O laudo oficial dos exames de toxicologia e anatomia patológica que identificarão a causa da morte do empresário e ex-deputado Sérgio Naya, enterrado no sábdo (21), deve ser concluído em dez dias, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Segundo o médio legista que fez a necrópsia do corpo, Sérgio Naya foi vítima de um infarto agudo do miocardio.
De acordo com nota oficial divulgada neste domingo (22), os médicos Jorge Viana e Aldemir Almeida, os primeiros a chegarem ao quarto em que se encontrava Naya, serão interrogados amanhã (22). Segundo a SSP-BA, sem notificar a polícia, eles levaram o corpo a uma funerária onde realizaram necropsia.
Interrogatórios
A delegada titular da Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur) de Ilhéus, Adriana Paternostro Neto, pretende interrogar todas as pessoas que mantiveram contato com o empresário no período em que esteve em Ilhéus. Ela já ouviu funcionários do hotel e o motorista de Naya. O empresário tratava de assuntos relacionados à construção de um shopping na cidade.
Sérgio Naya foi encontrado morto na tarde da última sexta-feira (20) no quarto do hotel em que estava hospedado em Ilhéus desde o dia 13. Naya era proprietário da Sersan, empresa responsável pela construção do edifício Palace II, no Rio, que desabou em 1998 e provocou as mortes de oito pessoas e deixou 120 famílias desabrigadas.
Sersan e Palace II
O empresário era dono da empresa Sersan (Sociedade de Terraplanagem Construção Civil e Agropecuária), responsável pela construção do edifício Palace II, no Rio de Janeiro.
O desabamento do Palace II completa 11 anos neste domingo. O edifício caiu em 22 de fevereiro de 1998. Oito pessoas morreram. Cento e vinte famílias ficaram desabrigadas e perderam tudo.
O laudo técnico apontou que houve erro de cálculo na obra do prédio. No processo cível, Naya foi condenado a pagar R$ 60 milhões de indenização para as vítimas.
O advogado das vítimas disse que, mesmo com a morte de Naya, nada muda em relação à necessidade de pagamento das indenizações.
Investigações indicaram que um dos pilares do edifício estava danificado, outros dois precisavam de reforço e que a obra tinha sido feita com material reaproveitado e de baixa qualidade.
Sérgio Naya chegou a passar 106 dias preso, acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos públicos. Por causa do desabamento, foram mais 27 dias de prisão, mas o ex-deputado foi considerado inocente do desabamento do prédio.
Naya teve todos os seus bens bloqueados e alguns leiloados. No entanto, a quantia referente às vendas só foi suficiente para pagar, em parcelas espaçadas, 15% do valor das indenizações estipuladas pela Justiça.
Em fevereiro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Federal o empresário Sérgio Naya pelo crime de fraude de execução fiscal.
Carreira parlamentar
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Sérgio Naya foi deputado federal por Minas Gerais em três legislaturas e foi filiado a três partidos: PMDB, PP e PPB.
Naya chegou à Câmara dos Deputados como suplente, exercendo o mandato em três oportunidades até ser efetivado em maio de 1989, na vaga do deputado Márcio Bouchardet.
Em 1990, elegeu-se deputado federal pelo PMDB, sendo reeleito em 1995, desta vez pelo PP.
Recebeu, durante a atuação parlamentar, diversas condecorações, como o Mérito Alvorada, do governo do Distrito Federal, a Medalha de Honra da Inconfidência, do governo do estado de Minas Gerais e a Ordem do Mérito Legislativo, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Cassado
Após o desabamento do Palace II, em 22 de fevereiro de 1998, o então deputado teve o mandato cassado e as contas bancárias bloqueadas pela Justiça. No entanto, foi absolvido em processo judicial que o apontava como réu por crime de responsabilidade no desabamento do edifício.
Naya foi cassado por quebra do decoro parlamentar no dia 15 de abril de 1998. O placar da votação, secreta, foi de 277 votos pela cassação, apenas 20 além dos 257 necessários, e 163 contra, com 21 abstenções e dez votos em branco.
O empresário abandonou a vida política e chegou a ser condenado a dois anos e oito meses de prisão em regime semiaberto, pena convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.
O empresário e ex-deputado chegou a ser detido duas vezes. Em 1999, ficou 26 dias na Polinter, no Rio, após ser preso em Brasília. Em 2004, voltou a ser preso em Porto Alegre, quando tentava fugir para Montevidéu, e ficou preso por quatro meses.
A defesa de Sérgio Naya argumentou que ele não era responsável pela construção e execução do prédio.