Preso na Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque contratou um escritório de advocacia e começou oficialmente, nesta sexta-feira (31), a negociar um acordo de delação premiada.
Galeria de Renato Duque tem obras de artistas renomados e nomes da atualidade
Duque, cuja indicação à estatal é atribuída ao PT, é acusado de ter recebido propinas milionárias em contas no exterior e de usar obras de arte para lavar o dinheiro. Ele já é réu em quatro ações penais, e foi denunciado mais uma vez pelo Ministério Público Federal nesta semana.
Preso desde março numa penitenciária comum no Paraná, Duque vem demonstrando abatimento. Segundo apurou a reportagem, a família chegou a questioná-lo por que ele continuava a proteger quem estava do lado de fora. Ele sempre negou as acusações.
Nesta sexta, o ex-diretor assinou contrato com o escritório do advogado Marlus Arns de Oliveira -que negociou as colaborações dos executivos D alton Avancini e Eduardo Leite, da Camargo Corrêa. As tratativas com Duque, que o procurou, começaram há cerca de um mês. A família de Duque foi quem fez o apelo para que ele optasse pela delação, segundo o advogado.
A possibilidade da delação do executivo traz preocupação a membros do PT, partido que o indicou ao posto de diretor de Serviços. Os contratos da diretoria, segundo afirmam delatores da Lava Jato, eram a porção do PT na divisão da propina.
Arns, porém, não adiantou nomes ou fatos que podem ser mencionados na tratativa de delação, por questões de sigilo profissional -mas disse que “possivelmente” haverá pessoas com foro privilegiado. “Há muita notícia fantasiosa”, disse o advogado. “É um processo lento, que nem foi iniciado com o Ministério Público.”
Segundo ele, Duque optou pela delação como “uma estratégia de defesa para que saia o mais cedo possível da prisão”. O advogado diz que não houve pressão ou ameaças, e que a decisão foi tomada de livre iniciativa por seu cliente.
PASSO A PASSO
Os atuais advogados de Duque, Renato de Moraes e Alexandre Lopes, permanecem como defensores do ex-diretor nas ações penais. Arns fica responsável somente pela tentativa de negociação com o Ministério Público Federal -que ainda será iniciada. Se o acordo for fechado, os outros dois defensores, que são contra a delação, se retiram da causa.
Arns fará as primeiras entrevistas com o cliente nesta sexta. Depois, irá marcar uma reunião com os procuradores, para iniciar a tratativa de acordo. O Ministério Público pode ou não aceitar o que Duque tem a oferecer. Cabe aos procuradores estabelecer as condições da colaboração, como multas e tempo de detenção. Só depois, com o termo assinado, é que Duque começa a depor oficialmente aos investigadores.
Galeria de Renato Duque tem obras de artistas renomados e nomes da atualidade
Quando o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque foi preso por suposta participação no esquema de corrupção da estatal, causou surpresa por guardar em casa 133 obras de arte, muitas de artistas renomados. Um agente federal chegou a comparar o apartamento do ex-diretor à uma galeria de arte. Quatro meses depois, uma denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro do Ministério Público Federal (MPF) contra Duque, aceita pela Justiça nesta sexta-feira, trouxe detalhes sobre 13 obras. A mais cara delas é a pintura ‘‘Ogiva’‘, do pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi, adquirida por R$ 399 mil.
Arrematadas em leilões no Rio de Janeiro e São Paulo em 2012, as obras são de autoria de grandes nomes da arte, como Emiliano Di Cavalcanti, um dos mais conhecidos na história do Brasil, e o cearense Antônio Bandeira, renomado artista de pintura abstrata. Há espaço também para nomes da atualidade, com a obra “Panacéa Phantástica”, da artista plástica Adriana Varejão e uma criação sem título do artista Marcos Velasquez. Juntas, as peças citadas pelo MPF, incluindo taxas do leilão, somam R$ 577 mil.
As 13 obras se destacam entre as demais por aparecerem na denúncia como pagamento de propina pela empresa italiana Saipem. Essa teria sido beneficiada pelo esquema de corrupção, organização criminosa, cartel e fraude à licitações em obras da estatal. O dinheiro, entretanto, seria repassado a Duque através das contas bancárias da offshore uruguaiana Hayley/SA. Essa remetia os valores como se fossem investimentos a sua subsidiária, a Haley do Brasil, responsável por adquirir as obras de arte.
O autor dos lances, de acordo com a denúncia, é João Bernardi, representante comercial da Saipem do Brasil. As obras seriam arrematadas por Bernardi, em nome próprio ou da Haley do Brasil, e destinadas a Duque em seguida. A denúncia trouxe detalhes de uma pequena parte da fortuna artística do ex-diretor, hoje réu em outras ações penais da Lava-Jato, que só viria à tona três anos depois dos leilões, na 10ª fase da operação da Polícia Federal.
O MPF afirma que são obras de arte ao citar as notas fiscais e certificados de autenticidade. Oito das 13 listadas estariam ocultadas na empresa Vilaseca Assessoria e tiveram documentação apreendida na casa de Duque. As outras quatro fariam parte das obras apreendidas na casa do ex-diretor, junto aos respectivos documentos. Apenas uma teria localização desconhecida, mas com nota fiscal também encontrada em seu apartamento. As documentações estão em nome de João Bernardi e da Hayley do Brasil.
Confira a lista de obras:
Obra sem título, de Enrico Bianco (R$ 36.837,50)
Obra Abstrato, de Antônio Bandeira (R$7.367,50)
Atelier em Beirute, de Sérgio Telles (R$ 23.155,00)
Ogiva, de Afredo Volp (399.000,00)
Water Souce, de Gregory Hardy (R$ 8.420,00)
Obra da “Série Músicos”, de Alexandre Rapoport (R$ 2.105,00)
Obra sem título, de Marcos Velasquez (R$ 4841.50)
Casario, de José Paulo Moreira Fonseca (R$ 4.210,00)
Panacéa Phantástica, de Adriana Varejão (R$ 33.680,00)
Pro-Zé, de Jorge Guinle (R$ 1.052,50)
Festa de flores, de João Antônio Silva (R$ 17.850,00)
Obra sem título de Flávio Shiró (12.600,00)
Figura, de Di Cavalcanti (R$ 26.312,50)
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