As semelhanças entre o ministro Joaquim Levy e o secretário Mauro Ricardo Costa vão além das “mãos-de-tesoura”. Levy tem 54 anos, é carioca. Mauro Ricardo, 53 anos, nasceu em Niterói, ao lado do Rio de Janeiro. Ambos tiveram passagens acadêmicas pela Fundação Getúlio Vargas e ascenderam em Brasília no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No cotidiano, têm quase nada de traquejo político e a fama de “supersinceros”, o que rende trombadas e críticas de colegas de governo e parlamentares.
Graduado em engenharia naval, Levy passou pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Central Europeu ao longo dos anos 1990. Em 2000, no governo FHC, foi nomeado secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda e, em 2001, economista-chefe do Ministério do Planejamento. Entre 2003 e 2006, já no governo Lula, assumiu a Secretaria do Tesouro Nacional.
Mauro Ricardo é administrador de empresas e auditor fiscal da Receita Federal desde os anos 1980. Fora da Receita, começou a galgar espaços como secretário de administração geral do hoje extinto Ministério do Bem-Estar, durante o governo Itamar Franco, de 1993 a 1995. Depois disso, começou uma longa parceria com o então ministro do Planejamento, José Serra, de quem foi subsecretário até 1996.
Encontro
Os dois se reencontraram em 2005, quando foi secretário de Finanças da cidade de São Paulo na gestão Serra. Encontro que poderia ter acontecido já em 2002. Caso o tucano tivesse vencido Lula, Mauro Ricardo era cotado para assumir o Ministério do Planejamento ou outro cargo importante do primeiro escalão.
Secretário de Serra, passou a se cruzar com Levy nas reuniões do Conselho Nacional de Política Fazendária. Na mesma época, o atual ministro ocupava exatamente o mesmo cargo na gestão Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de Janeiro.
“As ideias deles eram praticamente as mesmas e influenciavam todo mundo”, diz a ex-secretária paranaense Jozélia Nogueira.
Mauro Ricardo nega ter tido qualquer relação mais próxima com o colega – e diz que faria mais cortes de gastos no atual pacotaço federal antes de partir para o aumento de impostos. Antes de chegar ao Paraná, ainda teve uma passagem de dois anos pela administração Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), em Salvador, o que gerou confusão no Paraná – muitos deputados acreditam que ele é baiano. Lá, ficou famoso por dizer em entrevista que “infelizmente” não dava mais para colocar as pessoas no pelourinho para pagar dívidas (ele diz que a colocação foi reproduzida fora de contexto).
“Tecnolítico”
A língua afiada e a pouca disposição para a etiqueta política renderam desafetos no Paraná. Durante sessão no dia 18 de agosto, o deputado oposicionista Nereu Moura (PMDB) se referiu a Mauro Ricardo como “Maurinho Malvadeza”, “governador em exercício” e alguém que “cantava de galo” sem conhecer o Paraná. Mauro Ricardo até criou um neologismo em resposta a quem o define como muito técnico e pouco político – se considera um “tecnolítico”, uma mistura das duas coisas.
“Definitivamente, não é alguém agradável, que você convidaria para bater papo num bar”, descreveu um deputado da situação.
Enquanto isso, em Brasília, o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), chegou a sugerir que Levy tire férias para que o ajuste fiscal apresentado na semana passada seja aprovado. “Alguém que diz que ‘um pouquinho de imposto não faz mal’ para justificar a CPMF pode até saber de economia, mas de povo não entende nada”, diz um deputado federal do Paraná.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas