Os três senadores do Paraná – Alvaro Dias (PV), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB) - discursaram na sessão do Senado desta terça-feira (9), na qual se vota o parecer do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG) a favor do julgamento da presidente afastada, Dilma Rousseff, por crime de responsabilidade. Alvaro foi o primeiro a falar entre os paranaenses. Iniciou seu discurso pouco antes das 19 horas, para um plenário já desatento, após 23 manifestações na tribuna.
O senador destacou a “convocação das ruas” como um “pressuposto fundamental” para a instauração do processo contra Dilma Rousseff. “Sem apelo popular, não há possibilidade de sucesso em qualquer tentativa de impeachment”, afirmou ele.
“Mas, além disso, há a consagração de argumentos jurídicos irretocáveis, conciliados no relatório competente do senador Antonio Anastasia”, acrescentou Alvaro. “Alega-se que o laudo pericial teria inocentado a presidente Dilma e isso não é verdade. A perícia confirma a existência das pedaladas fiscais. O que o documento não faz, e nem poderia fazer, é apontar responsabilidades, que é uma tarefa que cabe a nós”, argumentou ele.
Apesar de o ex-tucano defender o afastamento definitivo da petista, o senador também não está afinado com o governo Temer. Longe da cúpula de oposição a Dilma Rousseff desde a migração para o PV, Alvaro perdeu o protagonismo no embate contra os governos petistas.
Gleisi
Gleisi foi à tribuna por volta das 20h30, reforçando a tese do golpe “iniciado ainda nas eleições de 2014”, quando tucanos pediram a recontagem dos votos: “Não nos estados onde os tucanos foram eleitos. Pediram a recontagem dos votos só da presidente Dilma”, ironizou ela. A paranaense também mencionou “o papel político do Tribunal de Contas da União”, a “ajuda de Eduardo Cunha” e “a participação conspiratória de Michel Temer” como elementos do golpe. “Como confiar em um vice que traiu sua companheira de chapa?”, alfinetou ela.
“Quais crimes estão sendo trazidos? Crimes descontruídos por uma perícia e depois pelo Ministério Público, que disse que as pedaladas fiscais não eram operações de crédito e, por isso, não consistiam em infração à Lei de Responsabilidade Fiscal. Não pode ser um impeachment pelo conjunto da obra. Quem julga o conjunto da obra é a urna”, disse ela, acrescentando que, no Senado, “o rito e o processo ficou mais importante do que o conteúdo”.
Ao final, Gleisi chamou os detratores de Dilma Rousseff de “hipócritas”, gerando protestos no plenário. “Vamos convocar eleições gerais. Qual é a moral deste Congresso Nacional para julgar a presidente?”, atacou ela.
Requião
Requião foi o último paranaense a discursar, por volta das 22 horas. O peemedebista fez um pronunciamento duro contra a cúpula do PMDB e contra a “hipocrisia” de senadores envolvidos em escândalos de corrupção. “São 35 senadores citados por Marcelo Odebrecht como beneficiários de caixa dois. Se os 35 se declarassem suspeitos para votar aqui, não haveria votos suficientes para seguir com o processo de impeachment”, atacou ele. “A verdade é que nada mais é sólido e confiável. A Lava Jato produziu uma terra política arrasada. Não há partido que escape sem nódulos, nem o governo interino”, continuou Requião.
Para o peemedebista, Dilma deve voltar ao mandato e convocar um plebiscito, para que a população decida sobre a realização de uma nova eleição. “Não vou gritar ‘fora, Temer’ ou ‘volta, querida’. Precisamos ultrapassar esta dicotomia. Quero que Dilma volte e convoque o plebiscito. Ela comandaria um governo de transição”, sugeriu ele.
Requião concluiu seu discurso com o poema “Roteiro”, do português Sidónio Muralha, famoso nos discursos do peemedebista. “Se caráter custa caro, pago o preço”, discursou ele.