"Não sei porque estão fazendo isso comigo. Sou inocente." Essa dúvida, que persegue o ex-prefeito Paulo Maluf, tem feito ele mergulhar numa rotina sombria nos últimos 30 dias. Preso na Superintendência da Polícia Federal há exatamente um mês, Maluf viu-se, de uma hora para outra, privado de todo o conforto a que sempre esteve habituado, mesmo sem ter sido ainda julgado ou condenado.
Nascido em uma família onde a riqueza vem se acumulando há mais de três gerações, o ex-prefeito sempre pôde desfrutar dos melhores colégios de São Paulo, de casas luxuosas e requintadas, além de viagens para qualquer parte do mundo. Mas teve de trocar tudo isso, além de sua liberdade, por uma cela fria e desconfortável de cerca de 7,50m por 2,50m que divide com o filho Flávio e um outro preso de origem árabe.
Lá, é vigiado por câmeras durante 24 horas. Maluf ainda convive com os problemas de saúde que o debilitam dia após dia, também em função da idade. Ele completou 74 anos uma semana antes de ter a prisão preventiva decretada.
Amigos próximos afirmam que o ex-prefeito não tem regalias na prisão e vem se submetendo a um regime disciplinar rígido. A cela número 9 da ala 2, no 3º andar do prédio da PF, na Lapa, que passou a ser o novo endereço de Maluf, conta com dois beliches de concreto forrados com colchonetes finos, que ele e o filho dividem. Ao lado da cama há uma mesa e um banco rústicos. No chão fica o outro preso. A luz do sol nunca entra.
Apenas uma parede fina e baixa separa o espaço onde dorme o ex-prefeito do banheiro e, mesmo assim, esconde apenas até a altura do ombro a pessoa que se senta no vaso sanitário. Na cela não há água corrente nem interruptores de luz. A descarga é acionada em horários fixos: 8h, 12h, 15h, 20h e 22h. Nesse último horário também apagam-se as luzes e as grades da cela são fechadas. Na madrugada, o frio vindo do pátio é terrível e nem mesmo uma cortina plástica colocada atrás das grades consegue amenizá-lo. Maluf diz sentir muita friagem e dores no corpo.
Na ala do ex-prefeito, batizada de "Alphaville", há 13 celas. Nelas ficam os presos de nível universitário, maior poder aquisitivo e condenados. Do outro lado, no "Alphavela", os que estão em trânsito.
Assistir à televisão só é permitido entre 18h e 22h. São duas TVs, uma em cada corredor de ala. Alguns presos sentam-se em cadeiras de plástico, outros no chão e outros ficam em pé. Lá, são vigiados por três câmeras. Há cinco vitrôs protegidos por grades que não permitem visão da rua.
Na ala do ex-prefeito estão traficantes, delegados de polícia e o sobrevivente da chacina da Candelária, no Rio, que se encontra sob a tutela do programa de proteção a testemunhas, entre outros. Os presos têm acesso livre às duas alas.