O assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse que o projeto de anistia para o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu não será discutido no encontro nacional do PT, em Salvador. De acordo com ele, o entendimento do governo, do partido e do próprio Dirceu é que o ponto central dos debates deverá ser a coalizão com os partidos no Congresso e a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

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A abertura do encontro, que se encerra neste sábado com a festa em comemoração aos 27 anos do partido, foi marcada por uma homenagem a Dirceu. A campanha pela recuperação dos direitos políticos do ex-ministro foi lançada, ainda que de forma velada, em um ato organizado pela ala da Juventude Petista, ligada ao chamado Campo Majoritário, corrente que comanda o PT há mais de 12 anos sob a batuta de Dirceu. Criticada como inoportuna por vários setores do partido, a campanha pela anistia deve permear o encontro, embora não faça parte da programação oficial.

Afastado da direção nacional do PT, Dirceu está cada vez mais ativo dentro da legenda. Ele prega a organização do partido para se manter no governo além do segundo mandato de Lula.

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- Oito anos é muito pouco tempo para fazermos a transformação necessária. O Lula é maioria no país, mas o PT ainda não é - discursou Dirceu, na noite desta quinta-feira.

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que considera a campanha pela anistia de Dirceu justa, porém inoportuna, avalia que o principal desafio do PT é se fortalecer para a sucessão presidencial em 2010, quando pela primeira vez não terá Lula como candidato.

- O voto popular deu a ressurreição do PT, mas fomos eleitos para fazer mais pelo povo e não para ficarmos nos imolando em praça pública - disse o governador, em entrevista à Reuters.

Para Jaques Wagner, o bom desempenho do partido nas últimas eleições não significa que "tenha sido decretada a anistia ou o perdão dos pecados do PT". Segundo ele, o partido "não foi condenado à morte como muitos esperavam".

- O eleitor nos deu uma segunda chance, porque acha que produzimos mais benefícios do que prejuízos, mas também nos avisou para não cometermos mais erros como os que foram cometidos - avaliou.

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Clima de carnaval e guerra marcam a festa em Salvador

Ao contrário do ano passado, quando o PT, em plena crise do mensalão, optou por uma comemoração franciscana, o aniversário deste ano será celebrado em grande estilo, com direito a hotel cinco estrelas, show do Ilê Ayê, e festa para cinco mil pessoas em um dos mais badalados espaços da capital baiana.

Nos debates internos, porém, o clima de carnaval dará lugar ao de guerra. Um grupo de mais de 200 petistas, entre eles três governadores, quer aproveitar o momento para iniciar um movimento de redivisão interna de poder e revisão das práticas que levaram o partido às suas maiores vitórias, mas também às piores crises.

O objetivo do chamado grupo refundacionista, agrupado em torno do documento "Mensagem ao Partido", é dividir o Campo Majoritário. Redigido inicialmente pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o documento incorporou sugestões e alterações de nomes históricos no partido, muitos deles ligados ao Campo Majoritário mas descontentes com os rumos e os métodos de direção do partido.

A ausência de muitos líderes do Campo Majoritário na última reunião da corrente, em São Roque, é interpretada como um sinal de enfraquecimento da tendência hegemônica. No entanto, nomes importantes do PT que têm demonstrado insatisfação com os métodos da direção, como o anfitrião da festa, o governador da Bahia, Jaques Wagner, o ex-governador do Acre Jorge Viana, o ministro do Combate à Fome, Patrus Ananias, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, se mostraram reticentes em assinar o texto.

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