Almeida Lima, presidente da CPI, anunciou que as investigações só começam em 2010| Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado

Brasília - Para neutralizar o impacto eleitoral da CPI Mista do MST, o governo federal fez valer sua maioria no Congresso para assumir os dois principais cargos de comando da comissão.

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Criada para investigar os supostos repasses ilegais de dinheiro da União para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a CPI elegeu ontem o senador governista Almeida Lima (PMDB-SE) para a presidência das investigações.

Para o estratégico cargo de relator, foi eleito o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), que foi secretário de Transportes de São Paulo durante a gestão da petista Marta Suplicy. A oposição, com Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ficou com o cargo de vice-presidente da CPI Lorenzoni, autor do pedido de investigação, é deputado da bancada ruralista.

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Investigações, só em 2010

Na próxima reunião da CPI, marcada para a próxima quarta-feira, às 11 horas, Tatto deverá apresentar seu plano de trabalho, com previsão de depoentes, audiências e provável término da comissão. Mas, como faltam apenas duas semanas para o início do recesso legislativo, as investigações, mesmo sob controle da base governista, devem ficar para 2010. O presidente Almeida Lima rejeitou a possibilidade de trabalhar durante o recesso. "Merecemos férias", disse.

O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) também admitiu que, além do recesso parlamentar, a eleição do ano que vem deverá prejudicar as investigações. "Vai esvaziar em função da campanha eleitoral. Terá um ímpeto até maio e, depois, com as convenções partidárias, começa a baixar os ânimos", disse ele.

Divisões

A CPI mista contará com 36 integrantes – 18 deputados e 18 senadores, dos quais a maioria faz parte da base governista. Porém, diferentemente de outras comissões, o grupo não está dividido apenas entre governo e oposição, uma vez que muitos parlamentares do PMDB, da base de apoio ao governo, é da bancada ruralista.

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As discussões durante a reunião de instalação da CPI do MST foram contidas, mas algumas manifestações deram o tom de como será o debate ao longo das investigações. Por isso a ordem do Planalto para que os escolhidos, mesmo integrantes de partidos da base, fossem sintonizados com as orientações do governo.

Enquanto o deputado Moreira Mendes (PPS-RO), vice-presidente da Frente Parlamentar Ruralista, defendeu a investigação dos supostos repasses ilegais do governo para o movimento dos sem-terra, parlamentares da base aliada, como Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), pediram a investigação de todos os contratos agrários do governo, incluindo as entidades patronais, como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), também autora do pedido de criação da CPI.

"Não podemos criminalizar os movimentos sociais", disse Manuela D’Ávila. "Não é uma CPI do MST, mas uma comissão para investigar contratos agrários entre entidades. (...) Quando a oposição se deu conta da CPI que eles pediram, era tarde demais para recuar. Viram que não é possível investigar só o MST", afirmou Dr. Rosinha.