A estratégia da oposição de tumultuar a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que pretende analisar o recurso do PT contra a criação da CPI do Apagão Aéreo está dando certo. Depois de quase três horas de bate-boca, finalmente a comissão conseguiu votar o pedido de inversão de pauta, para só então começar a discutir o recurso do PT que contesta a instalação da CPI do Apagão Aéreo. (Veja no Blog do Noblat como aconteceu a obstrução na terça-feira). Já no Senado, os projetos andam. A CCJ aprovou nesta quarta parecer favorável à proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria o Fundo de Combate à Violência.
Tucano bate boca com governista
Por 41 votos a um, o governo conseguiu aprovar o requerimento de inversão de pauta. A oposição ainda pode pedir vista do recurso e adiar a votação. Um dos mais firmes na estratégia de obstrução, o deputado ACM Neto (PFL-BA) disse que o recurso do PT é um golpe.
- Está havendo um golpe contra a minoria - protestou.
- De que tamanho esse Parlamento quer ficar? Submisso ao governo? Vamos nos conduzir nos rumos da Venezuela, da Bolívia, do chavismo? - indagou o líder do PFL, Onyx Lorenzoni (RS).
Na contagem dos votos, o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), que antes teve negado pelo presidente da CCJ, Leonardo Picciani, um pedido de palavra, foi à Mesa e bateu boca com o peemedebista, que chegou a ameaçar representar contra ele no Conselho de Ética.
- A foto já foi tirada. Olha a compostura! - gritou um deputado.
Antes da votação, e já em meio ao confronto, Picciani foi acusado de truculência pelo líder da Minoria, Julio Redecker (PFL-RS), inconformado com a decisão do governista de não dar a palavra a Zenaldo Coutinho. Picciani alegou que o pedido não estava amparado no regimento.
- Não vamos admitir que V.Excelência casse a palavra da minoria. Não vá pelo caminho de não permitir o contraditório. O senhor é jovem, tem um caminho longo pela frente. Não suje a sua biografia. Sirva à democracia, e não ao governo - protestou Redecker.
O líder do PSDB, Antônio Carlos Pannunzio (SP), também reclamou da decisão de Picciani.
- Não é praxe em nenhum Parlamento do mundo tentar calar a minoria. O país vive uma crise no setor aéreo que traz enormes prejuízos à economia, por isso defendemos a instalação.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) saiu em defesa de Picciani dizendo que ele estava seguindo o regimento. Piccini agradeceu o apoio e disse que o limite de sua atuação é o regimento, por isso não deu a palavra a Zenaldo Coutinho.
- O deputado ACM Neto usou a palavra diversas vezes amparado no regimento. O pedido de Zenaldo Coutinho não tinha amparo, por isso neguei - disse Picciani.Petista admite derrota do governo
O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) tentou acalmar os colegas, pedindo bom senso na discussão, e lembrando que o pedido de vista da oposição deve adiar a discussão para outro dia. Ex-presidente da Câmara, João Paulo foi o primeiro a admitir uma possível derrota do governo.
- Como vivemos no Brasil a judicialização da política, essa CPI deverá ser instalada. Essa decisão não está nas nossas mãos.
Ele já viu esse filme, na criação na CPI dos Bingos, quando o STF determinou, por nove votos a um, que a presidência do Senado indicasse os integrantes da CPI. O governo saiu derrotado e a oposição fez da CPI uma trincheira.
Mais uma vez, a disputa opõe o Judiciário ao Legislativo. Se o ministro Celso de Mello decidir a favor da oposição, estará instalada a discórdia, já que o governo deve garantir o arquivamento da CPI na CCJ e depois no plenário, instâncias onde tem maioria. Até o momento, a aposta mais forte é de que o Supremo pode manter o entendimento adotado na CPI dos Bingos.
A oposição argumenta que a Constituição garante o direito das minorias de abrir investigações parlamentares, desde que respeitado o número mínimo de assinaturas exigido pelo regimento. No caso da Câmara, são necessárias pelo menos 171 assinaturas para instalar uma CPI, o que foi obtido. O recurso do PT, no entanto, alega que não há fato determinado para ser investigado, outra exigência regimental para criar CPIs. Na terça à noite, depois de receber líderes da oposição, o ministro Celso de Mello deu a entender que pode determinar a instalação da CPI.
- O princípio majoritário não deve prevalecer em matéria de investigação - afirmou o ministro, logo após receber os líderes da oposição.
Clima de guerra deve continuar por mais alguns dias
Em vários outros julgamentos no Supremo, o ministro deu liminares favoráveis ao direito das minorias, o que dá ainda mais esperança à oposição de obter uma resposta favorável ao mandado de segurança. No entanto, é possível que Celso de Mello, sabendo da polêmica em torno do assunto, peça mais informações à Câmara antes de dar uma liminar. Com isso, o clima de guerra e obstrução na Câmara deve se estender por mais alguns dias. De qualquer forma, a disputa entre governo e oposição não deve terminar tão cedo, já que o assunto deve parar no plenário do STF, principalmente se a decisão de Celso de Mello for favorável à oposição.
A oposição argumenta que submeter à CCJ e depois ao plenário da Câmara a instalação de CPIs é uma forma de impedir o direito das minorias, já que assim a decisão acabaria sendo sempre da maioria, nesse caso, o governo. Segundo o mandado de segurança, se o entendimento for mantido, nunca mais a minoria conseguirá aprovar CPIs no Congresso. Para o governo, a CPI não tem fato concreto e objetivo para ser investigado. O diagnóstico do caos aéreo, segundo líderes governistas, já foi feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e o governo já está adotando medidas para corrigir o problema.
Nada foi votado na Câmara no primeiro dia de obstrução
Os deputados Arlindo Chinaglia e Luiz Sergio, no plenário, durante sessão da Câmara de terça-feira - Ailton de Freitas/O Globo Oposicionistas obstruíram, nesta terça-feira, os trabalhos tanto da CCJ quanto do plenário da Câmara e, com isso, conseguiram impedir a discussão de qualquer matéria na Casa. Prometida na véspera pelos oposicionistas, a obstrução é uma forma de protesto por não ter sido instalada a CPI do Apagão Aéreo e se estendeu para o plenário, onde foram apresentados pedidos de adiamento das discussões e nenhuma matéria foi votada.
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