A decisão de Nelson Jobim de desistir da disputa pela presidência do PMDB, com o argumento de que ficou evidente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere a reeleição de Michel Temer, abriu uma crise na relação do partido com o governo. Enquanto de um lado houve uma reação em cadeia dos peemedebistas da ala governista em apoio ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, do outro o Palácio do Planalto acionou os "bombeiros" de plantão para tentar abafar o princípio de crise.

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O líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), foi o primeiro a sair em defesa de Lula, negando interferência do Palácio do Planalto na disputa. Segundo ele, o governo negocia com o partido por inteiro e não fez nenhum tipo de exigência ou declarou preferência por um ou outro candidato.

- O governo não pediu para Jobim retirar a candidatura. O governo não interefere na vida dos partidos. O PMDB é um partido aliado e o governo se relaciona com o PMDB por inteiro - disse o líder.

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O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, também negou qualquer interferência do governo no processo. Tarso disse que, para não deixar que fique uma imagem de intervenção no PMDB, Lula decidiu deixar para a próxima semana o anúncio oficial do novo Ministério.

- É um equívoco dizer que houve interferência no governo. Todos sabem da postura de simpatia e de acolhimento do presidente Lula para com Jobim, assim como sabem também que ele tem uma relação correta com a direção nacional do PMDB, representada pelo presidente Michel Temer - afirmou.

Tarso foi questionado pelos jornalistas se "os últimos acontecimentos" mencionados por Jobim na curta nota em que anunciou a desistência seriam a reunião entre Lula e Michel Temer e o encontro de Lula com o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), bem como o possível convite que teria sido feito ao deputado para que ocupasse o Ministério da Integração Nacional.

- Nesta reunião não foi feito nenhum convite formal e nenhuma menção à convenção do PMDB - afirmou, em resposta, o ministro.

Mas para o grupo de Jobim, a preferência de Lula ficou evidente a partir do encontro desta segunda com Geddel, que deverá ser confirmado no Ministério da Integração Nacional, . O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não escondeu o descontentamento com a aproximação entre o presidente e o grupo do partido ligado a Temer:

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- Sou 100% solidário ao ministro Jobim. Não tem sentido, na semana da eleição, alguém tentar interferir na eleição. Todos nós nos sentimos um pouco liberados a partir de agora. Estou solidário com a nota do Jobim, moral e politicamente - disse Renan.

Ao dizer que seu grupo está liberado de apoiar incondicionalmente o governo, Renan deixa claro que a base ficará enfraquecida no Senado. Dos 20 senadores do PMDB, 19 estavam na chapa de Jobim.

Sarney também se solidariza com Jobim

O senador José Sarney (PMDB-AP) também declarou solidariedade ao ex-ministro do STF. Sarney estava acompanhado do governador do Rio, Sérgio Cabral, e do líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).

- Sou solidário a Jobim - limitou-se a dizer Sarney.

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Jáder Barbalho (PA) foi outro senador do PMDB a defender o gesto de Jobim:

- A escolha de um ministro de um grupo ou de outro caracteriza uma interferência. No mínimo foi um equívoco. O gesto de Jobim foi correto e vamos acompanhá-lo.

Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ao comentar as declarações de Renan Calheiros, preferiu não tomar partido:

- Liberado todo mundo é. Todo senador é independente - disse Jucá, que completou que "os senadores podem votar de acordo com suas consciências, mas que têm compromisso com o país".

Beneficiado com a decisão de Jobim, o candidato à reeleição Michel Temer adotou um tom conciliador. Ele disse que a coalizão governista está mais reforçada do que nunca e que a prova disso é que não houve votos contrários dos deputados da legenda a projetos de interesse do governo.

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- A coalizão está mais forte do que nunca. Vamos ter uma festa da unidade domingo - disse o deputado, em referência à eleição programada para o próximo dia 11.

Temer afirmou também que vai procurar Jobim para que o ex-ministro "trabalhe a favor do partido". O atual presidente do PMDB disse que já começou a procurar senadores da ala governista do partido. Teria também conversado com seis governadores, entre eles Sérgio Cabral, do Rio. A intenção de Temer é apresentar uma chapa única na eleição de domingo, com espaço para o grupo que saiu da disputa.

Jobim dissera que não desistiria

Na véspera, ao comentar o pedido de impugnação de sua candidatura, Jobim disse que "não desistiria em hipótese alguma" e aproveitou para provocar seus adversários no partido:

- Quem protesta é porque está perdendo. Todos os vícios apresentados são sanáveis. Política a gente ganha no voto. Quem entra com medidas jurídicas é porque está com medo de perder. Eu não desistirei em hipótese alguma. Minha candidatura está posta - disse Jobim, na ocasião.

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Temer, por sua vez, fez um gesto político de conciliação e não aceitou pedido do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que a chapa de Jobim fosse impugnada.