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A advogada Ana Cláudia Iedowski foi detida pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar na última segunda-feira (7), no bairro Boqueirão, em Curitiba, enquanto tentava defender um cliente que estava sendo preso pelos policiais. Ana Cláudia, que está grávida de sete meses, recebeu voz de prisão, foi levada na viatura até o 8.º Distrito Policial de Curitiba e quase chegou a ser algemada.

Em conversa por telefone com o Justiça & Direito, a advogada relatou que ela e sua sócia foram chamadas para atender seu vizinho, que estava sendo preso por tráfico de drogas. Quando chegou ao local, a apreensão das drogas já havia ocorrido e ela ouviu um policial conversando com o filho do suspeito, uma criança de 11 anos, que estava junto com a babá, sem a presença do Ministério Público ou de um assistente social. Além disso, foi solicitado que a babá assinasse um documento como testemunha. Ana Cláudia disse que ela não deveria assinar sem ler e acabou sendo também convocada pelos policiais para testemunhar.

Capitão do Bope diz que tudo correu dentro da normalidade

O Capitão Machado, que liderou a operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) em que a advogada Ana Cláudia Iedowski acabou sendo detida, diz que a operação “estava transcorrendo na maior tranquilidade” até a prisão da advogada. Ele explica que estava cumprindo um mandado de busca e apreensão, expedido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), quando a profissional, que mora na vizinhaça, chegou e conversou com o suspeito que já estava na viatura.

Após os dois concordarem que ela seria sua representante, a advogada entrou na casa e acompanhou as buscas que estavam sendo feitas. Segundo o capitão, quando a vistoria foi encerrada, a assinatura dos presentes era necessária. “Se ela assinasse como advogada ou como testemunha seria a mesma coisa”, diz Machado.

“Como ela não quis assinar, nem se retirar, o policial deu voz de prisão por desobediência”, explica o líder da operação. “Quando viu que ele deu voz de prisão, a advogada quis sair. Mas aí não tinha como voltar atrás”, completa. O capitão estava na parte externa da casa, mas relata que ouviu os gritos de Ana Cláudia do lado de fora.Segundo ele, a equipe deu um tempo para que ela sentasse no sofá e se acalmasse antes de ser levada à viatura.

“Atentamos a todos os detalhes por ser uma gestante. Usamos de todo o bom trato possível”, diz o capitão.

Sobre o fato de a Polícia Civil não ter aceitado a denúncia por crime de desobediência, nem emitido um termo circunstanciado, Machado disse que cabe à Polícia Militar apresentar os fatos para o delegado, que decide dar prosseguimento ou não.

A operação

Na operação demandada pelo Gaeco foram apreendidos cerca de 60 kg de maconha no carro do suspeito. A advogada Ana Cláudia Iedowski não prossegue na defesa dele.

Algemas

A advogada se recusou a ser testemunha por não ter presenciado a busca desde o início e porque estava no local para exercer sua profissão. Os policiais disseram que, se ela não assinasse, deveria se retirar da casa. Como a profissional se recusou a sair, recebeu voz de prisão por desobediência. Neste momento, o soldado Lisandro Lara de Moraes Júnior trouxe um par de algemas, mas ela se recusou a colocá-las, pois é gestante e não apresentava qualquer ameaça aos cerca de 10 policiais que participavam da operação, liderada pelo Capitão Machado.

Ana Cláudia ressalta a truculência do policial com quem ela mais discutiu: “O sargento Marcus Vinicius dos Santos Coimbra gritava comigo, com o dedo em riste. Ele incorporou o Capitão Nascimento [do filme Tropa de Elite]”. “Me senti uma bandida, comecei a chorar e fiquei nervosa”, disse Ana Cláudia. Segundo ela, diante da sua reação, um dos soldados teria dito: “Pare de ficar fazendo cena só porque você está grávida”.

A advogada conta que, além do constrangimento, ficou preocupada porque, no mesmo condomínio, também mora sua mãe e muitos vizinhos estavam ao lado de fora presenciando a situação. Inclusive seu filho de sete anos assistiu ao momento em que ela foi levada para a viatura.

No 8.º DP, a ocorrência foi atendida pelo delegado José Barreto, da equipe do Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac) que, segundo Ana Cláudia, foi muito atencioso e respeitoso.

De acordo com a assessoria da Polícia Civil, Ana Cláudia foi liberada, pois não cometeu qualquer crime, por isso não houve termo circunstanciado, nem abertura de inquérito.

A advogada afirmou ainda que vai apresentar reclamação à Ouvidoria da PM e que também vai recorrer à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Abuso

Durante a prisão de Ana Cláudia, um membro da Comissão de Prerrogativas da OAB deu assistência à profissional. Além dele, o corregedor geral da Ordem, Andrei Salmazo, acompanhou a situação por telefone.

“Nós ficamos muito assustados com essa situação. A OAB tem certeza de que houve abuso de autoridade”, observa o corregedor.

Segundo Salmazo, a Ordem aguarda a reclamação oficial da profissional para tomar as providências cabíveis. Ainda de acordo com ele, durante a prisão, o comandante geral da PM foi bastante solícito para a resolução do caso e atuou de forma célere.

Advogada grávida é detida pela polícia

Confira a gravação em áudio do momento em que a advogada Ana Cláudia Iedowski recebe voz de prisão da polícia. A gravação foi feita pela profissional, enquanto discutia com os policiais.

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