A quantidade de e-mails já era desanimadora. Parecia que tinha passado uma semana inteira fora! Abro o primeiro, spam. O segundo...meeeu Deeeeus! Enorme. Que preguiça de ler. Por que as pessoas escrevem tanto, num mundo em que todos têm pressa? Quantos romances não poderiam ser transformados num conto? Quantos livros não deveriam ser transformados em artigos?

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Sempre digo aos alunos que um trabalho sobre “Liminares nas ações possessórias” não deve começar com a frase: “o homem é um ser gregário”. Uma frase como esta não gera senão a pergunta: quantas páginas vou ter que pular?

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É incompatível com o ritmo de vida do século XXI a quantidade de palavras que são desperdiçadas todos os dias... Textos que precisam urgentemente de uma lipoaspiração. Feita esta, sobra pouco.

Petições devem ser curtas. Contestações devem ser enxutas, objetivas. Sentenças devem ser densas e claras. Mesmo pareceres devem ser concisos.

Se é pecado venial escrever demais (e uma péssima estratégia, já que se corre o risco de não ser lido!) pecado mortal e “aproveitar” textos de outros contextos, para fazer volume, por que será que ainda há quem pensa que peças maiores infundem mais credibilidade? Adquirem um ar de maior seriedade?

No começo de carreira, uma vez eu mesma ouvi, de um excelente advogado paulista: “quem tem muitos argumentos, usa os melhores; quem não tem nenhum, usa todos”. Desde então, procuro me policiar.

Por outro lado, por que falar tanto? Sempre achei que as palmas, numa palestra, são, pelo menos em parte, manifestações de alegria por a palestra ter acabado. Mais de quarenta minutos, não dá.

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Eu assisti, neste ano de 2015, a um discurso de despedida de um senador, das 14h às 19h30. Isso mesmo. Cinco horas e meia de discurso. Para quem ele falou? Para duas pessoas. As outras (poucas) conversavam entre si ou se distraíam no celular. Por favor, me digam se isto tem algum sentido.

Quando se escreve um texto excessivamente longo ou quando se fala demais, simplesmente não se é lido nem ouvido. As ideias principais ficam diluídas, perdem-se.

Os textos jurídicos nem sempre podem ser tão sucintos. Como as verdades jurídicas em larga medida são fruto de um “consenso” na comunidade jurídica, não basta, para nós, um texto com boas ideias. Explico: Há verdades descobertas – que são as científicas; reveladas – que são as religiosas; e convencionadas – que, em larga escala, são as jurídicas.

Portanto, a argumentação jurídica, além de dever ser estruturalmente racional e estrategicamente convincente, deve ter “apoios”: fulano também pensa assim, no direito alemão se diz isso, tal dispositivo legal permite esta interpretação. Mas é isso. E só isso.

Nada de 40 páginas para uma inicial, 70 para um artigo ou 200 para um parecer.

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O risco de não ser lido é grande. E de ficar parecendo que não se tem razão, maior ainda.