A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, buscará com a área econômica do governo a liberação de emendas parlamentares, após não conseguir reverter a decisão de parte da base aliada na Câmara de parar as votações na Casa durante reunião na quarta-feira.

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O objetivo de Ideli é convencer a presidente Dilma Rousseff da importância de liberar as emendas para retomar as votações na Câmara, não só agora, mas também visando a aprovação de outras matérias de interesse do governo até o fim deste ano.

"Ela (Dilma) tem que fazer alguma coisa. Não pode continuar assim. Tem práticas políticas que não mudam do dia para a noite", disse um senador petista, sob condição de anonimato, referindo-se à liberação de emendas parlamentares para atender a demandas de aliados.

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Segundo relato desse parlamentar, durante a reunião de quarta-feira, Ideli e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann ouviram um discurso uníssono que inclui reclamações sobre a ação de Dilma nos casos de denúncias de corrupção no governo, falta de diálogo e tato da presidente com a classe política e pedidos por liberação de emendas.

"Todos falaram que do jeito que está não dá para continuar", contou o senador.

Aliados disseram a Ideli que, para retomar as votações, querem a divulgação imediata de um calendário de liberação de emendas e o destravamento de nomeações em escalões inferiores do governo, já acordadas com a presidente.

Diante desse cenário, Ideli e Gleisi foram a campo e tentam, com a ajuda do Ministério do Planejamento, construir um cronograma de liberação de emendas do orçamento deste ano que contente os aliados, segundo relato de um assessor do Palácio do Planalto que pediu para não ter seu nome revelado.

Inicialmente, a área econômica do governo só quer afrouxar o corte orçamentário a partir de outubro, mas diante da paralisia das votações, a área política acredita que pode convencer a presidente a conceder a liberação de pelo menos 1 bilhão de reais para a base aliada, avaliou essa fonte.

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Entre as principais preocupações na pauta legislativa prioritária do governo para este ano está a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União, mecanismo que autoriza o governo a aplicar livremente 20 por cento de toda a arrecadação federal, e que vence em dezembro.

"Acho muito difícil votar isso (DRU) antes de novembro", disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), a jornalistas nesta quinta-feira.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da DRU está no início de sua tramitação na Câmara e ainda precisa passar pelo Senado, e sem ela o Orçamento do governo federal fica engessado. Para aprovação de uma PEC, o governo precisa reunir 308 votos na Câmara e 49 no Senado.

No começo do ano, o Executivo anunciou um corte de 50 bilhões de reais e a maior parte dos recursos cortados era proveniente de emendas parlamentares, cerca de 18 bilhões de reais.

Insatisfação vai além das emendas

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Contudo, nem todos os problemas serão resolvidos pela liberação de emendas. O Partido da República (PR), legenda que reclama da forma como foi tratado por Dilma após ver seus membros afastados do Ministério dos Transportes sob denúncias de corrupção, está prestes a tomar uma posição de independência no Congresso.

O PR tem 40 deputados e seis senadores e se não ficar completamente alinhado ao governo pode ajudar a desestabilizar a descontente base aliada de Dilma.

Uma liderança do PR ouvida pela Reuters contou que uma pesquisa interna na bancada dos deputados indicou que 90 por cento deles querem que o partido migre para uma posição de independência.

Segundo essa fonte, estão sendo concluídas as discussões dentro do partido e "provavelmente na próxima semana haverá um anúncio de que o PR adotará a posição de independência". Oficialmente, o partido nega a possibilidade.

No PMDB, a insatisfação é maior com a recente ação da Polícia Federal, que prendeu dezenas de pessoas ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos por meio de emendas parlamentares no Ministério do Turismo. A cúpula do partido está irritada porque foi surpreendida pela operação policial.

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A presidente tentou reduzir o mal estar com o maior partido aliado pedindo que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prestasse explicações ao PMDB sobre a ação policial e que cobre punição de policiais que tenham praticado abuso de autoridade durante as prisões. Mas o clima na legenda continua ruim.

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