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O governo do estado de São Paulo pode ter tentado acordo com a facção criminosa acusada pela onda de violência em maio por duas vezes. É o que revela o depoimento de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, a CPI do Tráfico de Armas. Os deputados se encontraram com o suposto líder da facção no último dia 8 de junho, na penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior do estado.

De acordo com Marcola, após ser transferido da penitenciária de Presidente Venceslau para a sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), no dia 12 de maio, ele conversou por algumas horas com o diretor da unidade, Godofredo Bittencourt, que teria perguntado o que era necessária como a acabar com os ataques e as rebeliões que haviam começado.

- Eu falei: 'Eu não quero nada. Eu só quero que seja cumprida a lei'. Qual que é a lei? Quando a gente é transferido, que nos dê roupa, nos dê um agasalho, que nos dê uma manta, nos dê alimentação, que nós estávamos 2 dias sem comer, nos dê alimentação, porque isso é um princípio básico, que nos dê a visita de domingo, que é a visita do Dia das Mães, pra que as nossas famílias vejam que a gente está tudo bem, que nossa integridade física, pelo menos, foi preservada. Foi pedido isso-afirmou Marcola, em seu depoimento.

De acordo com ele, Bittencourt falou que ia repassar o pedido para Nagashi Furukawa, secretário de Administração Penitenciária na época. Segundo Marcola, Furukawa se recusou a atender qualquer reivindicação.

- Foi intransigente de uma forma que não tinha sentido, porque a gente tava pedindo simplesmente pra que a lei fosse obedecida, não tava pedindo nada além disso, o senhor entendeu? E o Nagashi, num momento de intransigência - eu nunca tinha visto ele dessa forma, porque eu já venho me relacionando com ele há muitos anos -, não entendi por quê, parece um jogo político mesmo-afirmou Marcola, referindo-se à candidatura de Geraldo Alckmin à presidência.

Depois dessa primeira recusa, o governo do estado teria voltado atrás e resolvido fechar um acordo. Para isso, foi enviada no dia 13 de maio, a Presidente Bernardes, a advogada Iracema Vasciaveo, acompanhada por representantes do governo. Na ocasião, Marcola teria pedido que um outro preso, identificado como LH, transmitisse a ordem para cessar os ataques pelo celular da advogada.

Atentados

Marcola não deixou perguntas sem resposta, mas evitou citar nomes - a não ser de bandidos já mortos ou de seus adversários notórios - e informações sobre esquemas de tráfico de drogas e contrabando de armas. Ele só abandonou a cautela quando se referiu a José Márcio Felício, o Geleião, ex-chefe de sua facção. Ele acusou o ex-comparsa de ser radical por defender a prática de atentados terroristas.

- Ele queria explodir a Bolsa de Valores (de São Paulo) - disse o preso.

No depoimento Marcola, que barbarizou São Paulo com rebeliões em massa tanto em 2001 como este ano, tenta passar a imagem de uma facção criminosa preocupada essencialmente com o bem-estar da população carcerária - o sistema paulista abriga cerca de 125 mil presos. Ele disse que a organização surgiu em 1993 e se consolidou dois anos depois para enfrentar problemas como o estupro e a epidemia de crack que tomava conta das prisões paulistas.

Perde a linha

Marcola tentou dizer que lê muito e que é contrário à violência, mas perdeu a linha quando foi pressionado pelo presidente da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), a confessar que seria o chefe da facção criminosa e que a organização achacaria os presos.

- Os coitados dos presos têm de sair às ruas para trabalhar para ela (a facção). Têm que ser criminosos - acusou o parlamentar cearense.

Irritado, Marcola reagiu:

- E o que os deputados fazem? Não roubam também?

O bate-boca foi o momento mais tenso do depoimento, tomado em Presidente Bernardes (SP). Antes de insultar os parlamentares, Marcola pediu que Moroni diminuísse o tom de voz ao interrogá-lo. O deputado advertiu que o preso seria indiciado por desacato. Ao final, Marcola pediu desculpas.

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