Não surtiu qualquer efeito entre os 34 petistas anti-Eduardo Cunha (PMDB-RJ) os apelos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o partido deveria se preocupar mais em aprovar projetos de interesse do governo do que tentar derrubar o presidente da Casa. Esses deputados do PT, que assinaram apoio ao requerimento da Rede e do PSol pela cassação do peemedebista no Conselho de Ética, ignoraram as palavras de Lula e mantêm a posição pelo afastamento do peemedebista. Sequer consideraram a possibilidade de recuar e retirar suas assinaturas.
A reação desses petistas ao líder maior do partido é variada: alguns preferem dizer que sequer o ouviram, outros ouviram e dão de ombro, e tem os que ouviram mas não interpretaram exatamente assim as palavras de Lula.
Em reunião do diretório nacional do PT, em Brasília, dia 29 de outubro, Lula defendeu que os problemas de Cunha sejam colocados em segundo plano. “O que interessa à oposição é que a gente arranje quinhentos pretextos para discutir qualquer assunto e não discutir o que interessa, que é aprovar o que a Dilma mandou para o Congresso. A não ser que tenha alguém aqui que ache que isso não é importante, que primeiro vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e, depois, se der certo, a gente vota as coisas que a Dilma quer”, disse Lula.
Em almoço com a bancada do PCdoB, no mesmo dia, o ex-presidente foi ainda mais enfático: “O PT precisa decidir se quer governar o Brasil ou expulsar Eduardo Cunha”.
Do grupo de 34 parlamentares petistas, 23 foram ouvidos pela reportagem. Todos mantêm posição a favor das investigações e, passadas duas semanas das declarações do ex-presidente, concluíram que os elementos contra Cunha se agravaram e se tornaram ainda mais sólidos. “Desde que assinei a situação dele só piorou. Há elementos sólidos. Se pudesse, assinaria duas vezes”, resumiu a deputada Margarida Salomão (MG).
Um parlamentar petista chegou a se colocar “à disposição” para relatar o processo. “Nem ouvi o que o Lula disse, mas Cunha não tem a mínima condição de continuar. Tem que cair fora. Se o PT quiser, estou à disposição para ser relator do processo de cassação”, ainda ironizou Dionilso Marcon (RS).
O deputado Jorge Solla (BA) não vê relação entre defender os projetos de ajuste da economia do governo e o afastamento de Cunha da presidência. Disse que não há acordo nenhum para os deputados recuarem no apoio às investigações.”Estamos trabalhando para aprovar a pauta de interesse do governo. Agora, não vamos abdicar de apurar e afastar quem se utilizou do mandato de forma indevida para se apropriar de recursos. Não seremos coniventes com isso”, disse Solla.
Ex-líder do governo Dilma, o deputado Henrique Fontana (RS) disse entender as posições do governo e do ex-presidente Lula, de buscarem manter distância da situação. Afirmou, no entanto, que sua convicção quanto à quebra de decoro pelo peemedebista já está formada: “Acho natural que o governo fique numa posição silente e Lula incorpora um pouco este papel. Mas eu estou pronto para votar hoje contra a cassação de Cunha, a não ser que ele transforme água em vinho”, disse o petista.
O deputado Wadih Damous (RJ) reconhece que o processo do Conselho de Ética ofusca as demais votações. Contudo, ponderou que os encaminhamentos das medidas do ajuste e do processo no Conselho são independentes. “São agendas e tramitações diferentes. O presidente Lula não quis dizer que não se dê andamento à representação ou que se trabalhe contra a representação. É que tem outras pautas importantes para o governo que ficam esquecidas por conta da representação contra o Eduardo Cunha”, avaliou.
A deputada Professora Marcivânia (AP), disse que os parlamentares precisam manter isonomia no caso contra o peemedebista. “Não dá para ter uma atitude com um determinado deputado com menos força na Casa e agir de outra forma com um deputado que tem mais poder. Por muito menos, deputados já foram cassados. Respeito o partido, mas eu mantenho minha posição pela cassação do presidente da Câmara”, afirmou a deputada amapaense.
A deputada Moema Gramacho (BA) também garantiu que o discurso de Lula não vai motivar que mude de opinião, pois para ela, se tratou de ‘um debate interno do partido’. Gramacho alegou que pretende pressionar o Conselho de Ética para que o processo seja analisado com rapidez.
Para o deputado Angelim (AC) não se pode deixar de lado o processo por quebra de decoro contra Cunha, pois há “provas cabais” que incriminam. “Não dá para se acobertar ilícitos em função de pactos e acordos. Ilicitude tem que ser investigada até as últimas consequências. Não podemos concordar com um presidente da Casa que está sendo investigado com provas cabais, inclusive contrariando o regimento interno”, afirmou.
O deputado Chico D´Ângelo (RJ) foi sucinto: “Essa é a opinião do Lula. Não vou rever minhas atitudes”.