A força-tarefa da Operação Lava Jato , em Curitiba, enviou na última quinta-feira (26) à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma lista de investigações em curso sobre o banco BTG Pactual, de propriedade de André Esteves, nas quais aparecem indícios sobre a relação da instituição com o pecuarista José Carlos Bumlai. Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai foi preso semana passada, em Brasília, um dia antes da prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) .
Segundo os documentos, o banco comprou uma fazenda de propriedade dos filhos de Bumlai, em 2012, por R$ 195 milhões, “em negócio tido por suspeito pela Receita Federal do Brasil”. Além dessa transação, o BTG participou, no mesmo ano, da reestruturação financeira da empresa São Fernando Açúcar e Álcool, que também pertencia aos filhos de Bumlai.
Os dois fatos pesaram na decisão de manter André Esteves atrás das grades, convertendo sua prisão de temporária em preventiva. Segundo trecho do documento, “a Operação Lava Jato sempre teve, em seu escopo apuratório, fatos e negócios com elevado potencial para envolver o banco BTG Pactual. Nesse sentido, como evidenciado pela prisão preventiva de José Carlos Bumlai, a investigação adentrou vertente adicional que tangencia muito de perto interesses bastante sensíveis de André Esteves: conforme se viu, o banco BTG Pactual fez negócios altamente improváveis - e escassamente explicáveis - com filhos do pecuarista”.
Uma das empresas do pecuarista, a São Fernando Energia, recebeu R$ 104 milhões em julho de 2012 do BNDES, por meio do BTG Pactual e do Banco do Brasil. Na época, contava com sete funcionários. Em agosto passado, o BNDES entrou na Justiça com pedido de falência da empresa. Em despacho apresentado à Justiça, o Ministério Público Federal (MPF) cometeu um erro, atribuindo o empréstimo realizado em 2009 ao ano de 2005. As dívidas das empresas de Bumlai superam R$ 1 bilhão, dos quais cerca de R$ 400 milhões com o BNDES.
Segundo as investigações da procuradoria, “André Esteves tem claro interesse de que não venham à tona, em colaborações premiadas, aportes probatórios direta ou indiretamente vinculados a esses assuntos.” De acordo com o ofício, na reunião ocorrida em 4 de novembro passado, gravada por Bernardo Cerveró e que levou à prisão de Esteves e de Delcídio, fica claro acordo firmado entre o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, para que, caso firmassem acordo de colaboração premiada, omitissem esses temas.
No despacho em que determinou a prisão preventiva de Bumlai, o juiz Sergio Moro afirmou que há prova do envolvimento do pecuarista em corrupção “mediante vantagem indevida concedida aos dirigentes da Petrobras e a ele mesmo, José Carlos Bumlai, e ao Partido dos Trabalhadores”. Três delatores da Lava Jato relataram o acerto. O principal deles é Salim Schahin, sócio do Grupo Schahin, que teve seu acordo de delação premiada homologado na semana passada pela Justiça. Procurado pela reportagem, o advogado Arnaldo Malheiros, contratado para defender Bumlai, não retornou as ligações.
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