Repousava desde dezembro na mesa do ministro Teori Zavascki o pedido de afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. De lá para cá, por incontáveis vezes, Cunha usou explicitamente seu cargo em benefício próprio ou para atacar inimigos. Por que então só agora foi afastado por Teori?
Não há dúvida de que o ministro e seus pares fizeram de tudo para não influenciar o processo de impeachment na Câmara. Quando Dilma e o PT elegeram, não por acaso, Cunha o inimigo número um na batalha contra o afastamento, punir o peemedebista seria, por tabela, meter a colher no processo, essencialmente político.
O STF fez as contas. Concentrou-se em estabelecer as regras do jogo e deixou a bola rolar - até por isso são remotas as chances de Dilma reverter no próprio Tribunal a decisão dos deputados. Além do que, como se sabe, o impeachment é mais complexo do que a briga Dilma x Cunha.
Com o processo superado na Câmara, era a hora de agir. Foram dois movimentos simultâneos: o afastamento cautelar ordenado por Teori e o julgamento marcado para esta quinta-feira, no plenário, que analisará pedido semelhante, feito pela Rede - este com a possibilidade de impedir qualquer chance de Cunha ser presidente da República na ausência de Temer por dois minutos que seja.
Desde que eclodiu a crise política, o STF pisa em ovos e tenta aparecer o menos possível em momentos cruciais. É da natureza da Corte Suprema, mas nem sempre isso é possível. Isoladamente, ministros são atores políticos quando se manifestam abertamente sobre questões nevrálgicas ou quando se omitem em temas fundamentais.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”