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Jorge Samek, o diretor-geral “brasileiro” de Itaipu | Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo
Jorge Samek, o diretor-geral “brasileiro” de Itaipu| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo

Jorge Miguel Samek é filiado ao PT há 27 anos e muito próximo ao ex-presidente Lula, mas o espectro partidário parece não aderir à personalidade dele. Permanece como diretor-geral de Itaipu, cargo que ocupa desde 2003, apesar do impeachment de Dilma Rousseff. Em 19 de dezembro recebeu das mãos do governador tucano Beto Richa a comenda Ordem do Pinheiro, a maior honraria oficial do Paraná, dias após Itaipu celebrar o recorde mundial de geração de eletricidade.

Segundo pessoas que acompanham a gestão do petista, o apartidarismo ajuda a explicar como ele se tornou o mais longevo diretor brasileiro de Itaipu. “O Samek nunca vem com a cor partidária, ele vem com o coração aberto para negociar sempre, tentando ajudar”, afirma o presidente da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), José Carlos Mariussi. Até 31 de dezembro, ele era prefeito de Tupãssi pelo DEM, partido ferrenho opositor ao PT.

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“Ele teve que lidar com muitos prefeitos dos municípios lindeiros de Itaipu, e não se pautava pelo partidarismo. Sempre agiu de forma igualitária, o que lhe deu credibilidade na região”, diz o professor de Desenvolvimento Regional da Unioeste Jandir Ferrera de Lima.

O cargo de diretor em Itaipu é um dos mais cobiçados do país, mas a troca no comando foi sendo postergada durante a gestão de Michel Temer. Ainda em junho, para mostrar afinco no combate à corrupção, ele sancionou a Lei das Estatais, que restringiu nomeações políticas. No fim de dezembro a norma foi regulamentada, abrindo brechas para a binacional ficar de fora das restrições. Entretanto, ainda há dúvidas se a substituição de Samek ocorrerá logo ou se o governo vai esperar pelo fim do mandato do petista, que se encerra em maio.

O deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PSB), que conhece Samek desde o fim dos anos 1970, arrisca um palpite sobre a “sobrevivência” dele no cargo. “Provavelmente o Samek construiu uma boa relação com o presidente Michel Temer, como faz com todo mundo, e ainda não surgiu um nome ou hora oportuna para substituí-lo”.

Desenvolvimento

A importância de Itaipu cresceu muito desde 2003, e as origens do petista também estão por trás da boa imagem que a binacional construiu. Ele é da quarta geração de engenheiros agrônomos de uma família de Foz do Iguaçu. Conhece bem a principal atividade econômica do Oeste do Paraná e tem ligações afetivas e familiares na região. “A base de produção é o agronegócio, e agora as lideranças estão se articulando para fazer a migração para outra base produtiva, com mais conteúdo tecnológico, e Itaipu está diretamente ligada a isso”, observa Lima.

Em 2005, a binacional inaugurou o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), um polo de inovação com várias frentes de atuação. Além desse projeto, Lima destaca outros três que elevaram a aprovação de Samek frente à usina: os projetos de biogás, para reaproveitamento de resíduos de suínos, o carro elétrico e o projeto de recuperação de mananciais Água Boa, premiado pela ONU e mundialmente reconhecido.

“Para nós tem sido fantástico, foi com ele que se articulou o programa Oeste em Desenvolvimento, que talvez agora não chame tanto a atenção, mas que vai gerar muitos frutos daqui a uns cinco anos para frente”, acrescenta Mariussi, presidente da Amop.

Início no PMDB

Como tantos políticos que se forjaram nos anos de chumbo do Brasil, Jorge Miguel Samek iniciou a trajetória política pelo MDB, o precursor do PMDB. Nascido em 16 de maio de 1955, formou-se engenheiro agrônomo pela UFPR em 1978, quando foi orador da turma.

Nos anos de faculdade presidiu o centro acadêmico e logo compôs a diretoria da associação de engenheiros agrônomos, que foi um polo de forte apoio ao governo de José Richa (1983-1986), conforme conta o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli. Os dois foram colegas no secretariado do prefeito Roberto Requião (1986-1989).

O primeiro cargo no poder público foi na Secretaria da Agricultura da gestão José Richa, comandada pelo economista Claus Germer. De lá foi convidado por Requião para assumir a recém-criada Secretaria do Abastecimento. Em época de hiperinflação e preços tabelados, propôs a criação de mercadões populares. A intenção era oferecer frutas e verduras a preços subsidiados em ônibus adaptados, que circulariam nos bairros mais carentes.

“No início usamos caminhões que a prefeitura tinha, adaptamos alguns. Samek fez de um limão uma limonada, e ele sempre foi assim, bastante articulador, de se mexer para viabilizar os projetos”, conta Romanelli. Logo começou a ser assediado para outros cargos. Em março de 1987, quando Alvaro Dias assumiu o governo e Osmar Dias, a Secretaria da Agricultura, Samek foi convidado para chefiar a Ceasa. Como Requião não queria abrir mão do secretário, ele acumulou os dois cargos, na prefeitura e no governo.

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Lula

Em pouco tempo, Samek abdicaria dos cargos. O Mercadão Popular foi um sucesso e pavimentou a vitória de Samek para a Câmara de Vereadores, eleito em novembro de 1988. No ano seguinte, ainda no PMDB, trabalhou para a primeira candidatura presidencial de Lula, e a partir dali se tornaram grandes amigos.

No livro Vozes do Paraná, o jornalista Aroldo Murá, conta algumas curiosidades sobre essa amizade. Durante a campanha, Lula se hospedou na fazenda da família Samek, em Foz do Iguaçu. O pai de Jorge, seu João, não aceitou a presença de um homem que seria “sinônimo de subversão da ordem”. Saiu da própria casa.

Em 1990, Samek se filiou ao PT, e desde então foi estreitando os laços com Lula, especialmente durante as campanhas eleitorais. Em 1994, no segundo mandato como vereador de Curitiba, o paranaense concorreu ao governo estadual e acompanhou Lula nas chamadas caravanas da cidadania. As viagens se repetiriam nos anos seguintes, ele como presidente do PT no Paraná e vereador (de 1989 a 2002).

Em 2002, disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados e foi eleito. Antes de assumir, foi chamado por Lula, também vitorioso. Em diversas entrevistas, Samek já contou a história, de como Lula o questionou se poderia transformar Itaipu em ferramenta de transformação, e se faria mesmo o que tanto falou ao longo dos anos.

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