Hélio José, conhecido como “Helio Gambiarra”, pediu uma série de cargos pelo voto.| Foto: Waldemir Barreto //Agência Senado

O presidente interino, Michel Temer, e a presidente afastada, Dilma Rousseff, passaram a focar um grupo de 15 senadores para tentar assegurar os votos necessários ao desfecho favorável a um lado ou a outro na votação final do processo de impeachment, prevista para agosto. O núcleo de Dilma, segundo petistas com acesso às discussões no Alvorada, passou a abordar esses parlamentares na expectativa de que ao menos cinco votos sejam revertidos. Numa contraofensiva de Temer, vários desses parlamentares já estiveram com ele no Planalto. Vários fizeram pedidos a Temer, inclusive a indicação do novo presidente da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná.

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Integrantes do grupo cujos votos são disputados pelos dois lados disseram “sim” à admissibilidade do impeachment ou se ausentaram da sessão que resultou no afastamento de Dilma. A petista teve só 22 votos a seu favor e, no julgamento decisivo, precisará de ao menos 28 votos ou ausências. O afastamento temporário de Dilma contou com 55 votos, um a mais do que os 54 necessários para retirá-la definitivamente do cargo.

Sem caneta para sinalizar com cargos e vantagens, os petistas oferecem a realização de plebiscito por novas eleições como alternativa à crise. Já o governo interino vem anotando dezenas de pedidos de cargos. O senador Hélio José (PMDB-DF), conhecido em Brasília como Hélio Gambiarra, pediu a Temer 34 cargos, entre eles as presidências do BB DTVM (gestora de fundos de investimento), dos Correios, do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional) e de Itaipu (tradicionalmente, o comando da hidrelétrica fica com um paranaense). O senador também quer ser o líder do governo no Congresso e relatar as medidas provisórias sobre infraestrutura. No Planalto, os pleitos de Gambiarra causaram irritação. “Se Hélio ficar contra o impeachment, ele morre no dia seguinte no PMDB”, disse um dirigente partidário.

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Dilma desiste de Romário

Estiveram com Temer nas últimas semanas os senadores Romário (PSB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Eduardo Amorim (PSDC-SE), Benedito de Lira (PP-AL), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Cristovam também já esteve com Dilma e passou a ser fortemente cobrado por movimentos de esquerda por ter votado a favor do afastamento da petista.

O grupo dos 15 tem ainda Fernando Collor (PTC-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Pedro Chaves (PSC-MS), Roberto Rocha (PSB-MA), Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Wilder Moraes (PP-GO) e Marcelo Crivella (PRB-RJ), que se licenciará para disputar a prefeitura do Rio, mas controla o voto do suplente, Eduardo Lopes (PRB).

Com o avanço do processo, algumas posições ficaram mais claras. Os petistas já desistiram de Romário, que deve votar pelo impeachment. Eduardo Amorim, Vicentinho e Wilder Moraes passaram a declarar voto pró-deposição.

Amorim afirmou que não vê motivos para rever sua posição: “Uma pessoa falou comigo (do grupo de Dilma), mas nada capaz de mudar o meu voto”.

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Senadores confirmam abordagens dos dois lados. Pelo PMDB, quem comanda as negociações são o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo). Dilma tem quatro senadores como articuladores da mudança de votos: Roberto Requião (PMDB-PR), Kátia Abreu (PMDB-TO), Jorge Viana (PT-AC) e Paulo Rocha (PT-PA). “Os dois lados têm me procurado. Ainda estou analisando e não quero me precipitar”, diz Pedro Chaves (PSC-MS).

Placar do impeachment

Na última semana, o jornal O Globo entrou em contato com todos os senadores ou seus assessores para saber o posicionamento dos parlamentares sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Dos 81 senadores, 55 já decidiram o voto: 37 são favoráveis e 18, contra o impedimento da presidente afastada. Os outros 26 seguem indecisos ou não responderam. O PSDB lidera o grupo pró-impeachment, tendo apenas um voto não anunciado, o do relator Antonio Anastasia (MG). Do outro lado, o PT lidera o grupo dos que defendem o mandato de Dilma. Entre os indecisos, nove são do PMDB, partido do presidente interino, Michel Temer.

Aliados de Temer, porém, apostam em uma máxima que rege as relações no PMDB: na crise, todos se unem. Em meio às turbulências da Operação Lava Jato, Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que vivem uma relação de altos e baixos, reaproximaram-se. A aliança, acertada em conversas no Palácio do Planalto e no Palácio do Jaburu (residência oficial de Temer), inclui a possibilidade de Renan votar a favor do impeachment.

O presidente do Senado vinha falando desde o começo do processo que iria se abster, mas, a pessoas próximas, Renan admitiu não se manifestar na primeira votação, a que aprova ou rejeita o relatório da comissão do impeachment, no plenário. No entanto, deverá dar seu voto a Temer, num gesto de “boa vizinhança”, no julgamento final do afastamento de Dilma Rousseff.

Nas conversas que tiveram, Temer e Renan acertaram um pacto de governabilidade. Nos últimos dias, o presidente do Senado modulou suas declarações públicas sobre o presidente interino, fazendo elogios e o defendendo da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que disse que Temer pediu a ele R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012.”Nunca estivemos tão próximos”, disse Renan durante entrevista no Senado, na semana passada.

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Renan também bateu firme no procurador-geral da República, Rodrigo Janot, dizendo que ele “perdeu limites do ridículo e do bom senso”. Apesar de Temer querer distância de qualquer polêmica com Janot, a declaração de Renan foi vista com bons olhos.

Por trás dos afagos, está a necessidade de sobrevivência de ambos. Temer, que já chamou Renan de “sacripanta” (patife), precisa do correligionário para aprovar projetos de interesse do governo no Senado. Renan, por sua vez, busca estabilidade no comando da Casa e procura evitar ter o mesmo fim de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado pelo STF.