Uma semana após a “batalha do Centro Cívico”, professores e governo do estado mantiveram o clima de confronto em audiência pública realizada nesta quarta-feira (6) pela Comissão de Direitos Humanos do Senado. Cerca de 30 manifestantes e representantes de sindicatos que participaram do conflito, grande parte ainda com machucados visíveis, viajaram para Brasília e falaram sobre excessos cometidos durante a operação policial. Do outro lado, a gestão Beto Richa (PSDB) não enviou membros do primeiro escalão e acabou defendida por uma coalizão de lideranças nacionais tucanas e da Frente Parlamentar de Segurança Pública.
Cúpula tucana e bancada da bala defendem Richa contra Gleisi e Requião
Na falta de representantes do primeiro escalão, a cúpula do PSDB no Senado e representantes da Bancada da Bala, que se dedica a temas de segurança pública no Congresso, fizeram a defesa política do governo Beto Richa (PSDB). Adversários de Richa na eleição de 2014, os senadores Gleisi Hoffmann e Roberto Requião (PMDB) comandaram as críticas ao tucano. “Havia meios para os sindicatos recorrerem ao próprio Judiciário. Democracia tem que ser exercida pelas vias democráticas”, disse o senador Aloysio Nunes (PSDB), vice na chapa de Aécio Neves para a Presidência da República, em 2014. “Não vejo nenhuma irregularidade praticada pelo governo Beto Richa. Não se está discutindo roubalheira na Paranaprevidência, mas remanejamento de recursos”, afirmou Cassio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado.
Da Bancada da Bala, compareceram à reunião os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ), Major Olimpio (PDT), Alberto Fraga (DEM), Capitão Augusto (PR-SP) e Delegado Waldir (PSDB). Assim como eles, o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini, quando exercia mandato deputado federal, era do “núcleo duro” da Frente Parlamentar de Segurança Pública. “Em todos os lugares do mundo onde houver confrontação vai haver lesões. Com uma caneta é possível torturar até a morte”, disse Major Olimpio, em defesa da ação da PM no Centro Cívico.
Requião ironizou os excessos que foram cometidos contra os manifestantes. “Se você passar agora no paiol de munição da polícia militar do Paraná, vai ver que está tudo vazio. Foi tudo gasto no Centro Cívico”.
Gleisi disse que é preciso buscar a responsabilização de Richa. “O governo quebrou o Paraná e não teve competência para debater com os funcionários públicos. É preciso lutar para impedir a repetição de imagens que só envergonham a história do Paraná.”
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado criticou a postura de Richa de não ter enviado pelo menos um secretário de estado para participar da audiência. “Mostra a forma como a gestão está encarando um tema dessa gravidade.”
Na mesa de debates, coube ao assessor especial de Políticas Públicas para a Juventude, Edson Lau Filho, falar em nome do governo estadual. Tanto Richa quanto o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini, foram convidados e não compareceram à reunião. A audiência foi convocada a pedido de quatro senadores do PT, incluindo a paranaense Gleisi Hoffmann, o que reforçou a polarização política da discussão.
Presidente da Juventude do PSDB do Paraná, Lau Filho manteve o tom de responsabilização dos sindicatos pelo começo do confronto. “Os sindicatos são mestres na arte da vitimização e do drama”, declarou. “Não se pode deixar de observar o óbvio: houve postura de confronto por todos os lados.”
No começo da fala, o assessor, de 28 anos, se comparou ao personagem bíblico Daniel, por “entrar na cova dos leões”. Ele estava em Brasília para outra reunião com representantes do governo federal, mas acabou designado de última hora para falar em nome do governo do estado. Preparou um texto para ler durante a audiência na noite anterior e usou um celular para visualizá-lo.
Lau Filho também fez críticas à gestão Roberto Requião (PMDB) na condução da Paranaprevidência. Foi interrompido pelo senador peemedebista, que falou que ele “estava mentindo”. “É um menino que está lendo um texto que não foi nem ele que fez”, disse Requião.
Richa também foi defendido na mesa pelo deputado federal Ricardo Barros (PP), que compôs o debate como líder do governo Dilma Rousseff na Câmara. Barros citou que Dilma também envia neste momento ao Congresso medidas de austeridade fiscal, mas que essas votações não são bloqueadas por sindicatos. Ele também disse que a APP-Sindicato “instruiu os manifestantes para o confronto”. Barros é pai da deputada estadual Maria Victória (PP), da base aliada de Richa na Assembleia Legislativa, e marido da vice-governadora e chefe do Escritório de Representação do Paraná em Brasília, Cida Borghetti (Pros).
“As imagens mostram o tamanho da violência contra pessoas completamente desarmadas. Agora estão dizendo que até aquilo que usamos como proteção era sinal de que estávamos preparados para o combate”, rebateu na sequência a professora Cintia Xavier, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
A professora Luzia Marta Belini, da Universidade Estadual de Maringá, relatou uma conversa que teve com Barros antes da audiência. Segundo ela, o deputado disse que as feridas do confronto “saram”. “Mas não saram não, elas são muito profundas.” Luzia passou mal e deixou a audiência para ser atendida pelo serviço médico do Senado.
O secretário-geral da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unioeste), Denny William da Silva, confirmou que os professores trabalhavam com hipótese de ocupar o plenário novamente, assim como havia ocorrido em fevereiro. “Estávamos dispostos, sim, porque estávamos no limite. Quando não há diálogo, não dá para falar em democracia.”
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