Confrontado com as acusações dos irmãos de Celso Daniel, o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse que os irmãos do prefeito assassinado de Santo André servem a um 'jogo político' ao acusá-lo de participar de um esquema de arrecadação de propina no município para favorecer campanhas eleitorais do PT.

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Os irmãos Bruno e João Francisco reafirmaram terem ouvido de Carvalho, então coordenador de política do município, a confissão de que participara do esquema, que supostamente recolhia comissões de empresas que prestavam serviço à prefeitura de Santo André. Bruno Daniel contou que a confissão foi feita no dia da missa de sétimo dia do prefeito, seqüestrado e morto a tiros em janeiro de 2002.

- A conduta (dos irmãos João Francisco e Bruno) está servindo a um jogo político e manchando a memória do irmão de vocês - disse Gilberto, acrescentando em seguida que não se pode admitir que Celso fique com a imagem de um homem que fez um desgoverno.

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Gilberto Carvalho afirmou que Celso Daniel era um homem ético e honesto e que não pode mais se defender. Carvalho se disse "pasmo" com o fato de Bruno Daniel e João Francisco Daniel produzirem o que chamou de "juízos infundados":

- O que me espanta é a distância que vocês tinham em relação ao Celso Daniel. Se tivessem o mínimo de proximidade, não aceitariam os depoimentos contra ele. Saberiam que seria impossível que o seu irmão guardasse sacos de dinheiro em casa, como foi dito num depoimento ao Ministério Público. A frieza que vocês demonstram em relação a esse processo me causa tristeza no coração.

Bruno Daniel rebateu Gilberto Carvalho:

- Não estamos afirmando aqui que o Celso era comprometido com a corrupção. Estamos dizendo que o Celso assumiu a existência de uma fragilidade institucional. É algo com a qual eu não concordo, mas foi a decisão dele. Considerava um mal necessário operar um esquema irregular de arrecadação de recursos para viabilizar a expansão e o crescimento do PT - disse.

Bruno Daniel também reclamou do fato de Carvalho não ser obrigado a dizer a verdade.

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- Testemunhas têm obrigação de falar a verdade e o Gilberto Carvalho, como acusado, não - afirmou.

Um dos momentos mais contundentes da acareação foi quando João Francisco Daniel provocou Carvalho, afirmando, repetidas vezes, que o assessor presidencial tem a "alma aprisionada".

- Como oftalmologista, não vejo transparência nas instituições públicas. Há quatro anos estamos nessa batalha para fazer com que a morte do Celso Daniel seja esclarecida. Nosso sustentáculo é a verdade, Gilberto Carvalho - disse João Francisco. - Não estamos com a alma aprisionada, e o senhor está. O senhor está com a alma aprisionada, eu sei o dilema pelo qual o senhor deve estar passando. O senhor sempre me passou serenidade, mas sinto que o senhor sofre. O senhor está com alma aprisionada. Em Santo André o senhor fazia a ligação entre uma quadrilha e a cúpula do PT em São Paulo. O senhor tinha que fazer esse meio de campo. Essa é a verdade - acrescentou a testemunha.

Já Bruno Daniel afirmou que Carvalho ajudou apenas parcialmente nas investigações do assassinato do prefeito de Santo André. Bruno Daniel afirmou que mostrou a Carvalho fotos da necropsia do corpo de Celso Daniel, que mostravam evidências de tortura. Bruno disse ter ficado decepcionado com a colaboração de Gilberto Carvalho. Ele lamentou o fato de o chefe de gabinete ter participado da convocação de uma entrevista coletiva na qual o PT afirmou que concordava com as linhas de investigação da polícia. Bruno Daniel voltou a afirmar que discorda desta posição e que a morte do irmão não foi um crime comum.

- Você sabe que nós não concordamos com esta posição. Havia muitas lacunas, que exigiam uma investigação completa. Sua contribuição foi parcial - disse Bruno Daniel.

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Gilberto Carvalho disse que nada teme a respeito do assassinato do petista.

- Não devo e não temo nada nessa história - afirmou.

João Francisco acrescentou que rompeu com Gilberto Carvalho em abril de 2002, cerca de três meses depois do crime, na casa do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Segundo João Francisco, Greenhalgh e Carvalho insistiam que família aceitasse em público a versão de crime comum.

- Levantei e não concordei. A partir daí, não nos encontramos mais. Se nós não tornássemos público (as denúncias de corrupção de arrecadação ilícita para o PT) hoje não estaríamos aqui e o crime seria encerrado como crime comum. Depois da minha denúncia e da CPI em Santo André, o caso foi reaberto. Fui obrigado, Gilberto Carvalho, com muita dor no coração. Não me arrependo de ter feito isso - afirmou João Francisco, acrescentando que "hoje há provas técnicas de que não foi crime comum".

Gilberto disse ainda que João Francisco Daniel tem criatividade e inventa fatos. O assessor do presidente acusou João Francisco de ter feito lobby para uma empresa local logo depois da morte de Celso Daniel. Ele afirmou ainda que João Francisco tenta demonstrar proximidade com o irmão falecido mas que não foi a nenhuma posse do irmão e que só procurava o prefeito para tratar de assuntos de seu interesse particular.

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