Apesar de ter sido confirmado no cargo depois de dias na corda bamba, o secretário de segurança pública do Paraná, Fernando Francischini, ainda terá que se ver com o comando da Polícia Militar (PM). A corporação repudiou com veemência a alegação do secretário de que a culpa dos excessos na “batalha do Centro Cívico”, na semana passada, é toda da PM. O mal-estar causado pela declaração fez com que a relação entre o secretário e a tropa teria se tornado “insustentável”.
Secretário diz que foi mal interpretado
Francischini afirma que foi “mal interpretado em alguns pontos” na entrevista coletiva que concedeu na última segunda-feira (4). Em nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública, o secretário pediu “compreensão” aos coronéis da PM e manifestou apoio à corporação.
Diz a nota: “Pela representatividade das manifestações de apoio que recebi das principais entidades que representam os profissionais de segurança pública do nosso estado e do país, vejo que estamos no caminho certo no combate à criminalidade. Contudo, espero que os Coronéis compreendam que fui mal interpretado em alguns pontos de uma entrevista. Por isso, reafirmo meu total apoio a todas as operações da Polícia Militar, compartilhando todas as responsabilidades inerentes à Secretaria”.
Análise: secretário terá que recuperar confiança da PM
Para especialistas ouvidos pela reportagem, Francischini terá que se empenhar em recuperar o apoio da Polícia Militar (PM), sob risco de comprometer a eficácia da segurança pública.
Segundo Algacir Mikalovski, falando em nome do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, o secretário precisa ter “apoio irrestrito” das forças policiais para conseguir trabalhar. “Não podemos ter um descompasso entre a secretaria e as polícias, é importante até para a contenção da criminalidade”, afirma.
A rixa entre PM e o comando da secretaria poderia ser contornável, na visão de Guaracy Minguardi, especialista em segurança pública. “Mas neste caso em específico do Paraná, como ficou muito mal para a polícia, teve muita repercussão, ficar jogando a culpa para o outro pode complicar mais ainda”.
Para Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o secretário “não pode dizer ‘a culpa não é minha’, se ele é chefe, tem que saber o que está acontecendo e tentar evitar”. “Pode ser que ele tente [evitar] e não consiga, mas daí teria que botar a boca no trombone antes do desastre acontecer”, continua.
Mingardi diz ainda que Francischini foi “no mínimo omisso” por não ter agido para conter excessos no uso de força contra os manifestantes no último dia 29. “A secretaria é a chefia política da segurança, então ele teria que fazer o meio de campo com o governo e a polícia, planejar a política de segurança e fazer com se cumpra isso”, afirma o especialista.
Em coletiva de imprensa na última segunda-feira (4), Francischini afirmou que as decisões que resultaram em excessos e violência pela PM teriam sido tomadas diretamente pela própria PM. Desde então a afirmação tem causado mal-estar na corporação. O comandante-geral, César Kogut, chegou a deixar o cargo à disposição.
Em uma carta endereçada ao governador Beto Richa (PSDB) e em nome do comando da PM, Kogut defende que não se pode atribuir à corporação “a pecha de irresponsável ou leviana (...) pois todas as ações foram tomadas seguindo o plano de ações elaborado o qual foi aprovado pelo escalão superior da SESP, tendo inclusive o Senhor Secretário participado de diversas fases do planejamento”.
Ainda na carta, Kogut ressalta que “no desenrolar dos fatos o Senhor Secretário de Segurança Pública era informado dos desdobramentos” das ações no Centro Cívico. Mais de 200 pessoas ficaram feridas no confronto.
Mais enfática, a Associação dos Oficiais Policiais e Bombeiros do Paraná (Assofepar) eximiu a PM dos erros que levaram até o tumulto no Centro Cívico (a crise financeira do estado e a necessidade de mexer na previdência dos servidores). Afirmou que a PM foi um “instrumento” que apenas cumpria ordens. “Conclui-se que se a casa está torta, é provável que a responsabilidade do pedreiro e do engenheiro sejam maiores que da própria ferramenta”, diz texto divulgado pela entidade.
O Ministério Público do Paraná (MP-PR), que está investigando as agressões do dia 29, irá se debruçar sobre quem responderá criminalmente as ações daquele dia, considerando a “completa cadeia de comando e subordinação”, de acordo com nota divulgada pela instituição.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública, mas não recebeu resposta até o momento.
Apoio
Ao mesmo tempo, entidades ligadas à segurança pública se manifestaram em apoio a Francischini e à sua permanência no cargo. Segundo nota divulgada pelo Solidariedade, partido do secretário enquanto deputado federal, figuram entre as entidades o Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra), Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar), Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e o Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Conesp).
“Continuaremos trabalhando de forma harmoniosa com a Secretaria de Segurança Pública e seu titular Fernando Francischini, na certeza de que alcançaremos nossos objetivos”, diz a nota do Sinclapol.
A Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), que representa empresários de restaurantes e casas de entretenimento de Curitiba, também veio à público defender o secretário. “É importante a continuidade no cargo para dar sequência nos projetos e ações desenvolvidas e elaboradas com diversos segmentos da sociedade”, diz a nota assinada pelo presidente da Abrabar, Fabio Aguayo.
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