Sucessão de Lula pode diminuir pressão sobre peemedebista
De acordo com auxiliares de José Sarney, mesmo enfraquecido, mesmo sendo obrigado a dividir o poder e ciente de que, mesmo que consiga superar a crise não terá mais a força que teve nas duas presidências anteriores (1995 a 1999) , ele não pretende afastar-se ainda da presidência.
Eleito em fevereiro passado para ser uma espécie de superpresidente do Congresso, a reboque da biografia de ex-presidente da República (1985-1989), o senador José Sarney (PMDB-AP) chegou ao fim da semana passada na condição de um chefe com poder pela metade. O sintoma mais claro da desidratação política, mesmo dizendo que não se afastará do cargo, é que o senador já não age como presidente de fato do Senado.
A nomeação do novo diretor-geral, Haroldo Tajra, e da diretora de Recursos Humanos, Doris Marize Peixoto, no início da semana, foi feita pelo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), e não por Sarney, embora essa seja uma das prerrogativas do presidente.
De acordo com um interlocutor de Sarney, no caso da nomeação dos dois diretores da Casa, o presidente optou por uma solução que pode ser interpretada pelo dito popular: "Entregou os anéis para não perder os dedos." Sarney optou também por não mais presidir as sessões de votação, deixando a incumbência para os vices Marconi Perillo (PSDB-GO) e Serys Slhessarenko (PT-MT), além do o próprio Heráclito e de Mão Santa (PMDB-PI).
Ele não tem despachado na residência oficial do presidente do Senado. Preferiu ir para seu bunker particular, uma casa que fica nas proximidades da outra, no Lago Sul, um dos setores nobres de Brasília.
Foi lá que Sarney recebeu Heráclito na quinta-feira e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), na sexta-feira. Sem atividades na residência oficial, o imóvel tem servido de dormitório para os seguranças que o vigiam 24 horas.
Na quinta-feira, ao fazer um discurso no qual pediu o afastamento de Sarney da presidência do Senado, Pedro Simon (PMDB-RS) disse estranhar o fato de o presidente não nomear os dois diretores. Para Simon, essa é uma demonstração de que Sarney já não tem o domínio da situação e está se escudando em outros integrantes da Mesa. "No momento em que ele entrega para o primeiro-secretário a escolha dos nomes de diretor-geral, ele já está mostrando que quer afastar-se", disse o senador gaúcho, avaliando que há uma espécie de intervenção branca sobre o Senado.
No discurso que fez para se defender, no último dia 16, Sarney disse que tinha sido eleito para cuidar do Senado politicamente, não para limpar a sujeira da Casa. Simon o rebateu: "O presidente Sarney é responsável pelo lixo sim. Nós todos somos responsáveis pelo lixo do Senado, principalmente o presidente do Senado. É muito bacana ser presidente do Senado só para fazer política. É bom, é gostoso, é necessário, é importante, mas vamos ver onde é que está o lixo."
Oligarquias
A crise no Senado é um retrato da agonia de velhos conhecidos da política brasileira: as oligarquias estaduais e o coronelismo. A cientista política Argelina Figueiredo, que pesquisa o Legislativo há mais de 15 anos, conclui que, desde a derrocada do falecido senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), passando por Jáder Barbalho (PMDB-PA), Renan Calheiros e José Sarney (PMDB-AP), há evidências de que as oligarquias perderam capacidade de projetar para o plano nacional seu poder nos estados.
"Vejo as crises do Senado como o estertor das oligarquias. O Senado é uma instituição totalmente apoiada no sistema das oligarquias estaduais", afirma a cientista, que é professora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
Argelina frisa que o poder dos ex-presidentes, mesmo depois de renunciar, se mantém, inclusive junto aos governos estaduais, mas mudou um pouco.
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