Embora tenham iniciado em datas diferentes, e seguido ritos próprios, os processos de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) e de cassação do deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) podem ter seus desfechos conhecidos no mesmo mês, em agosto. Mas não há certeza. Enquanto aliados de Cunha trabalham para diminuir o ritmo do seu processo de cassação, opositores a Dilma querem acelerar o julgamento do impeachment.
Para parlamentares do PSol, legenda que entrou com a representação contra Cunha no Conselho de Ética, desde a volta dos trabalhos no Legislativo após o recesso branco, na última segunda-feira (1º), há um movimento para tentar postergar o caso do peemedebista. Nos bastidores, políticos do “centrão” – cerca de 200 parlamentares ligados a médios e pequenos partidos – estariam articulando “abandonar” as sessões plenárias, inviabilizando a votação do parecer do Conselho de Ética, que recomenda a cassação do mandato do peemedebista.
Confira os passos dos casos de Dilma e Cunha até agora
Casos entrelaçados
A deflagração do impeachment contra Dilma tem conexão direta com o processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética. Em dezembro do ano passado, o então presidente da Câmara dos Deputados acolheu o pedido de impeachment apenas horas depois de a bancada do PT na Casa decidir que votaria a favor do prosseguimento de seu processo de cassação. A defesa de Dilma tentou barrar o andamento do impeachment alegando que Cunha agia em retaliação à petista, mas o argumento não prosperou na Câmara.
Logo após ser eleito para o comando da Câmara dos Deputados, em julho, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que a intenção era colocar o caso Cunha na pauta do plenário ainda na primeira quinzena de agosto. Apesar disso, não quis confirmar uma data exata à imprensa. Segundo ele, era preciso garantir um dia de “bom quórum”, o que significa ao menos 400 dos 513 deputados federais.
A preocupação de Maia tem ligação com a época – políticos estão agora focados na campanha eleitoral, que começa em 16 de agosto, e à sombra da Olimpíada Rio-2016, cuja abertura oficial está marcada para sexta-feira (5). Para ser cassado, Cunha teria que ter ao menos 257 votos contrários a ele. Paralelamente às negociações na Câmara, a própria defesa de Cunha já entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a votação.
Nesta semana, Maia voltou a falar sobre a necessidade de quórum, mas se comprometeu com a leitura do parecer do Conselho de Ética na segunda-feira (8). “Seria possível votar esta semana assim como será possível votar na semana que vem, mas se houver vontade política e não vemos vontade política”, criticou Chico Alencar (PSol-RJ). “Se não marcar [a sessão para votar parecer] não tem como saber. Marca e quem se ausentar estará declarando sua cumplicidade [a Cunha]”, completou ele.
Líder do PSol na Casa, Ivan Valente (SP) afirmou que há risco do caso Cunha ficar para depois da votação do impeachment de Dilma e até das eleições. “Embora [Maia] tenha anunciado de forma frouxa que vai ler o parecer na segunda-feira, ele não marcou data para colocar em votação. O presidente da Casa está protegendo Eduardo Cunha e está ameaçado por Eduardo Cunha. Ninguém quer votar a cassação de Eduardo Cunha porque ele pode abrir o jogo”, atacou Valente, em referência à possibilidade de o peemedebista tentar fechar uma delação premiada com investigadores da Lava Jato.
Telão e púlpito para Cunha
Aliados de Dilma já cobram na Câmara que Cunha receba o mesmo “tratamento” dado à petista no dia da votação do impeachment no plenário da Casa, em abril. “Nós queremos que seja num domingo, em sessão aberta, transmitida pela TV, com um altar aqui no meio”, afirmou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), na última segunda-feira (1º).
Pressão do Planalto para acelerar o impeachment
Se depender do Planalto, a votação do caso Cunha também pode ficar para depois da análise do impeachment de Dilma. Auxiliares do governo interino de Michel Temer (PMDB) trabalham diretamente nas negociações para acelerar o processo da petista, o que tem incomodado aliados da presidente afastada.
Petistas sugerem que as delações em curso na Lava Jato teriam potencial para respingar no governo interino e influenciar na votação do impeachment, daí o interesse em acelerar o processo de impedimento. À imprensa, o grupo de Temer tem repetido que a indefinição prejudica o país, que aguarda um desfecho em meio a uma crise econômica.
Por causa da polêmica, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, vai ao Senado nesta quinta-feira (4) para discutir os prazos com os líderes partidários. No último sábado (30), o STF havia divulgado que a previsão era iniciar a fase de julgamento no próximo dia 29. Mas a data não foi confirmada pelo presidente da comissão especial do impeachment no Senado, Raimundo Lira (PMDB-PB).
Encontro no mês de agosto
Veja como os processos contra o deputado federal afastado Eduardo Cunha e contra a presidente da República afastada Dilma Rousseff acabaram se cruzando no mês de agosto:
O impeachment de Dilma
- 02 DE DEZEMBRO DE 2015 - Cunha acolhe parcialmente o pedido de impeachment contra Dilma, deflagrando o processo de impedimento na Câmara dos Deputados;
- 11 DE ABRIL DE 2016 - Comissão especial do impeachment da Câmara dos Deputados recomenda admitir o pedido de impedimento;
- 17 DE ABRIL DE 2016 - Plenário da Câmara dos Deputados acolhe parecer da comissão especial do impeachment e caso segue ao Senado;
- 06 DE MAIO DE 2016 - Comissão especial do impeachment no Senado recomenda acatar a posição da Câmara dos Deputados e admitir o pedido de impeachment;
- 12 DE MAIO DE 2016 - Plenário do Senado acolhe parecer da comissão especial do impeachment, afastando temporariamente a presidente da República de suas funções para que ela seja julgada;
- 02 DE AGOSTO DE 2016 - Comissão especial de impeachment do Senado volta a se reunir para deliberar sobre o mérito do pedido de impeachment e o relator do colegiado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), vota a favor do afastamento definitivo de Dilma, apontando que ela teria cometido crime de responsabilidade;
- 04 DE AGOSTO DE 2016 - Se o relatório de Anastasia for aprovado no colegiado – votação está prevista para ocorrer nesta quinta-feira (04) -, o documento segue para o plenário do Senado, que deve deliberar sobre o assunto na terça-feira (09). Se o relatório for aprovado pelo plenário, os senadores iniciam o julgamento de Dilma, processo que deve durar até o final deste mês de agosto.
A cassação de Cunha
- 13 DE OUTUBRO DE 2015 – As legendas PSol e Rede Sustentabilidade entram com pedido de cassação do mandato de Cunha por quebra de decoro parlamentar. Ele é acusado de mentir na CPI da Petrobras ao ser questionado se tinha contas na Suíça;
- 14 DE JUNHO DE 2016 - Conselho de Ética acolhe o pedido de cassação, após uma série de manobras dos aliados de Cunha para postergar o assunto no colegiado;
- 14 DE JULHO DE 2016 – Comissão de Constituição e Justiça derruba recurso de Cunha contra decisão do Conselho de Ética e pedido de cassação já pode ser incluído na pauta do plenário da Câmara dos Deputados, o que deve ocorrer até o final deste mês de agosto.
Fonte: Redação.
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