Superávit
Economia pode ser insuficiente
Folhapress
O ajuste anunciado ontem pelo governo federal pode ser insuficiente para atingir a meta de superávit primário, ou seja, da parcela da receita da União destinada ao abatimento da dívida pública. Uma análise dos poucos dados e projeções divulgadas pelo governo mostra que o corte produziria neste ano um superávit equivalente a 2,9% do PIB abaixo da meta de 3,1%, que vem sendo descumprida desde 2009. O valor esperado para este ano é de R$ 117,9 bilhões, dos quais R$ 81,8 bilhões do governo federal, e o restante dos estados e municípios.
O governo federal anunciou ontem um corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União deste ano um recorde na história do país, equivalente a quase o dobro do contigenciamento feito em 2010, o maior da era Lula. A redução de despesas correspondente a 2,47% dos R$ 2,023 trilhões que serão gastos pelo governo em 2011 equivale ao orçamento de dois anos do governo paranaense. A medida foi elogiada do ponto de vista econômico, mas é vista como uma estratégia política equivocada. Apesar de o Planalto não ter detalhado os cortes, a expectativa é que seja feita uma "tesourada" nas emendas parlamentares, o que pode despertar uma reação feroz do Congresso contra a presidente Dilma Rousseff (PT).
O corte orçamentário já era esperado, mas foi precipitado pelo governo federal, pressionado pela piora das expectativas para a inflação. O anúncio foi feito pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) mesmo sem a conclusão dos estudos sobre os setores e programas atingidos. Com a revisão dos gastos, o governo prevê crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% para este ano. Mas, para esta conta fechar, o Planalto manteve a previsão do salário mínimo de R$ 545, apesar das pressões contrárias.
Contratações e PAC
Os ministros anunciaram que estão suspensas as nomeações e contratações de concursados. Também foi congelada a compra ou aluguel de veículos e imóveis para uso administrativo do Executivo. Um decreto presidencial também vai reduzir os gastos com diárias de viagens em 50%. Miriam Belchior ainda anunciou uma auditoria na folha de pagamento da União, que hoje consome cerca de R$ 199 bilhões anuais.
O congelamento dos gastos também vai afetar o projeto de desoneração de impostos na folha salarial, uma promessa de campanha de Dilma. A proposta não será mais implantada neste ano.
Todos os ministérios serão atingidos pelo corte. E o BNDES também deixará de receber aportes da União que estavam previstos. Mas o governo federal garantiu que os programas sociais e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não sofrerão contingenciamento. "Os cortes vão ser maiores nos gastos de custeio", explicou Miriam.
Esfriar a economia
"Essa consolidação fiscal não é como aquele velho ajuste fiscal, que levava à retração da economia e dos investimentos, mas serve para buscar seguir o crescimento sustentável", afirmou Mantega. O objetivo dos cortes é esfriar a economia por meio da redução do consumo, principalmente, e do investimento público. Espera-se, dessa forma, ajudar o Banco Central a segurar a inflação com menor necessidade de aumento dos juros.
Para o economista e cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília, foi "excelente" o corte anunciado. "É uma demonstração de seriedade. Dilma mostra que não será um governo populista e que está comprometida com a austeridade fiscal e com o controle da inflação."
A Rosenberg Consultores Associados disse que a medida é uma "boa carta de intenções", mas indicou que as medidas não devem surtir efeito nos índices inflacionários no primeiro semestre.
Já para o cientista político Rudá Ricci, da UFMG, o corte era necessário, mas foi exagerado. A expectativa é que a redução atinja principalmente as emendas parlamentares de um total de R$ 21 bilhões previstos para os 594 congressistas neste ano, eles teriam apenas R$ 3 bilhões. "A presidente está comprando uma briga violenta com os parlamentares."
Segundo Ricci, Dilma está "colocando a faca no pescoço" dos aliados. "Estamos vendo o estilo Dilma de negociar, que vem sendo muito elogiado por analistas econômicos. Mas cuidar de um Estado não é a mesma coisa que gerenciar uma empresa. É preciso saber jogar, blefar na hora certa. E o Lula tinha muito mais habilidade."
As medidas anunciadas também decepcionaram Alexandre Ciconello, assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), ligado aos movimentos sociais. "Fazer mais com menos dinheiro e buscar a eficiência no gasto público é importante, mas é preciso repensar a política monetária. O governo faz de tudo para cumprir as metas fiscais, mas se esquece das metas sociais", afirmou.
Segundo Ciconello, apesar do compromisso de o governo não cortar verba da área social, ela é prejudicada mesmo assim. "Você tem um orçamento aprovado e discutido, daí faz o contingenciamento. A liberação daí será feita mais para o fim do ano, e isso atrapalha toda a gestão das políticas sociais."
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião