O Ministério Público do Paraná , que também está investigando as agressões do dia 29, vai se debruçar sobre quem responderá criminalmente as ações.| Foto: Aliocha Mauricio/Tribuna do Paraná

Apesar de ter sido confirmado no cargo depois de dias na corda bamba, o secretário de segurança pública do Paraná, Fernando Francischini, ainda terá que se ver com o comando da Polícia Militar (PM). A corporação repudiou com veemência a alegação do secretário de que a culpa dos excessos na “batalha do Centro Cívico”, na semana passada, é toda da PM. O mal-estar causado pela declaração fez com que a relação entre o secretário e a tropa teria se tornado “insustentável”.

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Secretário diz que foi mal interpretado

Francischini afirma que foi “mal interpretado em alguns pontos” na entrevista coletiva que concedeu na última segunda-feira (4). Em nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública, o secretário pediu “compreensão” aos coronéis da PM e manifestou apoio à corporação.

Diz a nota: “Pela representatividade das manifestações de apoio que recebi das principais entidades que representam os profissionais de segurança pública do nosso estado e do país, vejo que estamos no caminho certo no combate à criminalidade. Contudo, espero que os Coronéis compreendam que fui mal interpretado em alguns pontos de uma entrevista. Por isso, reafirmo meu total apoio a todas as operações da Polícia Militar, compartilhando todas as responsabilidades inerentes à Secretaria”.

Análise: secretário terá que recuperar confiança da PM

Para especialistas ouvidos pela reportagem, Francischini terá que se empenhar em recuperar o apoio da Polícia Militar (PM), sob risco de comprometer a eficácia da segurança pública.

Segundo Algacir Mikalovski, falando em nome do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná, o secretário precisa ter “apoio irrestrito” das forças policiais para conseguir trabalhar. “Não podemos ter um descompasso entre a secretaria e as polícias, é importante até para a contenção da criminalidade”, afirma.

A rixa entre PM e o comando da secretaria poderia ser contornável, na visão de Guaracy Minguardi, especialista em segurança pública. “Mas neste caso em específico do Paraná, como ficou muito mal para a polícia, teve muita repercussão, ficar jogando a culpa para o outro pode complicar mais ainda”.

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Para Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o secretário “não pode dizer ‘a culpa não é minha’, se ele é chefe, tem que saber o que está acontecendo e tentar evitar”. “Pode ser que ele tente [evitar] e não consiga, mas daí teria que botar a boca no trombone antes do desastre acontecer”, continua.

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Mingardi diz ainda que Francischini foi “no mínimo omisso” por não ter agido para conter excessos no uso de força contra os manifestantes no último dia 29. “A secretaria é a chefia política da segurança, então ele teria que fazer o meio de campo com o governo e a polícia, planejar a política de segurança e fazer com se cumpra isso”, afirma o especialista.

Em coletiva de imprensa na última segunda-feira (4), Francischini afirmou que as decisões que resultaram em excessos e violência pela PM teriam sido tomadas diretamente pela própria PM. Desde então a afirmação tem causado mal-estar na corporação. O comandante-geral, César Kogut, chegou a deixar o cargo à disposição.

Em uma carta endereçada ao governador Beto Richa (PSDB) e em nome do comando da PM, Kogut defende que não se pode atribuir à corporação “a pecha de irresponsável ou leviana (...) pois todas as ações foram tomadas seguindo o plano de ações elaborado o qual foi aprovado pelo escalão superior da SESP, tendo inclusive o Senhor Secretário participado de diversas fases do planejamento”.

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Ainda na carta, Kogut ressalta que “no desenrolar dos fatos o Senhor Secretário de Segurança Pública era informado dos desdobramentos” das ações no Centro Cívico. Mais de 200 pessoas ficaram feridas no confronto.

Mais enfática, a Associação dos Oficiais Policiais e Bombeiros do Paraná (Assofepar) eximiu a PM dos erros que levaram até o tumulto no Centro Cívico (a crise financeira do estado e a necessidade de mexer na previdência dos servidores). Afirmou que a PM foi um “instrumento” que apenas cumpria ordens. “Conclui-se que se a casa está torta, é provável que a responsabilidade do pedreiro e do engenheiro sejam maiores que da própria ferramenta”, diz texto divulgado pela entidade.

O Ministério Público do Paraná (MP-PR), que está investigando as agressões do dia 29, irá se debruçar sobre quem responderá criminalmente as ações daquele dia, considerando a “completa cadeia de comando e subordinação”, de acordo com nota divulgada pela instituição.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública, mas não recebeu resposta até o momento.

Apoio

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Ao mesmo tempo, entidades ligadas à segurança pública se manifestaram em apoio a Francischini e à sua permanência no cargo. Segundo nota divulgada pelo Solidariedade, partido do secretário enquanto deputado federal, figuram entre as entidades o Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra), Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná (Sinpoapar), Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e o Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Conesp).

“Continuaremos trabalhando de forma harmoniosa com a Secretaria de Segurança Pública e seu titular Fernando Francischini, na certeza de que alcançaremos nossos objetivos”, diz a nota do Sinclapol.

A Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), que representa empresários de restaurantes e casas de entretenimento de Curitiba, também veio à público defender o secretário. “É importante a continuidade no cargo para dar sequência nos projetos e ações desenvolvidas e elaboradas com diversos segmentos da sociedade”, diz a nota assinada pelo presidente da Abrabar, Fabio Aguayo.