Ao contrário da véspera da Criação, quando tudo era o caos, no princípio tudo era ordem na campanha pela prefeitura de Curitiba. Tudo parecia certo para que o PSDB tivesse um forte candidato próprio e que seus concorrentes se dissipassem entre vários partidos – do PT, passando pelo PTB e PP e chegando aos nanicos de sempre.

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Saído com expressiva votação após sua improvisada candidatura ao Senado em 2010 a chamado de última hora de Beto Richa, Gustavo Fruet apresentava-se como imbatível representante do tucanato local. Forças superiores, no entanto, alijaram Gustavo e impuseram a preferência pela reeleição do prefeito Luciano Ducci, do PSB, que pareceu mais confiável, embora extremamente dependente do prestígio de Beto.

E, então, a campanha tomou ares de caos. Imposto o nome de Luciano, Gustavo deixou o PSDB para se filiar ao PDT para, por este partido, viabilizar a candidatura que lhe foi negada pelos tucanos. De olho em 2014, o PT viu a oportunidade de, apoiando-o agora, tê-lo lá na frente como forte aliado no projeto de fazer de Gleisi Hoffmann uma competitiva candidata a concorrer contra a reeleição de Beto Richa ao governo estadual.

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Enquanto isso, como quem não quer nada, entra em cena Ratinho Júnior, do minúsculo PSC. Com poucos minutos de televisão, o jovem deputado federal (sempre muito bem votado graças, entre outras razões, à fama do pai apresentador de televisão), sua pretensão inicial não passava de fazer uns 10% a 15% dos votos. Com isso, acreditava, credenciava-se para ser valorizado fiel da balança numa até então previsível disputa de segundo turno entre Fruet e Ducci. E mais: colocava seu nome como candidato natural e mais forte para a prefeitura em 2014. Nesse caso, para ele, melhor seria a vitória de Ducci sobre Fruet, pois este seria candidato à reeleição ao passo que o primeiro estaria impedido de concorrer outra vez.

Porém, iniciada a campanha, do caos começaram a surgir as surpresas. A primeira foi a reação dos antigos simpatizantes de Gustavo contra sua aliança com o PT. Os apoiadores de Ducci perceberam a fragilidade e passaram a amplificar o que definiram como "incoerência" do ex-tucano – antes, um aguerrido combatente de oposição no Congresso, logo em seguida de braços dados com o PT.

A tática produziu resultados parciais. Gustavo, que figurava sempre em primeiro lugar nas pesquisas, começou a despencar no precipício. Em contrapartida, Ducci, o candidato que lhe dava combate direto, não crescia na proporção que esperava. Com sua administração fortemente questionada, de pouco lhe serviu o apoio de Beto e das máquinas municipal e estadual. Sua dificuldade ficou expressa nas pesquisas: segundo os últimos levantamentos, o índice de eleitores que o rejeitam é maior do que o daqueles que dizem votar nele.

Em meio a isso tudo, Ratinho Júnior foi roendo as bases eleitorais dos dois tidos como principais. A cara de bom moço, as propostas genéricas embaladas com o celofane das "novas ideias" e, sobretudo, por falar a linguagem que a "nova classe média" gosta de ouvir – principalmente quando se lhe oferecem uniformes grátis –, Ratinho fez poeira para os adversários e assumiu a liderança em todas as pesquisas. Se as pesquisas estiverem certas, o dia de hoje vai sacramentar seu nome como o grande vitorioso do primeiro turno, devendo confrontar-se no segundo possivelmente com Luciano Ducci.

Mas até este sábado reinava ainda alguma expectativa quanto a quem, afinal, caberá o segundo lugar. As hostes gustavistas apostavam que os discretos índices de crescimento de sua candidatura nos últimos dias e a também discreta queda ou estagnação de Ducci eram motivos suficientes para manter a chama acesa. O último debate – o realizado na noite de sexta pela RPC TV –, em que, segundo sua assessoria, Gustavo se saiu bem melhor do que o (massacrado por todos) Ducci, pode ter-lhe beneficiado nesta reta final.

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Além disso, há um cabo eleitoral importante com que conta Gustavo Fruet: chama-se Sobrenatural de Almeida – aquela figura presente nas crônicas de Nelson Rodrigues que, no minuto final das partidas de futebol, embora invisível, era o responsável pelas bolas chutadas no travessão salvador, pelo gol da virada na prorrogação, pela defesa impossível...

O Sobrenatural de Almeida de Gustavo Fruet é a decisão de última hora do eleitor que ainda não sabia em quem votar ou daquele que ainda estava em dúvida em relação ao candidato que já havia escolhido. Sobrenatural, também, é aquilo que dizem existir em Curitiba: o eleitor tímido, silencioso, que se recusa a confessar antecipadamente suas preferências.

A partir das 5 da tarde deste domingo, quando as urnas forem abertas, se saberá se o misterioso Almeida realmente existe ou se, não haverá mais dúvidas, os institutos de pesquisa de fato estavam certos.

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