso levou a quê? À falência do Estado”, afirmou.
Política deve levar Brasil a novos “rebaixamentos” na economia em 2016
Leia a matéria completaPara Fernando Henrique, o início das ações anticíclicas até tinham algum mérito, pois o Estado precisa agir num momento de recessão internacional para estimular a indústria, a atividade econômica, mas houve exagero. O ex-presidente apontou que o governo contornou limitações impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, como a não utilização de bancos estatais para financiar o Tesouro, com as chamadas pedaladas fiscais, e foi além, usando o BNDES e até fundos de pensão de servidores na estratégia de estimular a economia.
O ex-presidente argumentou que as medidas geraram um bem-estar imediato, sem pensar nas consequências de longo prazo para o País, e disse que a eleição de Dilma em 2010 foi consequência dessa euforia na população. “Agora vivemos a quebra da euforia, depois da recriação de mecanismos fiscais altamente condenáveis “
FHC disse que houve também “falência do Tesouro Nacional”, com o governo se endividando crescentemente, com o uso da Petrobras para tentar esticar o crescimento e controlar a inflação de forma irresponsável, desmonte de marcos regulatórios que levaram a perda de investimento em infraestrutura e na própria exploração do pré-sal, que é vitrine do governo do PT.
Apesar do cenário sombrio, o ex-presidente lembrou que o País já passou por crises piores, como na hiperinflação dos anos 1980, e conseguiu se recuperar. FHC afirmou que o desfecho do processo de impeachment - dando a entender que Dilma Rousseff deve continuar na Presidência e seu adversário, presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-R) pode cair -, pode representar uma janela de oportunidade para Dilma. “Ela tentou apagar o fogo com o ministro Levy e não deu certo. Agora vamos ver o que ela vai tentar fazer. A continuidade desse processo com o Cunha, mal ou bem, é a oportunidade para que se mudem as coisas.”
Para ele, a privatização é o caminho. “Vamos ter que privatizar, não tem mais jeito, mas com controle, não vai ser na bacia das almas. Vamos ter que repor a Lei de Responsabilidade Fiscal, aplicada ao governo federal, tem mecanismos”, disse sem detalhar quais mudanças seriam necessárias para um maior controle da LRF.
FHC também disse que o Brasil perdeu “um bom momento”, com o boom de commodities no início do governo Lula, mas que precisa ainda sair do isolamento no comércio internacional. Para ele, são necessárias, além de medidas duras, mudanças simples para estruturar o crescimento. Ele citou a reforma da Previdência e a flexibilização das leis trabalhistas. “Não adianta inventar a roda, são coisas simples. A Previdência tem que botar idade mínima, na relação trabalhista tem que botar uma proposta que nós fizemos lá atrás, que foi deixada à margem, uma oportunidade para as partes se organizarem independentemente. Não mexe na lei, mas que dê flexibilidade ao mercado de trabalho.”
Do lado positivo, Fernando Henrique disse ver um crescente consenso entre economistas sobre o que precisa ser feito no País “Temos que conduzir esse novo consenso. Ninguém muda esse País se não houver certa convergência de opiniões em uma certa direção”, afirmou. FHC disse ainda que as mudanças precisam extrapolar Brasília e envolver a sociedade, os sindicatos, as igrejas, as universidades, os movimentos sociais, o empresariado Para ele, é o jeito de fazer o Congresso aprovar as medidas que o País precisa. “Tem que ser propagado, se não entrar na consciência das pessoas, o presidente não vai conseguir fazer.”
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