Frente a frente com o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apurou o escândalo de corrupção na estatal, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou que nenhum funcionário alcança cargos executivos de importância na estatal sem "apoio político". No depoimento de 2 de dezembro, o ex-diretor explicitou o jogo que envolve políticos e profissionais interessados nos maiores cargos (e salários) na empesa.

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Uma diretoria da Petrobras interessa mais aos políticos do que muito ministério. Um afilhado nessa posição administra contratos milionários e abre portas entre grandes fornecedores, potenciais doadores de campanha. Já entre os funcionários, o estímulo para buscar um padrinho político vem da estrutura salarial da Petrobras. A empresa, que em 2013 pagou US$ 5,5 milhões em salários para seus executivos, não divulga a remuneração individual. O GLOBO apurou que um engenheiro em início de carreira não ganha mais do que R$ 10 mil. Se vira coordenador ou gerente, dobra seu salário. Como gerente geral, chega aos R$ 40 mil. Um diretor pode chegar a R$ 100 mil mensais, com bônus.

A Petrobras tem hoje 6.500 cargos executivos em sete diretorias e dezenas de subsidiárias. A empresa é conhecida pelo corpo técnico de alto nível, mas sem apoio político os melhores não passam da gerência geral. As indicações políticas mais disputadas são para as 60 cadeiras da cúpula. Muitos executivos de fora já passaram pela diretoria, mas os principais postos são cada vez mais ocupados por funcionários concursados ou aposentados. Eles são atraentes porque, uma vez sob suspeita, têm a indicação política negada sob o argumento de que são "técnicos de carreira". Costa jogou o álibi por terra.

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O ex-diretor de Abastecimento entendeu cedo que conhecimento técnico é importante, mas não o suficiente para subir na estatal. Engenheiro brilhante, Costa investiu na relação com vários partidos para concretizar um plano: chegar à presidência da Petrobras. No governo de Fernando Henrique Cardoso, ele começou a ocupar cargos de alta gerência e conseguiu subir ainda mais no de Lula, indicado para a diretoria em 2003 por PP e PMDB. No penúltimo degrau da estrutura de poder da Petrobras, acabou ultrapassado por Graça Foster, que tinha um cargo inferior ao dele quando trabalharam juntos na Diretoria de Gás no final da década de 90.

Após mais de 25 anos na Petrobras recheados de elogios à sua competência, Graça só teve um cargo de alta gerência em 2005, depois de uma temporada cedida ao Ministério de Minas e Energia, então ocupado por Dilma Rousseff. A executiva voltou já como presidente da subsidiária Petroquisa e disparou. Sob as bençãos de Dilma, em menos de dez anos chegou ao cargo mais alto da companhia.

Se o caso de Graça mostra que o apoio certo gera uma rápida ascensão na Petrobras, a falta dele pode desencadear uma vertiginosa queda. Um exemplo é o de Alexandre Penna, que ocupou cargos de alta gerência por duas décadas na estatal. Em 2012, foi cotado para a Diretoria Internacional, que era da cota do PMDB. Sem o respaldo do partido e a simpatia de Graça, perdeu não só a chance de virar diretor, mas a gerência. Ficou sem função como engenheiro sênior até se aposentar, em maio deste ano. Procurado pelo GLOBO, não respondeu.

Um gerente que pede para não se identificar diz que as indicações políticas sempre aconteceram no alto escalão da empresa, mas nos últimos anos vem atingindo as gerências mais baixas, alvos também dos sindicatos. No entanto, ele diz que os funcionários se ressentem da generalização. Entre os gerentes há funcionários escolhidos por serem competentes, mas os melhores não passam da gerência geral sem apoio político.

— A Petrobras tem seguramente os melhores profissionais do país, mas os que não se sujeitam à ingerência política não sobem. A empresa não usa da melhor forma o potencial de recursos humanos nos cargos. Os mais competentes que não têm ligações políticas não conseguem passar de gerente-geral.

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A Petrobras não quis comentar o assunto.