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A Igreja Católica não vai arredar pé de condenar o sexo antes do casamento, mesmo que a contrapartida da defesa das doutrinas seja o afastamento de fiéis. O novo secretário-geral e porta-voz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Dimas Lara Barbosa, que assume o cargo amanhã, poucas horas antes da chegada do Papa Bento XVI ao Brasil, afirmou nesta terça-feira que a sociedade atual cultiva o 'senso do descartável' e condenou a prática do 'ficar', comum entre adolescentes e jovens.
- O senso do descartável do 'ficar', que era próprio das garotas de programa, é hoje vivenciado pelas adolescentes. Os meninos apostam entre eles para saber quem fica com mais garotas numa noite. No dia seguinte, eles não sabem nem o nome delas, o que significa que essa pessoa, com quem 'ficou', não vale absolutamente nada. O problema é grave e atinge adolescentes e pré-adolescentes - afirmou Dom Dimas.
Dom Dimas falou sobre a sexualidade ao responder sobre a posição da Igreja sobre o aborto. A discussão em torno do assunto foi transformada em polêmica nesta terça, véspera da chegada do Papa.
Em entrevista a rádios católicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou um dia antes que pessoalmente se opõe ao aborto, mas entende as 'jovens desesperadas por uma gravidez indesejada'. O tema é um dogma da Igreja Católica. Em Brasília, evangélicos e católicos realizam nesta terça a marcha 'Clamor pela vida, contra o aborto' na Esplanada dos Ministérios. O vice-presidente, José Alencar, que vai receber membros do grupo, disse que o aborto é 'a morte de uma vida '.
O porta-voz da Presidência da República afirmou que Lula não deve tratar de assuntos polêmicos, como aborto e preservativos, durante o encontro com o Papa.
Sexo é a bola da vez, diz Igreja EFEPara o novo porta voz da CNBB, o sexo 'é a bola da vez' numa espécie de 'relativismo ético' que busca afastar a Igreja dos debates da sociedade, como ocorreu no passado, durante o regime militar, quando a Igreja foi acusada de politização. Ele afirma que existe uma mentalidade de laicismo, que quer transformar a religião em algo de foro íntimo e que não deveria opinar sobre 'quase tudo' na sociedade.
- Este não foi e não é o espírito da Igreja e do evangelho. A fé e a vida são um todo - afirmou.
Dom Dimas disse que a Igreja não pode agir como setores da sociedade que trabalham com base em pesquisas de opinião pública e mudam seu discurso de acordo com elas. Para o bispo, a pesquisa serve para direcionar os investimentos e a capacitação, mas não para mudar o evangelho.
E citou Jesus, quando ele indagou aos apóstolos se eles também queriam ir embora e deixá-lo sozinho. Perguntado se a Igreja estaria disposta a ficar sozinha e deixar que os fiéis se afastem, Dom Dimas respondeu que a citação é uma 'última análise'.
- Precisamos de pessoas que sonhem em mudar o mundo e não apenas em se adaptar a ele - afirmou.
A polêmica do aborto e a noite 'caliente'
Dom Dimas condenou o aborto e afirmou que ele é uma parte da violência, que banaliza a vida. Segundo ele, muitas das campanhas do governo são vistas com reserva pela Igreja porque o planejamento deve ser competência da família e não do Estado. Citou uma campanha em que um anjo e um diabo foram usados para sugerir o uso de camisinha no carnaval a um rapaz, diante de uma moça que se oferecia para 'um programa legal'.
- O anjinho dizia não vai, você não trouxe camisinha. Então o diabo dizia: 'você é um idiota'. Oras, ele só é chamado de idiota porque perdeu a oportunidade de uma noite 'caliente' - diz o bispo.
Dom Dimas disse que muitas das propagandas incentivam o sexo precoce. Perguntado se a Igreja não estaria ultrapassada porque é assim, afinal, que a sociedade se comporta, o bispo foi enfático:
- Se é assim que ela se comporta, não é o que a Igreja apresenta em sua missão.
Plebiscito
O novo porta-voz da CNBB afirmou que, no lugar de fazer plebiscito para discutir o aborto, o Ministério da Saúde deveria fazer plebiscito para discutir a saúde pública.
- Canso de ver mulheres gestantes andando sozinhas com soro no braço em hospitais em busca de atendimento médico. È este o tipo de saúde pública que se espera do governo, com hospitais que tenham atendimento, UTI neonatal, UTI para as mães e acompanhamento das crianças que tiveram parto de risco até oito anos de idade, para que não tenham seqüelas. É esta a discussão - explicou.
Para ele, o maior desafio da Igreja durante os próximos anos é fazer com que o ser humano seja visto de forma integral e valorizado em todas as suas dimensões.
- Só recentemente acordaram para o problema dos deficientes físicos. Só consideram o ser humano em sua fase produtiva, seus dotes físicos, culturais ou mentais. Os outros são transformados em uma espécie de refugo - criticou.