Pelo segundo dia consecutivo, governo e oposição trocaram acusações devido à quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Preocupado com o ambiente de tensão estabelecido, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou do Executivo a punição dos responsáveis pela violação do sigilo de Francenildo e anunciou que pretende procurar ainda esta semana o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim, para resolver o que classificou de impasse entre Legislativo e Judiciário.
Na véspera, Jobim havia recusado o recurso apresentado pelo Senado que pedia permissão para que a CPI dos Bingos pudesse retomar o depoimento do caseiro, suspenso na semana passada por liminar concedida pelo ministro Cezar Peluso.
- Invasão de privacidade é algo do fim do mundo. É atentar contra a democracia. Não podemos aceitar esse precedente. Da mesma forma, acho que chegou a hora de tentarmos acabar com esse impasse estabelecido com o Judiciário. Por isso, decidi procurar pessoalmente o ministro Jobim - adiantou Renan, que na reunião de líderes foi pressionado pela oposição para reagir às interferências do Judiciário em ações do Legislativo.
Mas foi um requerimento apresentado pela líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), solicitando a cópia das fitas do circuito interno de segurança do Senado para saber com que parlamentares de oposição o caseiro havia estado nos últimos 15 dias, que azedou mesmo o clima no plenário. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) reagiu à iniciativa da líder petista acusando-a de tentar invadir a privacidade de seus colegas.
- Eu já admiti publicamente que recebi o Francenildo em meu gabinete, que foi levado por um conhecido meu. Se a intenção é saber se ele esteve com alguém da oposição, já disse que esteve comigo. Mas não aceito a criação de um estado policial dentro do Senado e muito menos ser vigiado. Por isso estou solicitando a varredura de todos os meus telefones. Diante do que está acontecendo, suspeito que ninguém mais no país tem qualquer privacidade - protestou Antero.
Ideli confirmou a solicitação. Ela explicou que seu objetivo não era saber se Antero havia estado com Francenildo, tendo em vista que o tucano já confirmara seu encontro com o caseiro, mas saber se algum outro senador o recebera. A onda de protestos, então, tomou conta do plenário. O mais enfático partiu do senador Heráclito Fortes (PFL-PI):
- É lamentável que a líder do PT peça que se bisbilhote a vida dos gabinetes alheios. É lamentável que o governo tenha escolhido uma bisbilhoteira para liderar seu partido.
O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), entrou em campo na tentativa de acalmar os ânimos e fez um apelo para que a colega petista retirasse o requerimento e encaminhasse o pedido de investigação sobre Francenildo à Polícia Federal.
- Quero defender a líder do meu partido, que é uma grande guerreira e sempre combativa. Mas acho que a divulgação das fitas do circuito interno de segurança do Senado não vá contribuir para melhorar o ambiente na Casa. Não creio que esse seja o melhor caminho - ponderou Mercadante.
Ideli atendeu ao apelo do líder do governo, mas ressaltou que essa não foi a primeira vez que um parlamentar fez um pedido como este. Ela lembrou que a oposição no ano passado já solicitara cópia do circuito interno de segurança do Senado para comprovar que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) entrara no carro do empresário Marcos Valério de Souza, logo depois de seu depoimento à CPI do Mensalão.
- Assim como é fundamental para a democracia sabermos quem quebrou o sigilo bancário do caseiro, também é importante sabermos quais foram as motivações dele para tomar a iniciativa de denunciar o ministro Palocci. Mas não tenho problema nenhum em encaminhar o pedido de investigação para a Polícia Federal - respondeu a senadora petista.
Renan prometeu ainda solicitar ao diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, a investigação de uma suspeita levantada pelo senador Antero de que teria uma câmera direcionada o tempo todo para o seu gabinete.
- O circuito interno de câmeras foi instalado para ajudar na segurança do Senado e não para espionar ninguém - garantiu Renan.
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